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Clérigos dizem que forma de execução de piloto jordaniano contraria o Islã

4 fev 2015 - 10h47
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Clérigos muçulmanos condenaram veementemente a queima até a morte de um piloto da Jordânia pelo Estado Islâmico, dizendo que tal forma de morte é considerada desprezível pelo Islã, não importa o contexto.

Imagem retirada da Internet mostra homem que seria o piloto jordaniano Kasaesbeh, mantido refém pelo Estado Islâmico. 03/02/2015
Imagem retirada da Internet mostra homem que seria o piloto jordaniano Kasaesbeh, mantido refém pelo Estado Islâmico. 03/02/2015
Foto: Rede social via Reuters TV / Reuters

Militantes do Estado Islâmico divulgaram um vídeo na terça-feira que parece mostrar o piloto Mouath al-Kasaesbeh, capturado pelo grupo, ser queimado vivo em uma gaiola. A Jordânia, que participa de uma campanha militar liderada pelos Estados Unidos para bombardear posições do Estado islâmico, respondeu durante a noite executando dois condenados da Al Qaeda que estavam no corredor da morte.

A principal autoridade muçulmana do Egito, a Universidade Al-Azhar, que tem mais de mil anos e é reverenciada por muçulmanos sunitas em todo o mundo, divulgou um comunicado expressando "profunda irritação com o ato terrorista desprezível" feito por “um grupo terrorista, satânico”.

O grão-xeque da Al-Azhar, Ahmed al-Tayeb, disse que os assassinos mereciam ser "mortos, crucificados ou ter seus membros amputados".

O clérigo saudita Salman al-Odah escreveu em sua conta no Twitter: "Queimar é um crime abominável rejeitado pela lei islâmica, independentemente dos motivos". "É rejeitado se for em um indivíduo ou um grupo ou um povo. Só Deus tortura pelo fogo", acrescentou.

O Estado Islâmico postou um decreto religioso no Twitter, segundo o qual o islamismo permite queimar um infiel até a morte.

Mas até mesmo os clérigos simpáticos à causa jihadista disseram que o ato de queimar um homem vivo e filmar a matança prejudicará o Estado Islâmico, um ramo da Al Qaeda, que controla grande território na Síria e no Iraque, e também é conhecido como Isil ou Isis.

"Isso enfraquece a popularidade do Estado Islâmico porque olhamos para o Islã como uma religião de misericórdia e tolerância. Mesmo no calor da batalha é dado um bom tratamento a um prisioneiro de guerra ", disse Abu Sayaf, um clérigo salafista jordaniano também conhecido como Mohamed al-Shalabi, que passou quase dez anos em prisões jordanianas por causa de sua militância, incluindo um plano para atacar as tropas norte-americanas.

"Mesmo que o Estado Islâmico diga que Mouath tinha bombardeado, e nos queimado e matado, e nós o punimos da maneira que ele agiu conosco, vamos dizer: ‘OK, mas por que filmar desta forma chocante?’" disse ele à Reuters. "Esse método levou a sociedade a se voltar contra eles."

O SITE, um serviço de monitoramento com sede nos EUA, afirmou que Abdullah bin Muhammad al-Muhaysini, a quem descreveu como um jihadista saudita, disse no Twitter que teria sido melhor se os captores de Kasaesbeh o tivessem trocado por "prisioneiros muçulmanos". Sua matança fará com que as pessoas comuns simpatizem com Kasaesbeh, disse ele.

Ainda assim, alguns admiradores do Estado Islâmico aplaudiram o assassinato. Em uma mensagem no Twitter, um usuário chamado Suhaib disse: "Para qualquer piloto participando da coalizão cruzada contra os guerreiros santos, saiba que seu avião pode cair na próxima missão Durma bem!"

O assassinato foi condenado na imprensa árabe. O jornal panárabe Al-Hayat publicou reportagem em sua primeira página sob o título "barbárie".

O diário Al-Riyadh, da Arábia Saudita, escreveu que o Estado Islâmico tinha "aprofundado a sua selvageria e sua abordagem sangrenta" com a queima de Kasaesbeh.

(Reportagem de Sami Aboudi, Michael Georgy e Omar Fahmy, no Cairo; Sylvia Westall, em Beirute, e Noah Browning, em Ramallah)

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