O que os processos contra ex-advogado e ex-chefe de campanha de Trump podem significar para presidente dos EUA
O presidente americano já sobreviveu a muitas acusações, mas investigações que podem comprometê-lo seriamente conquistaram importantes avanços na Justiça.
Os dramas jurídicos desta terça, 21, nos Estados Unidos, em Nova York e Virgínia são do tipo capaz de abalar ou mesmo derrubar presidentes.
Em Nova York, Michael Cohen, ex-advogado de Donald Trump, se declarou culpado de violar leis eleitorais quando trabalhava para atual presidente americano. Cohen disse que, por ordens do então candidato republicano, fez pagamentos a duas mulheres durante a campanha presidencial, para que elas não viessem a público dizer que tiveram relações sexuais com Trump.
O advogado de Cohen afirmou que seu cliente também está disposto a participar da investigação sobre a suspeita de conluio entre a campanha do republicano e a Rússia na eleição de 2016.
E numa corte da Virgínia, o júri considerou Paul Manafort, ex-coordenador de campanha do presidente, culpado de fraude fiscal e bancária. As acusações envolvem contas externas não declaradas e pagamentos a Monfort por políticos ucranianos pró-Rússia. As violações teriam ocorrido antes dele ser contratado pelo republicano. Trump disse que seu ex-assessor é um "homem bom" que está sendo vítima de uma "caça às bruxas".
Mas será que esses dois casos farão mesmo alguma diferença? O presidente, ao menos para a sua base, aparenta ser à prova de balas. Mas à prova de balas agora não significa que o será para sempre. Em algum momento - talvez depois das chamadas eleições de meio de mandato, quando são eleitos todos os deputados da Câmara dos Representantes e um terço do Senado - as balas poderão atingi-lo.
Entenda o quão ruim foi o dia do presidente americano:
Seu ex-advogado envolveu Trump em confissões de conduta criminosa
Cohen disse que o presidente, chamado de "indivíduo 1" no acordo que fechou com a Justiça, mandou ele fazer pagamentos fora do país, em 2016, para garantir o silêncio das mulheres que acusavam Trump de ter casos adúlteros com elas. Dessa forma, ele efetivamente afirmou que Trump cometeu um crime.
Trump, no passado, negou ter conhecimento sobre os pagamentos. Sua defesa voltou atrás e assegurou que ele só tinha "conhecimentos gerais" sobre o fato. Agora, no entanto, Cohen está dizendo que Trump sabia disso desde o começo.
E não é só a palavra de Cohen contra a de Trump. No caso do pagamento a Karen MacDougal - "mulher 1" - seu advogado já divulgou um áudio que mostra Cohen e o então candidato Trump discutindo o tema.
A "mulher 2", a atriz de filmes com conteúdo adulto Stormy Daniels, pode retomar agora seu processo contra Trump saindo do termo de confidencialidade mediado por Cohen. Um juiz disse que isso dependia da investigação criminal de Cohen, que agora parece ter sido resolvida. O processo pode resultar em mais evidências do envolvimento de Trump no pagamento ilegal de US$ 130 mil (R$ 520 mil reais) que Cohen confessou ter feito a ela antes das eleições de 2016.
Procurador especial conquista condenação importante
O procurador especial Robert Mueller, que integra o Conselho Especial que investiga se Trump teria recebido ajuda do governo da Rússia para vencer a eleição presidencial de 2016, estava sob pressão para conseguir uma condenação na denúncia contra Paul Manafort, ex-chefe da campanha do atual presidente.
As acusações não eram relacionadas à investigação da possível interferência russa, mas foi a primeira vez que sua equipe enfrentou o júri.
Se não tivesse havido condenação, defensores de Trump poderiam se regozijar dizendo que a investigação toda havia sido um gasto desnecessário de recursos.
O júri condenou Manafort em oito acusações de fraude de um total de 18 - o grupo não conseguiu chegar a um veredito nas restantes.
