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O temor internacional de que o 'barril de pólvora' exploda no Oriente Médio

O conflito entre Hamas e Israel pode se alastrar e se transformar numa guerra de grande escala, envolvendo outros países e grupos armados

25 out 2023 - 17h28
(atualizado às 18h06)
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Palestinos no sul da Faixa de Gaza, em meio à destruição provocada pelos bombardeios israelenses
Palestinos no sul da Faixa de Gaza, em meio à destruição provocada pelos bombardeios israelenses
Foto: DW / Deutsche Welle

O conflito entre Hamas e Israel pode se alastrar e se transformar numa guerra regional de grande escala, envolvendo outros países e grupos armados. Até que ponto governos ocidentais poderão evitar que isso aconteça? Este é o cenário de horror que ninguém quer ver acontecer: uma ação militar israelense com tropas terrestres na Faixa de Gaza gera uma reação em cadeia de agitação e violência na região. À medida que ela avança, cada vez mais grupos e Estados são arrastados para uma espiral de violência, possivelmente até Estados Unidos e Rússia.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que a planejada ofensiva terrestre pode durar vários meses. "E no final não haverá mais Hamas."

As forças israelenses estão respondendo ao ataque brutal do grupo fundamentalista islâmico Hamas contra Israel em 7 de outubro, que deixou ao menos 1.400 mortos, 5.400 feridos, além de mais de 200 reféns. A ofensiva de retaliação isralense, por sua vez, já matou mais de 6.500 pessoas e feriu 17.400 em Gaza, segundo autoridades locais.

Em termos puramente militares, a campanha de Israel contra o Hamas pode ser bem-sucedida, acredita o especialista em Oriente Médio Guido Steinberg, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), de Berlim. "Acredito que os militares israelenses são capazes de destruir as estruturas do Hamas na Faixa de Gaza", afirmou em entrevista à DW TV, ponderando que, em qualquer caso, muitos civis morreriam, independentemente do cuidado com que os militares israelenses atuarem.

Mortes de civis como possível gatilho

Provavelmente, esse é exatamente o cálculo do Hamas, analisa Hans-Jakob Schindler, da organização internacional Counter Extremism Project. "O Hamas está interessado em produzir imagens terríveis de civis palestinos mortos e, assim, arrastar o Irã e seus representantes para este conflito", diz Schindler à DW. Os representantes, no caso, são grupos armados apoiados pelo Irã que atuam em outros países da região, como é o caso do Hisbolá no Líbano.

O Hisbolá já ataca frequentemente Israel com foguetes, mas tem evitado uma grande ofensiva.

Schindler diz que uma invasão terrestre israelense a Gaza não é algo certo. Mas, se houver uma escalada regional, "o Hisbolá seria o primeiro a bombardear massivamente o norte de Israel". Na visão do especialista, uma segunda fase incluiria ataques também na Síria, contra posições americanas no país. "O terceiro estágio provavelmente seria o das milícias xiitas no Iraque, que atacariam alvos americanos ou até mesmo ocidentais", prevê.

Israel não deve se deixar levar pela raiva, diz Biden

Tal reação em cadeia nem deveria começar. Para isso, o presidente dos EUA, Joe Biden, fez duas coisas: enviou dois porta-aviões ao Mediterrâneo Oriental como um aviso ao Hisbolá e ao Irã; e também fez um apelo por moderação na Faixa de Gaza, apesar de toda sua compreensão pelo direito de defesa de Israel. O presidente americano alertou em Tel Aviv que Israel não deveria se deixar levar pela raiva e repetir os "erros" dos EUA após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

Agora é uma questão de "mostrar ao Irã e a seus representantes que uma escalada da situação certamente levaria a um enfraquecimento significativo de suas estruturas", diz Schindler. Além disso, a comunidade internacional, segundo ele, deve se concentrar nos esforços pela melhoria da situação humanitária dos civis na Faixa de Gaza para que esse conflito não afete "as pessoas erradas".

Em telefonema com os líderes de Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, Biden se assegurou que há consenso no apoio a Israel e no respeito ao direito de autodefesa do país. Ao mesmo tempo, eles exigiram respeito pelo direito humanitário internacional, o que significa que Israel deve poupar a população civil palestina.

EUA são considerados partidários

"Se não fizermos isso, quem o fará?", disse Biden no início de sua missão de mediação, reafirmando assim a pretensão de seu país de ser a potência que levará ordem ao Oriente Médio. Um problema para os EUA é que o país é visto em grande parte da região como tendencioso a favor de Israel.

Isso ficou claro após a explosão ocorrida em um hospital em Gaza que provocou inúmeras mortes. Enquanto o Hamas culpou Israel, Biden apoiou a versão israelense de que a explosão foi causada por um foguete da Jihad Islâmica que errou o alvo e atingiu o hospital. Como resultado, o presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sisi, o rei da Jordânia, Abdullah 2°, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, cancelaram uma reunião planejada com Biden.

A reputação de Washington como aliado mais próximo de Israel deixa espaço para outros mediadores, como a Alemanha. Enquanto a reunião com Biden era cancelada, Sisi aparecia no Cairo, de forma demonstrativa, junto ao chanceler federal alemão, Olaf Scholz. No dia anterior, o rei da Jordânia esteve em Berlim. O líder alemão foi o único que apareceu com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o rei Abdullah e Sisi no período de dois dias.

Se por um lado o governo alemão se posicionou de forma inequívoca ao lado de Israel, por outro Berlim é frequentemente vista na região como um parceiro neutro. Isso deveria ser "usado para permitir um desenvolvimento mais pacífico do que o que está agora emergindo", disse Scholz no Cairo.

Por enquanto, a Alemanha está focada em tornar possível diplomaticamente o fornecimento de ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Essa é "uma das melhores contribuições que a Alemanha pode dar", diz Hans-Jakob Schindler, acrescentando que o país pouco poderia fazer militarmente, além de apoiar Israel com suprimentos.

Os interesses dúbios da Rússia

E se houver mesmo uma grande escalada? Poderia até a Rússia, com seus bons contatos em Teerã e Damasco, ser atraída para o conflito? Schindler acha improvável.

O conflito no Oriente Médio é conveniente para a Rússia porque desvia a atenção da guerra na Ucrânia. Moscou está, portanto, interessada em estendê-lo o máximo possível e, assim, manter o Ocidente ocupado.

Por outro lado, entretanto, o presidente Vladimir Putin não deseja que o conflito se escale tanto, "para não se sentir forçado a usar no Oriente Médio recursos que já lhe faltam na Ucrânia".

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