Oriente Médio: Israelenses e palestinos estão prontos para a paz?
O processo de paz entre israelenses e palestinos tem sido definido há muito tempo como um paradoxo; todos sabem o que deve ser feito para encerrar o conflito histórico mas ninguém parece ter capacidade ou vontade de fazer isso.
Já se disse também que ninguém "pode desejar mais a paz do que as partes envolvidas no conflito".
Mas o secretário de Estado americano, John Kerry, provou mais uma vez que uma terceira parte é uma condição necessária para que os dois lados possam negociar diretamente.
Na sexta-feira, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos confirmou que as conversas diretas entre israelenses e palestinos devem ser retomadas na próxima semana, em Washington, e neste sábado o governo de Israel anunciou que libertaria prisioneiros palestinos como parte do acordo - sem precisar quantos.
Além disso, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse no sábado que a retomada das negociações de paz é um "interesse estratégico e vital" para seu país.
Dentre os principais pontos de disputa está a definição de fronteiras. Os palestinos exigem que Israel utilize as demarcações existentes antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967 - algo inaceitável para alguns partidos israelenses, que já ameaçaram abandonar o governo caso a condição seja levada em consideração pelo premiê.
Mediação
As últimas décadas do processo de paz têm mostrado que um mediador persistente - com maior frequência os Estados Unidos - é necessária, porém insuficiente para atingir um acordo histórico.
Mesmo assim, após seis meses de reuniões e almoços em mesas árabes, israelenses e palestinas, Kerry finalmente convenceu ambos os lados a virem a Washington para sentarem-se à uma mesa americana para conversar.
Os termos escolhidos cuidadosamente por ele mostram que esta primeira rodada de negociações desde 2010, quando as últimas foram interrompidas, trata-se sobretudo de "conversas sobre conversas". E quem senta-se à mesa são negociadores experientes, e não os líderes.
Mas não há como negar que a diplomacia da teimosia de Kerry atingiu um pequeno e importante passo nessa estrada tortuosa rumo à paz.
Temas polêmicos
O novo esforço possui mecanismos que na verdade funcionam como segurança para todos os lados. Kerry não queria que uma sexta viagem terminasse com "estamos chegando perto".
E nem Mahmoud Abbas (presidente da Autoridade Nacional Palestina) e o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, queriam ser responsabilizados por um potencial fracasso do americano.
Tanto israelenses quanto palestinos passaram a apreciar a persistência de Kerry, que apesar de todas as dificuldades fez disto sua missão - com o apoio do presidente americano, Barack Obama.
Até o momento poucos detalhes foram revelados sobre esta "base para retomar negociações diretas da situação final".
Autoridades palestinas protestam contra o fato de que Israel ainda não concordou que um futuro Estado palestino tenha fronteiras próximas às anteriores a 1967, quando israelenses agregaram terras a seu território.
A interrupção da expansão de assentamentos israelenses é outro assunto altamente polêmico que rende pressão a Abbas para que ele não negocie neste momento.
Caminho para a paz
Mas aparentemente o americano conseguiu convencer Israel a agir com relação a outra preocupação palestina: a libertação de seus prisioneiros.
Yuval Steinitz, ministro que integra o gabinete de Netanyahu, disse que os prisioneiros seriam libertados em "etapas", incluindo aqueles do tipo "peso-pesado, que estavam detidos há décadas".
Quanto às exigencies feitas pelos israelenses, certamente incluirão o compromisso de que não haverá passos unilaterais - incluindo potenciais novas movimentações palestinas nas Nações Unidas em setembro, quando a ONU se reúne em Nova York.
Um negociador palestino muito experiente me disse, com dificuldade para seconder a raiva, que o "status quo" estava acabado se Israel se recusasse a retomar as conversas de paz de forma consistente.
Falando ao programa Newshour, da BBC, o negociador israelense que participou das conversas secretas de Oslo, 20 anos atrás, disse acreditar que um conjunto de condições compilado pelos EUA poderiam fornecer as bases para as negociações.
Com base em posições defendidas anteriormente em público, essas incluiriam:
as fronteiras de 1967 com um acordo de troca de terras o reconhecimento de que a expansão de assentamentos não é "construtiva" as preocupações relativas à segurança de Israel e o reconhecimento de que o país é um Estado judeu Todos sabem, de certa forma, o que deve ser feito. Mas será que todos os lados estão prontos para colocar isso em prática agora?