Chanceler iraniano sugere que Charlie Hebdo dificulta o diálogo
Um diálogo sério com países orientais seria mais fácil se fossem respeitados os sentimentos muçulmanos, abalados pelas charges mais recentes do jornal Charlie Hebdo, disse o chanceler do Irã, Mohammad Jawad Zarif, nesta quarta-feira, ao abrir negociações sobre o programa nuclear iraniano com o chanceler dos EUA.
Falando com repórteres antes de se reunir com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, Zarif disse que o encontro ajudaria a sondar se ambos os países estão prontos para avançar em direção a um acordo cujo objetivo seja conter as operações nucleares do Irã em troca de alívios em sanções.
“Acho que é importante. Penso que demonstra a disposição de ambos os lados para avançar e acelerar o processo”, disse Zarif aos jornalistas enquanto aguardava por Kerry, que chegou quatro minutos atrasado para a reunião em um hotel de Genebra.
O Irã e outras seis potências mundiais, incluindo Washington, tem retomado a busca por uma saída para o acordo nuclear, após as negociações estourarem um prazo autoimposto por uma segunda vez, em novembro.
O esperado acordo, cujo novo prazo para ser alcançado é 30 de junho, encerraria gradualmente as sanções impostas ao Irã em troca da contenção verificável de seu programa de enriquecimento de urânio, para assegurar que não possa ser usado no desenvolvimento de bombas nucleares.
A república islâmica afirma ter propósitos unicamente civis de produção de energia com o enriquecimento de urânio, refutando as suspeitas do Ocidente de que tenha objetivos militares.
Questionado se tinha esperança de que um acordo fosse alcançado até 1 de julho, Zarif respondeu: “É para isso que estamos todos aqui. Vamos ver.”
Zarif também tentou explicar por que os iranianos ficaram consternados com a capa da edição de 14 de janeiro do jornal semanal satírico francês Charlie Hebdo, que traz o desenho de um choroso profeta Maomé segurando um cartaz em que se lê “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), logo abaixo da manchete: “Tout est pardonné” (Tudo está perdoado).
A violência em Paris na semana passada deixou 17 mortos, começando com um ataque em 7 de janeiro por dos islamistas armados contra a redação do Charlie Hebdo, deixando 12 mortos, incluindo os principais cartunistas da publicação.
Ao menos 3,7 milhões de pessoas marcharam por toda a França no domingo em homenagem às vítimas e em apoio à liberdade de expressão. No entanto, representações do profeta Maomé são consideradas uma blasfêmia por muitos muçulmanos.
"A menos que aprendamos a respeitar uns aos outros, vai ser muito difícil em um mundo de visões diferentes e culturas e civilizações diferentes, não seremos capazes de nos engajar em um diálogo sério se começarmos a desrespeitar os valores uns dos outros”, disse Zarif.
“Acreditamos que as santidades precisam de respeito.”
(Reportagem de Arshad Mohammed)