Apesar de ataques talibãs, afegãos elegem presidente
Milhões de afegãos compareceram às urnas neste sábado para votar na eleição presidencial, apesar dos ataques talibãs, que causaram mais de 100 mortes.
Cerca de 52% do eleitorado votou para eleger o substituto de Hamid Karzai, presidente que dirigiu o país nos últimos 13 anos, segundo uma estimativa oficial da Comissão Eleitoral. Isso representa sete milhões de afegãos, um êxito em um país ainda marcado pela violência, insegurança e corrupção. Ao longo do dia, morreram "onze policiais, quinze soldados e vinte civis, assim como sessenta insurgentes", declarou o ministro do Interior, Omar Daudzai, em coletiva de imprensa. "Houve vítimas em nossa fileiras, mas o inimigo não conseguiu frear o processo eleitoral", acrescentou.
Com esta eleição, será a primeira vez na história do país que dois presidentes afegãos eleitos democraticamente se alternam no poder. Os afegãos foram convocados a escolher entre o ex-ministro das Relações Exteriores e principal favorito, Abdullah Abdullah, de 53 anos, que foi porta-voz do célebre comandante Masud, e o ex-economista do Banco Mundial Ashraf Ghani, 65 anos, que obtiveram no primeiro turno, em 5 de abril, 45% e 31,6% dos votos, respectivamente.
"Apesar das imensas dificuldades, esta eleição foi organizada com êxito", declarou em coletiva de imprensa o chefe da Comissão Eleitoral, Ahmad Yusuf Nuristani. Os dos candidatos votaram pela manhã em Kabul e se comprometeram a lutar contra a corrupção e a desenvolver a economia de seu país, que ainda depende da ajuda internacional. Ignorando as ameaças dos talibãs, os eleitores se mobilizaram em todo o país e mostraram com orgulho a tinta antifraude nos dedos.
"Foram ouvidas explosões na cidade, mas isso não nos deu medo, não nos impedirão de votar para decidir o futuro do país", disse em Cabul Ahmad Jawid, 32 anos. Um importante dispositivo de segurança foi visto nas ruas da capital, patrulhada por forças afegãs em "alerta máximo" e decididas a repelir qualquer ataque dos talibãs. No total, cerca de 400 mil soldados e policiais foram posicionados em todo o país, e a Força Internacional da OTAN no Afeganistão (ISAF) estava preparada para intervir, se necessário.
"Vim votar, para que meu voto ajude a mudar algo em nossas vidas", declarou à AFP Janat Gul, um comerciante de 45 anos que fazia fila em um colégio eleitoral da cidade. "Votarei no candidato que recuperará nossa economia, criará empregos e mudará nosso dia a dia. Se a economia funcionasse bem, não haveria insurreição, e o povo estaria ocupado trabalhando, em vez de lutando", disse. O atual presidente votou pela manhã, em uma escola próxima ao palácio presidencial. "Vá votar, que todos vão votar", declarou Karzai, dirigindo-se aos afegãos.
Abdullah Abdullah, que, no primeiro turno, obteve 13 pontos de vantagem sobre seu principal rival, parecia ter a vitória ao alcance das mãos. Em 2009, perdeu no segundo turno para Karzai, devido, segundo ele, a fraudes orquestradas pelo presidente. "Não podemos aceitar nem uma só cédula fraudulenta a nosso favor, e esperamos que os outros digam o mesmo", disse Abdullah, dirigindo-se a seu adversário.
Os resultados provisórios do segundo turno, que acontece dois meses depois do primeiro, devem ser conhecidos no dia 2 de julho, e os resultados definitivos, no dia 22 do mesmo mês. O próximo presidente afegão assumirá no dia 2 de agosto, e o primeiro desafio que terá que solucionar é o da assinatura de um tratado bilateral de segurança com os Estados Unidos que permita manter em território afegão cerca de 10 mil militares norte-americanos.