Foi uma vitória importante de Mueller, que também já conseguiu indiciar empresas e indivíduos russos e fechar acordos de confissão com vários membros importantes da campanha de Trump.
Aumenta a pressão sobre Manafort
Depois que os vereditos foram anunciados, o advogado de Manafort disse à imprensa que seu cliente estava "desapontado". Com as condenações, o ex-chefe da campanha presidencial de Trump corre o risco de ser sentenciado a até 80 anos de prisão.
Manafort enfrentará um segundo julgamento em Washington no mês que vem por lavagem de dinheiro e conspiração de fraude, entre outros.
Os advogados de Manafort insistiram em dois julgamentos separados, talvez porque apostavam que seu cliente encontraria mais simpatia entre jurados e juízes da Virginia.
Manafort talvez espere por um perdão presidencial, já que Trump disse que a acusação contra ele tinha motivações políticas e que ele era um "bom homem". Mas o presidente só pode perdoar crimes federais, e a condenação por fraude fiscal abre possibilidades de denúncias em níveis estaduais - que Trump não pode perdoar.
Agora, Manafort, que tem 69 anos, enfrentará uma longa pena. Ele ainda não mostrou intenções de cooperar com a investigação, mas isso pode mudar.
Manafort esteve na reunião organizada por Donald Trump Jr., filho de Trump, com cidadãos russos, em junho de 2016, supostamente marcada para discutir informações que poderiam comprometer Hillary Clinton, rival de Trump naquelas eleições. Ele fez anotações da reunião difíceis de decifrar - e talvez queira explicá-las para o procurador especial em troca de uma diminuição de sua pena.
Não é boa notícia para Trump ter um ex-chefe de sua campanha condenado. Se Manafort resolver falar e passar para o outro lado, a situação pode piorar ainda mais para o presidente.
Ex-assessor de Segurança Nacional ainda pode estar cooperando
E houve mais notícias de peso na terça: o procurador especial pediu para adiar a audiência do ex-assessor de Segurança Nacional Michael Flynn. "Por causa do status dessa investigação, a equipe do procurador especial não acredita que seja possível promover uma audiência neste momento", disseram os advogados de Mueller.
Isso pode ser um indício de que Flynn, que já admitiu ter mentido ao FBI sobre seus contatos com autoridades russas durante a transição de Trump à Presidência, ainda está cooperando com Mueller e que pode ser útil para a investigação. Também pode ser um indício de que uma audiência formal poderia revelar algo que Mueller quer que permaneça segredo por enquanto.
De qualquer forma, é um sinal de que, nos bastidores, as engrenagens ainda estão girando.
Outro apoiador de Trump foi denunciado
Há duas semanas, Chris Collins, congressista republicano de Nova York, o primeiro deputado a apoiar publicamente a candidatura de Trump à Presidência, foi indiciado por utilização de informação privilegiada. Na terça, Duncan Hunter, o segundo congressista a apoiar Trump, foi acusado de usar fundos de campanha para gastos pessoais, inclusive viagens de família para o Havaí e a Itália.
Mais cedo, no mesmo dia, a senadora democrata Elizabeth Warren apresentou um programa com medidas de reforma que ela disse serem necessárias para solucionar a corrupção política em Washington. Coisas como a proibição do lobby por ex-autoridades governamentais, a proibição de que membros do Congresso e da Casa Branca tenham ações corporativas e a exigência de que todos os candidatos à Presidência e vice-presidência divulguem pelo menos oito anos de sua declaração de imposto de renda.
Chamados como esse, para consertar um sistema político quebrado, ajudaram os democratas a subir ao poder no Congresso em 2006. O mesmo aconteceu com os republicanos em 1994.
Depois das condenações e denúncias de terça-feira, as propostas de Warren podem ser uma arma potente para os democratas nas chamadas eleições de meio de mandato em novembro, se souberem como usá-la.