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Oceania

Prostitutas na Austrália mostram 'outra face' da profissão

Jovens declararam sua profissão abertamente nas redes sociais para desmistificar noções idealizadas sobre elas

3 abr 2015 - 11h47
(atualizado às 16h05)
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Tilly Lawless criticou 'generalização de profissionais do sexo'
Tilly Lawless criticou 'generalização de profissionais do sexo'
Foto: BBC Brasil / Reprodução

Jovens garotas de programa na Austrália estão perdendo a inibição e declarando abertamente sua profissão nas redes sociais, na tentativa de desmistificar noções preconcebidas sobre elas.

"Estudante universitária. Aspirante a advogada. Ativista. Filha, irmã, profissional do sexo. Não preciso ser resgatada."

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Comentários assim estão sendo postados por centenas de prostitutas australianas a respeito de si mesmas, usando a hashtag #facesofprostitution (rostos da prostituição, em português).

Prostitutas se unem contra o fechamento de bordéis na Ásia:

A iniciativa começou no domingo, no Instagram, pela estudante de história e garota de programa Tilly Lawless, de 21 anos. Era uma resposta a um texto em um blog, republicado na semana passada pela popular revista feminina online Mamamia.

O blog foi escrito para marcar o 25º aniversário do filme Uma Linda Mulher (em que a prostituta interpretada por Julia Roberts e seu "príncipe encantado" se apaixonam) e argumentava que a realidade de profissionais do sexo é muito mais dura do que a apresentada no cinema.

Escolha

Tilly Lawless criticou a forma como o texto "generalizava os profissionais do sexo" e "retratava toda a prostituição como danosa". Ela trabalha como garota de programa há dois anos, mas apenas começou a se identificar publicamente como tal dois meses atrás em Sydney, onde a prostituição é legalizada.

Muitas garotas de programa se assumiram publicamente como tal pela primeira vez
Muitas garotas de programa se assumiram publicamente como tal pela primeira vez
Foto: BBC Brasil / Reprodução

Ela decidiu postar uma foto de si própria em sua conta no Instagram para mostrar uma outra face da prostituição - a de uma jovem que diz ter feito uma escolha informada para se tornar uma profissional do sexo - como um protesto contra o blog.

Pouco depois, Tilly foi contactada pela Associação Australiana de Profissionais do Sexo, que perguntou se ela poderia postar a hashtag também no Twitter. E daí o movimento começou: centenas de jovens (em sua maioria mulheres e australianas) prostitutas postaram imagens mostrando seus rostos ao mundo.

Para muitas delas, era a primeira vez que se assumiam publicamente, nas redes sociais, como prostitutas.

"Fiquei positivamente surpresa", disse Lawless à BBC, porque profissionais do sexo "raramente são humanizados como indivíduos; com frequência falam de nossos corpos, mas colocar nossos rostos nas redes sociais é algo tão poderoso".

Muitos dos que aderiram à iniciativa compartilharam as críticas ao blog australiano.

A prostituta Holly queixou-se que a foto usada no artigo - mostrando prostitutas vítimas de tráfico humano no Leste Europeu - não representa "a nossa experiência".

Holly diz que tráfico sexual não representa a sua realidade
Holly diz que tráfico sexual não representa a sua realidade
Foto: BBC Brasil / Reprodução

"O artigo era ofensivo", agrega a prostituta e atriz Madison Missina. "(O texto) usa o argumento do tráfico sexual para silenciar nossa voz e, ao mesmo tempo, silenciar a voz também das vítimas do tráfico."

O texto sobre Uma Linda Mulher foi publicado originalmente no site de um grupo cristão baseado no Missouri (EUA), Exodus Cry, que se diz comprometido com "a abolição da escravidão sexual". A autora do artigo, Laila Mickelwait, argumenta que o filme atraiu muitas jovens à prostituição, submetendo-as a uma vida de abusos e traumas.

Mickelwait disse à BBC que, apesar da campanha online das prostitutas, mantém o que escreveu. Ela argumenta que a legalização da prostituição cria um ambiente favorável ao tráfico sexual.

"Só porque há algumas mulheres e homens postando fotos no Twitter dizendo que este é um emprego fortalecedor não significa que isso seja verdade (em toda) a indústria", diz ela. "Eles têm uma voz, mas são a voz de uma pequena minoria que tem o privilégio de ter acesso ao Twitter e poder postar esse tipo de foto."

Tilly Lawless declarou que continua irritada com esses argumentos, que, na opinião dela, "permitem que sejamos oprimidas de formas semelhantes às de mulheres traficadas, suprimem nossa independência e autonomia e tira nossos direitos".

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