ONU fala em 'possíveis crimes de guerra' em Bucha
Cidade ucraniana foi retomada no fim da semana passada
A alta comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse nesta segunda-feira (4) que há sinais de "possíveis crimes de guerra" em Bucha, cidade ucraniana recém-libertada das tropas da Rússia.
Situado nos arredores da capital Kiev, o município esteve sob domínio dos russos até a última sexta-feira (1º), quando as forças da Ucrânia reassumiram seu controle. Desde então, surgiram diversos indícios de massacres contra a população civil em Bucha, incluindo corpos largados pelas ruas e valas comuns para sepultar os mortos.
"Os relatos que surgem dessa e de outras áreas levantam sérios e inquietantes questionamentos sobre possíveis crimes de guerra, graves violações do direito internacional humanitário e sérias violações da legislação internacional sobre direitos humanos", afirmou Bachelet em um comunicado publicado no site da agência da ONU para Direitos Humanos.
A chilena ainda disse ter ficado "horrorizada com as imagens de civis que jazem nas ruas e em sepulturas improvisadas em Bucha".
"É vital que sejam feitos todos os esforços para garantir investigações independentes e eficazes sobre o que aconteceu em Bucha, para assegurar verdade, justiça e responsabilização, bem como reparação para as vítimas e suas famílias", acrescentou.
Bachelet também defendeu que "todos os corpos sejam exumados e identificados" e tenham a "exata causa da morte determinada".
Já o mandatário do Parlamento ucraniano, Ruslan Stefanchuk, definiu o massacre de civis em Bucha como "o Holocausto do novo milênio", enquanto o presidente Volodymyr Zelensky visitou um hospital na cidade nesta segunda-feira.
"Desde 10 de março, chegam corpos todos os dias. Já contei 68, entre mulheres, homens e crianças, muitos dos quais não são reconhecíveis por causa dos golpes contra seus corpos martirizados", disse à ANSA Andryi Galavin, padre de uma igreja ortodoxa em Bucha. "Os parentes das vítimas podem vir só agora porque antes os soldados russos não deixavam", acrescentou.
Uma testemunha identificada apenas como Alina também contou à ANSA que, durante a ocupação russa, os militares invasores pegaram mulheres como escravas e as levaram para seu quartel-general. "Elas tinham de cozinhar e fazer tudo aquilo que eles mandavam", relatou.
Além disso, segundo a agência ucraniana Unian, o Exército encontrou uma "câmara de tortura" usada pelos soldados russos, com os cadáveres de cinco civis curvados para a frente e as mãos amarradas nas costas.
Reações
Na próxima quarta-feira (6), os embaixadores dos 27 Estados-membros da União Europeia em Bruxelas devem se reunir para discutir uma nova rodada de sanções contra o regime de Vladimir Putin.
"A União Europeia condena com máxima firmeza as atrocidades denunciadas em uma série de cidades ucranianas que foram libertadas. A UE continuará apoiando a Ucrânia e avançará com urgência na elaboração de novas sanções contra a Rússia", afirmou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, por meio de uma nota.
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que há "indícios muito claros de crimes de guerra" em Bucha e cobrou que os responsáveis respondam pelas atrocidades. "Não haverá paz sem justiça", declarou.
Já a Polônia defendeu a criação de uma comissão internacional para investigar um suposto "genocídio" cometido pelas tropas de Moscou. A Ucrânia inclusive divulgou uma lista de 87 páginas com os nomes de 1,6 mil soldados russos supostamente envolvidos em crimes em Bucha.
Rússia
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rechaçou as acusações "categoricamente" e afirmou que "especialistas" do Ministério da Defesa encontraram sinais de "manipulação dos vídeos" divulgados pela Ucrânia.
Já o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, denunciou uma suposta "encenação do Ocidente" e do governo ucraniano nas redes sociais. Moscou também acusa Kiev de querer "interromper as conversas de paz e intensificar a violência".