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Forças de segurança do Iraque preparam contra-ataque

Primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, comandante-chefe das Forças Armadas, disse que seu governo tinha lhe concedido "poderes ilimitados" para lutar contra os insurgentes

14 jun 2014 - 15h06
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As forças de segurança iraquianas retomaram neste sábado três cidades próximas de Bagdá e se preparam para contra-atacar os jihadistas no norte do país, após a conquista esta semana de grandes áreas pelos insurgentes.

Sinal da crescente preocupação no exterior frente a essa rápida ofensiva, o Irã, cujas relações com os Estados Unidos melhoraram após décadas de congelamento, declarou que não descarta uma cooperação com Washington para parar os jihadistas que buscam criar um Estado islâmico na fronteira entre o Iraque e a Síria.

Neste sábado, o Pentágono anunciou que o secretário americano da Defesa, Chuck Hagel, determinou o envio do porta-aviões "USS George H.W. Bush" para o Golfo, o que "permitirá ao comandante-em-chefe dispor de mais flexibilidade, se uma operação militar americana for deflagrada para proteger vidas americanas, cidadãos, ou nossos interesses no Iraque".

Na sexta-feira, o presidente americano, Barack Obama, já havia declarado que seu governo analisa "todas as opções", exceto o envio de tropas terrestres. Em três dias, os jihadistas do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) e os insurgentes conquistaram Mossul e sua província de Nínive (norte), Tikrit e outras áreas da província de Salah-ad-Din, assim como parte das províncias de Diyala (leste) e Kirkuk (norte), encontrando pouca resistência por parte das forças de segurança.

Seu objetivo agora é a capital Bagdá, onde as ruas estavam quase desertas e as lojas fechadas neste sábado, por medo de um ataque iminente. Em um comunicado publicado em seu site sexta-feira à noite, o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, comandante-chefe das Forças Armadas, disse que seu governo tinha lhe concedido "poderes ilimitados" para lutar contra os insurgentes.

No terreno, as forças de segurança e combatentes de tribos retomaram o controle das cidades de Ishaqi e Muatassam, na província de Salah-ad-Din, segundo o general Sabah al-Fatlawi. Um oficial da polícia relatou que os corpos queimados de 12 agentes foram encontrados em Ishaqi. Segundo testemunhas, na sexta, a polícia e habitantes conseguiram, um pouco mais ao sul, expulsar os insurgentes de Dhuluiya, a 90 km da capital. Reforços da polícia e do Exército chegaram sexta-feira a Samarra (110 km ao norte de Bagdá), onde as forças iraquianas planejam lançar uma contraofensiva, de acordo com um dos comandantes responsáveis pela segurança local. Segundo ele, o objetivo é retomar Tikrit, capital da província de Salah-ad-Din, Dour e Baiji. As forças de segurança aguardam ordens para iniciar a sua operação.

Samarra, uma cidade predominantemente sunita, abriga um grande número de locais sagrados xiitas, como o mausoléu do imã Ali al-Hadi e de Hassan al-Askari. Sinal da importância de Samarra, Al-Maliki visitou a cidade na sexta para uma reunião de segurança, enquanto testemunhas relataram que os jihadistas estavam se preparando para lançar um novo ataque à cidade. Odiado pelos jihadistas, Al-Maliki é acusado pela minoria sunita de marginalizar e perseguir essa comunidade.

Na sexta-feira, o clérigo xiita mais influente no Iraque, o grande aiatolá Ali Sistani, exortou a população a pegar em armas para deter o avanço de jihadistas para Bagdá. Milhares de voluntários responderam a um apelo semelhante por parte do governo. Essa convocação foi denunciada por uma associação de religiosos sunitas, baseada no Catar, que considera a ofensiva jihadista "uma revolta sunita". Dirigida pelo polêmico Yussef al-Qaradawi, essa organização, a União Internacional dos Ulemás Muçulmanos, alerta para o risco de "uma guerra confessional devastadora".

Especialistas explicam a derrocada das forças de segurança como resultado de uma formação incompleta, corrupção e do clima de sectarismo. No exterior, o presidente iraniano, Hassan Rohani, declarou hoje que seu país poderá considerar uma cooperação com os Estados Unidos, "se virmos que os americanos atuam contra os grupos terroristas".

Mas, reconhecendo os "sacrifícios extraordinários" das tropas americanas no país, onde estiveram entre 2003 e 2010, Obama foi enfático ao afirmar que "nós não vamos enviar tropas americanas para combater no Iraque". Ainda assim, o presidente americano disse considerar "uma gama de opções para apoiar as forças de segurança iraquianas", acrescentando que, "sem esforço político, qualquer ação militar será condenada ao fracasso". A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, declarou-se alarmada depois que as Nações Unidas receberam informações de que "soldados iraquianos foram sumariamente executados durante a tomada de Mossul".

O EIIL, que ambiciona a criação de um Estado islâmico, é conhecido por seus abusos, sequestros e execuções, especialmente na Síria, onde o grupo é muito ativo. Neste sábado, ao menos 30 "terroristas" foram mortos em uma grande explosão em um "mercado de armas" em Mayadeen, uma cidade síria próxima da fronteira com o Iraque, informou a televisão estatal síria. Já uma autoridade rebelde da região disse à AFP que pelo menos 15 civis morreram nessa cidade em um atentado com carro-bomba cometido pelo EIIL.

Também neste sábado, um comboio oficial, que transportava o chefe dos serviços de luta contra a corrupção, foi atacado ao norte de Bagdá. Segundo um médico e um oficial, nove policiais foram mortos. Gravitando ao longo da fronteira entre Iraque e Síria, o EIIL conta com ex-membros dos serviços de segurança do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein, de acordo com especialistas militares.

A Organização Internacional para as Migrações informa que mais de 40.000 pessoas já fugiram de Tikrit e de Samarra, e mais de 500.000 deixaram Mossul. Nesse contexto, a Grã-Bretanha anunciou a liberação de uma "ajuda humanitária de urgência" de 3 milhões de libras (cerca de 3,7 milhões de euros) para os civis.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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