O Estado Islâmico (EI) recrutou somente neste ano 400 crianças, o dobro da quantidade de adultos (120), para se tornarem combatentes do grupo terrorista, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Crianças a partir de cinco anos são levadas para participar da guerra pelos extremistas, que as utilizam em funções de combate e espionagem ou como propaganda violenta, moldando suas mentes influenciáveis.
Segundo um relatório do Escritório do Alto Comissariado dos Direitos Humanos das Nações Unidas (OHCHR) divulgado em novembro de 2014, o EI "prioriza o recrutamento de meninos-soldado, a fim de assegurar uma relação de lealdade em longo prazo, aceitação da ideologia do grupo e a formação de combatentes devotos, que compreendem a violência como um estilo de vida".
O OSDH acredita que os jihadistas podem estar aumentando o índice de recrutamento de crianças pela facilidade de criar combatentes fanáticos e por causa das dificuldades enfrentadas para recrutar extremistas adultos em outros países.
Esta estratégia perversa ficou mais evidente com as sucessivas divulgações de vídeos que mostram crianças aparentemente executando prisioneiros e treinando com armas quase tão grandes quanto elas.
Os terroristas fazem com que assistam execuções de prisioneiros, aprendam a manusear armas de fogo e compreendam táticas de guerra, além de submetê-las aos massivos ensinamentos religiosos de cunho extremista, pregados pelo grupo.
Testemunhas disseram às Nações Unidas que em Al Raqqa, cidade síria considerada capital de fato do EI, há campos de treinamentos para centenas de crianças de cinco a 16 anos.
O relatório da ONU denunciou que, por utilizar crianças como combatentes, "o EI violou a lei humanitária internacional e cometeu crimes de guerra em grande escala".
"O EI é um regime totalitário que pretende criar um novo 'ser humano', começando pelas crianças", declarou à Agência Efe Jessica Stern, coautora de "ÍSIS: The State of Terror", um livro recém-publicado nos Estados Unidos sobre o grupo jihadista.
Com o aliciamento de menores de idade, os terroristas pretendem doutrinar seguidores fiéis, capazes de aplicar a violenta interpretação do Corão defendida pelos extremistas sunitas do EI, que controlam grandes áreas da Síria e do Iraque.
"O objetivo do grupo é chocar e aterrorizar e, para isso, poucas coisas são tão eficientes como imagens de crianças em frentes de batalhas, participando de execuções ou empunhando armas", comentou Stern, professora associada da Universidade de Harvard e especialista em terrorismo internacional.
A especialista também disse que a utilização desses menores como combatentes faz com que se tornem "vítimas, mas também perpetradores", algo que pode fazer com que sofram punições, além de possivelmente anular sua possibilidade de reintegração no futuro.
A tragédia dos meninos-soldados sírios, agora estendida também ao Iraque, colocou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) diante de "uma de suas maiores crises", jamais enfrentadas, afirmou nesta semana a porta-voz da Unicef, Juliette Touma.
Novo vídeo do EI mostra criança executando espião israelense:
Juliette declarou que "existem provas de que todas as partes envolvidas no conflito recrutam, de uma forma ou de outra, menores de idade, tanto para postos de controle, como para a frente de combate". Na maioria dos casos, se trata de adolescentes, de 12 a 18 anos.
A escolarização na Síria, que antes do início da guerra civil era superior a 90%, passou para cerca de 50%. Atualmente, a ONU estima que 14 milhões de crianças no país estejam em situação especialmente vulnerável.
A porta-voz da Unicef, que trabalha para permitir que crianças prejudicadas pelo afastamento escolar ou expostas a traumas psicológicos tenham oportunidade de voltar a estudar, afirmou que o principal objetivo da organização é "possibilitar o acesso à educação, para que uma geração não seja perdida".
O jornalista americano James Foley, 40 anos, foi decapitado no dia 19 de agosto de 2014 por militantes do Estado Islâmico. Essa foi a primeira vítima cuja a morte foi gravada pelo grupo extremista e divulgada na internet. Foley havia desaparecido na Síria há quase dois anos. No vídeo, o americano - que estava ajoelhado ao lado de seu executor - disse que os EUA causaram sua morte.
Foto: AP
O jornalista americano Steven J. Sotloff, 31 anos, foi decapitado no dia 2 de setembro de 2014. Ele havia sido sequestrado em 2013 e apareceu no primeiro vídeo divulgado pelo Estado Islâmico na internet. No primeiro vídeo, James Foley foi decapitado e Sotloff foi ameaçado de morte caso os EUA não "colaborassem" com o grupo extremista. Sua morte também foi divulgada em vídeo.
Foto: AP
O escocês David Haines, 44 anos, foi sequestrado em março de 2013, quando atuava como voluntário em trabalhos humanitários na Síria. Ele foi decapitado no dia 13 de setembro de 2014 pelo Estado Islâmico e foi a terceira vítima ocidental a ser decapitada pelo grupo extremista que teve a morte divulgada em vídeo na internet.
