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Afeganistão: preconceito e assédio impedem mulheres de virarem policiais

15 set 2013 - 10h49
(atualizado às 11h30)
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Policiais mulheres foram banidas no Afeganistão durante o governo do Talebã. Hoje, mais de dez anos depois, é improvável que o governo do país atinja suas próprias metas para o aumento no número de mulheres na polícia.

Segundo um relatório da ONG britânica Oxfam, a meta para o recrutamento de 5 mil policiais femininas até o final do ano que vem parece cada vez menos realista e "não deve ser alcançada".

Menos de 1.600 mulheres trabalham como policiais no país hoje e cerca de 200 estão em treinamento. Ainda assim, as mulheres compõem apenas 1% da força policial. A Grã-Bretanha contribui com cerca de US$ 12,5 milhões (R$ 28,6 milhões) para os salários da polícia e considera que a presença de mais policiais femininas nas ruas do Afeganistão tem um papel importante em assegurar o cumprimento à lei.

Mas existe vontade política por parte do governo afegão? Muitos obstáculos dificultam o recrutamento de mulheres para a polícia feminina no país. Em 2005, apenas 180 de mais de 53 mil policiais eram mulheres. Agora, esse número aumentou oito vezes.

Desigualdade

Entre as barreiras estão tradições culturais arraigadas, os altos índices de analfabetismo feminino e a ameaça de assédio sexual. A BBC falou com uma adolescente que foi estuprada por um policial após ter fugido de casa. Ela conseguiu justiça.

Após a intervenção de entidades internacionais, o policial foi levado até seu chefe e finalmente aprisionado. Ainda assim, há fortes evidências de que dentro da própria policia, comportamentos sexuais predatórios são comuns.

Embora o general Ayub Salangi, ex-chefe da polícia de Cabul, diga que "rejeita totalmente alegações de abuso sexual dentro da força policial", a comissão afegã de direitos humanos diz que muitos crimes sexuais são cometidos pela própria polícia.

A força do general Salangi, em Cabul, tem sido mais progressista do que a maioria das polícias de outras cidades, mas ainda há desigualdade.

Segundo a Oxfam, policiais femininas com frequência sofrem com a falta de uniformes básicos - que os colegas homens recebem -, vestiários e privacidade. Além disso, alguns chefes de polícia "relutam" em aceitar recrutas mulheres.

Excluídas

Parigul Saraj é uma exceção. Ela era esteticista, mas hoje trabalha em postos de controle de veículos - um dos trabalhos mais perigosos para os policiais por causa dos riscos de ataques suicidas. Seu trabalho é revistar carros e mulheres, já que um tabu cultural impede que homens façam esse trabalho quando há mulheres presentes.

Mas ela diz que tem sido isolada por membros de sua família e vizinhos. O próprio fato de que às vezes ela é chamada para participar de operações policiais no meio da noite é mal visto. "Eu me sinto mal quando as pessoas pensam de forma negativa a meu respeito", ela admite, na privacidade de sua casa. Para uma mulher, sair de casa no meio da noite é evidência suficiente para que ela seja acusada de prostituição.

Com a proximidade das eleições, no ano que vem, existe pressão para que mais policiais femininas sejam recrutadas. E para que recebam tarefas importantes, "não apenas servir o chá" - como disse um representante da Oxfam.

Mas muitos temem que, uma vez que os holofotes sobre o Afeganistão sejam desligados - com a retirada das tropas estrangeiras no ano que vem - o ímpeto em direção a uma maior igualdade se perca.

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