ONU: 'Há mais pessoas com celular que com banheiro no mundo'
Dia Mundial do Banheiro, adotado pela ONU, gera mobilização online para chamar atenção para 2,5 bilhões de pessoas sem condições sanitárias adequadas
Na manhã de hoje, depois de acordar, você possivelmente lavou o rosto, as mãos, usou a descarga, tomou banho. Uma em cada três pessoas em todo mundo não tiveram a mesma chance.
Nesta quarta-feira, 19 de novembro, é celebrado o Dia Mundial do Banheiro. A efeméride de nome estranho ecoa um tema sério: 2,5 bilhões de pessoas no mundo vivem sem condições sanitárias adequadas - incluindo banheiros -, segundo as Nações Unidas.
"O World Toilet Day (Dia International do Banheiro) é um dia para agir. É um dia de concientização sobre todos aqueles que não têm acesso a banheiros - apesar do direito humano a água e saneamento", diz a ONU.
As redes sociais têm sido o principal instrumento para tanto: por meio de hashtags e trocadilhos como #wecantwait ("não podemos esperar"), #itsnojoke ("não é brincadeira") e #urgentrun ("corrida urgente"), ONGs e fundações do mundo inteiro chamam atenção a dimensão da crise sanitária - há atualmente mais pessoas com celulares do que com banheiros.
Além dos problemas relacionados à higiene, segundo a organização, a carência de banheiros eleva os riscos de estupros a mulheres e meninas, uma vez que não há privacidade.
Histórias
O problema é tema de uma grande exposição que mostra mulheres e meninas em seus banheiros ao redor do planeta marca o 19 de novembro.
O trabalho, conduzido por fotógrafos de Panos Pictures , mostra histórias como a de Sukurbanu, de 65 anos, moradora de uma favela em Dacar, capital do Bangladesh.
Desde pequena, ela usa como banheiro uma plataforma sobre uma palafita erguida um rio poluído. Ela conta que recentemente se desequilibrou e caiu na água. Sukurbanu mora com três filhas e diz que sofre de doenças e acredita que elas são causadas pelo falta de estrutura apropriada.
O projeto também mostra a realidade em que vive a Ima, de 47 anos, funcionária de um banheiro público em Kumasi, no Gana.
Ela vive em um quarto alugado com o marido e quatro filhos. Após passar todo o dia trabalhando no sanitário público, ela volta para casa - onde não existe banheiro. À noite, conta que usa uma bolsa plástica como vaso sanitário, porque não considera seguro sair na rua.
A estudante Flora, de 19 anos, diz enfrentar mais do que falta de privacidade no banheiro compartilhado que usa em Maputo, Moçambique. "Odeio usar o banheiro. Às vezes homens espiam por cima da cerca. Não há privacidade."
Brasil
A situação não foge à regra por aqui. De acordo com levantamento preparado no ano passado pela relatora da ONU Catarina de Albuquerque, 114 milhões de brasileiros (ou 60% da população) "não têm condições sanitárias apropriadas".
Destes, 8 milhões ainda precisam fazer suas necessidades ao ar livre.
A hashtag #opendefecation ("defecação ao ar livre"), compartilhada nesta semana por milhares de pessoas, toca neste assunto.
Chega a um bilhão o número de pessoas expostas a doenças como cólera, hepatite, diarreia, desnutrição e problemas cognitivos por conta da falta de ambientes apropriados para os "números 1 e 2".
Segundo a ONG opendefecation.org, o fim da prática em espaços abertos reduziria o número de ocorrências em hospitais, mortes de crianças e perdas de dias letivos.
A entidade explica: milhares de crianças acabam bebendo água contaminada por fezes mundo afora.
Por ano, 44 milhões de grávidas são contaminadas por germes que poderiam ser evitados caso houvesse saneamento adequado.
A diarreia mata mais crianças do que AIDS, malária e rubéola juntos.