O que se sabe sobre ataque de Israel a escola da ONU que matou dezenas
Ataque aéreo teria matado pelo menos 35 pessoas em escola que servia de abrigo para desalojados palestinos nesta quinta-feira.
Um ataque aéreo israelense contra uma escola da Organização das Nações Unidas (ONU) que abrigava centenas de palestinos desalojados no centro de Gaza teria matado pelo menos 35 pessoas nesta quinta-feira (6/6).
Jornalistas locais disseram à BBC que um avião de guerra disparou dois mísseis nas salas de aula do último andar da escola, localizada no acampamento de refugiados de Nuseirat. Vídeos mostraram a destruição e vários corpos.
Os militares de Israel disseram ter "conduzido um ataque preciso a um complexo do Hamas" na escola — e matado vários dos 20 a 30 combatentes que acreditavam estar lá dentro.
O Gabinete de Comunicação do governo de Gaza, administrado pelo Hamas, negou a alegação, e acusou Israel de realizar um "massacre terrível".
O chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), que administra a escola, descreveu o incidente como "horrível", e afirmou que a alegação de que grupos armados poderiam ter estado dentro de um abrigo era "chocante".
As pessoas mortas e feridas foram levadas às pressas para o Hospital dos Mártires de al-Aqsa, na cidade vizinha de Deir al-Balah, que está sobrecarregado desde que os militares israelenses iniciaram uma nova operação terrestre contra o Hamas no centro de Gaza nesta semana.
As circunstâncias do ataque em Nuseirat ainda não estão claras, e a BBC está trabalhando para verificar as informações que chegam.
Jornalistas locais e moradores afirmaram que o incidente ocorreu nas primeiras horas desta quinta-feira na escola al-Sardi, localizada em uma área densamente povoada do acampamento existente há décadas.
A escola estava lotada com centenas de pessoas desalojadas que haviam fugido dos combates em outras partes de Gaza, segundo os moradores. Muitas escolas e outras instalações da ONU foram utilizadas como abrigo por 1,7 milhão de pessoas que fugiram das suas casas durante a guerra, que já dura quase oito meses.
"Ouvi cinco mísseis atingindo a escola. Saí correndo, e vi o fogo queimando em três salas de aula", contou Maha Issa, que disse estar abrigada na escola com a família, à agência de notícias Associated Press.
"Meu pai foi atingido diretamente pelo míssil, e meu tio e meus dois primos foram martirizados."
Vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram a destruição de várias salas de aula da escola, assim como corpos envoltos em mortalhas e cobertores brancos.
"Chega de guerra! Fomos desalojados dezenas de vezes. Mataram nossos filhos enquanto estavam dormindo", gritou uma mulher ferida no ataque em um vídeo.
Os moradores disseram inicialmente que mais de 20 pessoas foram mortas no ataque.
Mais tarde, um funcionário do hospital de al-Aqsa informou a um jornalista freelancer que trabalha para a BBC que havia recebido 40 corpos da escola.
A porta-voz da UNRWA, Juliette Touma, também afirmou à agência de notícias Reuters que o número de mortes registrado estava entre 35 e 45. Mas ela acrescentou que não tinha como confirmar o número neste momento.
O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, disse em comunicado que 40 pessoas foram mortas, incluindo 14 crianças e nove mulheres, e outras 74 ficaram feridas. O mesmo número de mortos foi apresentado pelo diretor do Gabinete de Comunicação do governo, administrado pelo Hamas, Ismail al-Thawabta.
O comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, afirmou em postagem no X (antigo Twitter) que pelo menos 35 pessoas morreram e muito mais ficaram feridas.
Em comunicado, as Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram que os caças conduziram um "ataque preciso a um complexo do Hamas incorporado a uma escola da UNRWA na região de Nuseirat".
Uma fotografia aérea com anotações destacava cômodos nos dois últimos andares do prédio, que as FDI informaram ser os "locais dos terroristas".
As FDI afirmaram que membros do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina que participaram do ataque de 7 de outubro no sul de Israel, no qual cerca de 1,2 mil pessoas morreram e outras 251 foram feitas reféns, vinham operando no prédio.
"Antes do ataque, foram tomadas várias medidas para reduzir o risco de ferir civis sem envolvimento durante o ataque, incluindo a realização de vigilância aérea e informações adicionais de inteligência", eles acrescentaram.
Mais tarde, o porta-voz das FDI, tenente-coronel Peter Lerner, disse aos jornalistas que entre 20 e 30 combatentes vinham usando a escola para planejar e conduzir ataques, e que muitos deles foram mortos na ofensiva.
Ele também disse que não tinha conhecimento de quaisquer vítimas civis, e questionou os números divulgados pelas autoridades dirigidas pelo Hamas.
Thawabta rejeitou as alegações das FDI, dizendo: "A ocupação costuma mentir para a opinião pública por meio de histórias falsas fabricadas para justificar o crime brutal que conduziu contra dezenas de pessoas desalojadas".
O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, afirmou que a escola foi atingida "sem aviso prévio" à sua agência ou às 6 mil pessoas desalojadas que estavam ali abrigadas.
"As alegações de que grupos armados podem ter estado dentro do abrigo são chocantes. No entanto, não somos capazes de verificar essas afirmações", acrescentou.
"Atacar, ter como alvo ou utilizar edifícios da ONU para fins militares é um desrespeito flagrante ao direito humanitário internacional. Os funcionários, as instalações e as operações da ONU devem ser protegidos em todos os momentos."
Lazzarini afirmou ainda que mais de 180 prédios da UNRWA haviam sido atingidos desde o início da guerra, apesar de suas coordenadas terem sido compartilhadas com as partes do conflito, e que mais de 450 pessoas desalojadas foram mortas como resultado.
"Isso precisa parar, e todos os responsáveis devem ser responsabilizados", afirmou.
Pelo menos 36.580 pessoas foram mortas em Gaza desde que Israel lançou uma campanha militar em resposta ao ataque de 7 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas. Estes números não diferenciam entre civis e combatentes.
Na quarta-feira, os militares israelenses afirmaram que haviam assumido o "controle operacional" das áreas a leste do acampamento de refugiados de Bureij — que fica a oeste de Nuseirat — e a leste de Deir al-Balah.
Os moradores relataram bombardeios intensos, e a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse que pelo menos 70 corpos — a maioria de mulheres e crianças — foram levados ao hospital de al-Aqsa nas últimas 24 horas.