AI denuncia abusos e massacres de Israel contra palestinos
A Anistia Internacional (AI) denunciou o Estado de Israel nesta quarta-feira pelo abuso da força e "cruel indiferença à vida humana" demonstrada com o massacre de dezenas de adultos e crianças palestinas na Cisjordânia nos últimos três anos.
Em um relatório intitulado "Gatilho fácil: o uso excessivo da força por parte de Israel na Cisjordânia", a organização assegura que o exército e a polícia israelenses cometem constantes abusos dos direitos com uma utilização "desnecessária, arbitrária e brutal" da força nos territórios ocupados da Palestina e fazem-no com "quase total impunidade".
Segundo as Nações Unidas, pelo menos 45 palestinos morreram na faixa cisjordaniana nas mãos das forças de segurança israelenses desde 2011.
A Anistia acrescenta que documentou, por sua parte, o assassinato de pelo menos 22 civis palestinos na Cisjordânia no ano passado, a maioria menores de 25 anos, dos quais pelo menos 14 morreram durante protestos e pelo menos quatro eram crianças.
Entre os mortos e feridos havia manifestantes pacíficos, transeuntes, ativistas de direitos humanos e jornalistas, que não pareciam colocar "uma ameaça direta ou imediata à vida" e em alguns casos há inclusive provas de assassinatos indiscriminados, o que equivaleria a crimes de guerra, segundo a AI.
"Este relatório apresenta provas que revelam uma horrorosa pauta de mortes ilegais e ataques indiscriminados de civis palestinos por parte das forças israelenses na Cisjordânia", declarou o diretor do programa para o Oriente Médio e norte da África, Philip Luther.
"A frequência e persistência do abuso excessivo e arbitrário da força contra manifestantes pacíficos na Cisjordânia por soldados e policiais israelenses - e a impunidade que desfrutam os autores - sugerem que se efetua como parte de uma política", acrescentou.
Segundo o relatório, nos últimos três anos pelo menos 261 palestinos, 67 deles crianças, ficaram gravemente feridos com arma de fogo, enquanto mais de 8.500 (1.500 deles menores) o foram com outro tipo de armas, como balas de metal forradas de borracha ou gás lacrimogêneo.
"O impactante número de feridos é um lembrete do incessante perigo que afrontam diariamente os palestinos que vivem na faixa da Cisjordânia", afirmou Luther.
Várias pessoas foram atingidas pelas costas, o que, segundo o diretor do programa do Oriente Médio e norte da África, sugere que estavam fugindo e não representavam nenhuma ameaça contra as forças israelenses.
Em outras ocasiões, os soldados dispararam contra pessoas que simplesmente atiravam pedras. Luther denunciou que as investigações realizadas sobre mortes suspeitas por parte de Israel evidenciam um sistema "tristemente inadequado".
"Não é independente nem imparcial e carece de toda transparência", advertiu o porta-voz da AI, que instou as autoridades do Estado judeu a efetuar investigações "rápidas e rigorosas" sobre supostos abusos por parte das forças de segurança.
A Anistia lembrou que nos últimos anos a Cisjordânia foi palco de várias protestos contra a prolongada ocupação israelense e as práticas repressivas das forças de ocupação.
Estas incluem, detalha, a expansão ilegal dos assentamentos, o muro de separação de 800 quilômetros de longitude, destruição de casas e despejos de inquilinos, controles e revisões militares e restrição de movimentos e discriminação dos palestinos.
Os protestos, segundo a AI, também se realizam contra a detenção de milhares de palestinos e como resposta aos ataques militares de Israel em Gaza e pela morte de civis nas manifestações e em batidas.
A Anistia pede às autoridades israelenses que ordenem às forças de segurança "frear o uso de força letal" a não ser que exista ameaça e respeitem o direito dos palestinos à manifestação pacífica.
Também reivindica aos Estados Unidos e à União Europeia que suspendam "todas as transferências de armas, munição e outros equipamentos a Israel".