Foto: Twitter
O motorista de táxi britânico Alan Henning, 47 anos, foi a quarta vítima do Estado Islâmico a ter a decapitação divulgada em vídeo na internet. Henning participava de comboio de voluntários que levavam suprimentos médicos à Síria. Apelidado de "Gadget", Henning foi sequestrado nove meses antes da divulgação de sua morte, no dia 03 de outubro de 2014. No final de seu vídeo, um refém americano foi apresentado como uma nova vítima do EI.
Foto: The Telegraph / Reprodução
O ex-militar americano Peter Edward Kassing, 26 anos, trabalhava como voluntário na assistência humanitária na Síria. Ele foi o refém apresentado no final do vídeo da morte do britânico Alan Henning. No dia 16 de dezembro, Kassing foi decapitado e teve um vídeo que divulgava sua morte publicado na internet. No vídeo, um militante do Ei, com sotaque britânico, aparece ao lado de uma cabeça decapitada que seria a de Kassing. O americano tinha sido sequestrado em outubro de 2013 e se convertido ao islã.
Foto: AP
O fotógrafo sírio Omar Alkhani esteve nas mãos do Estado Islâmico por dois meses. Ele diz que foi sequestrado em Aleppo, na Síria, e que dividiu a prisão com o jornalista James Foley, o primeiro a ter a morte divulgada em vídeos pela internet. Alkhani disse que, após dois meses de cárcere, os membros do EI vendaram seus olhos, o colocaram em um carro e ele foi jogado na rua. Durante o sequestro, Alkhani foi torturado.
Foto: El País / Reprodução
O jornalista independente britânico John Cantlie, 43 anos, foi sequestrado na Síria em 2012. Desde então, ele é um dos reféns do Estado Islâmico. Cantlie apareceu em alguns vídeos do EI e, em um deles, o jornalista aparece andando pelas ruas de Mossul e mostrando que a rotina dos moradores da região não mudou em nada com a presença do grupo extremista. A imprensa ocidental afirma que a vida em Mossul tem sido difícil desde a presença do EI.
Foto: Twitter
O empresário japonês Haruna Yukawa (à direita), 42 anos, chegou à Síria em agosto de 2014 e seu paradeiro estava desconhecido desde então. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão procurava por ele. Seu amigo, o jornalista Kenji Goto, foi à sua procura e ambos acabaram aparecendo em um vídeo do Estado Islâmico, como reféns, divulgado em janeiro. O grupo exigiu um resgate de US$ 200 milhões de dólares do governo japonês. Sem negociações, Yukawa foi decapitado no dia 21 de janeiro de 2015, sua morte foi anunciada e ilustrada em fotografias por Goto em um vídeo.
Foto: AP
O jornalista freelancer e documentarista japonês Kenji Goto, 47 anos, foi decapitado no dia 31 de janeiro de 2015 por um jihadista membro do Estado Islâmico. Ele foi capturado em outubro de 2014 e estaria na Síria à procura de seu amigo, o empresário Haruna Yukawa. Yukawa foi morto em janeiro e Goto foi mantido refém ao lado de um jordano. A liberdade de ambos foi oferecida pelo Estado Islâmico em troca da libertação de uma terrorista. O Japão não quis negociar e um vídeo com Goto sendo decapitado foi divulgado na internet.
Foto: EPA/ISLAMIC STATE / EFE
O tenente e piloto jordano Moaz al-Kasasbeh, 26 anos, participava na missão aérea contra o Estado Islâmico, em apoio à aviação dos Estados Unidos, quando o seu caça F-16 foi atingido e caiu em território sírio controlado pelo Estado Islâmico, no dia 24 de Dezembro de 2014. Desde então, o EI divulgou algumas fotografias humilhantes. A Jordânia aceitou trocar a liberdade do piloto pela liberdade de uma terrorista, contanto que o piloto esteja realmente vivo. Porém, em 3 de fevereiro, sua morte foi divulgada por meio de um vídeo, em que ele aparece sendo queimado vivo, dentro de uma jaula.
Foto: Reproducción
O médico alemão Stefan Viktor Okonek e sua esposa Henrite Dielen foram sequestrados no dia 24 de setembro. O Estado Islâmico ameaça matar a dupla, caso o governo alemão continue a apoiar os bombardeios contra o EI, liderados pelos Estados Unidos. A partir do final de setembro, não houve informações sobre as vítimas.
Foto: interaksyon / Reprodução
A voluntária americana Kayla Jean Mueller, 26 anos, foi feita refém em Alepo, no norte da Síria, em agosto de 2013. Ela era voluntária de uma organização não-governamental do Arizona. No dia 6 de fevereiro, o Estado Islâmico anunciou que Kayla tinha sido morta durante um ataque aéreo da coligação internacional, conduzido por forças jordanianas. Sua morte só foi confirmada pela Casa Branca no dia 10 de fevereiro.