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Hamas não aceita prorrogar cessar-fogo com Israel em Gaza

O cessar-fogo termina às 2h no horário de Brasília, mas Israel já comunicou o disparo de três foguetes da Faixa de Gaza

8 ago 2014 - 00h57
(atualizado às 01h48)
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<p>Palestinos caminham diante de prédios destruídos na Cidade de Gaza</p>
Palestinos caminham diante de prédios destruídos na Cidade de Gaza
Foto: Finbarr O'Reilly / Reuters

O movimento islâmico Hamas, no poder na Faixa de Gaza, anunciou na manhã desta sexta-feira, no Cairo, que não manterá a trégua com Israel em vigor há três dias, diante da recusa do Estado hebreu em aceitar suas exigências.

Dois altos dirigentes do Hamas que viajaram ao Cairo para negociar a ampliação do cessar-fogo revelaram à AFP que o movimento islâmico recusou a manutenção da trégua no conflito que já matou 1.890 palestinos - essencialmente civis - e 67 israelenses, a grande maioria militares. "Nos recusamos a prolongar o cessar-fogo, é uma decisão final, Israel não propôs nada", declarou à AFP um membro da delegação do Hamas nas negociações no Cairo.

Israel "não aceitou acabar com o bloqueio" sobre a Faixa de Gaza, explicou o responsável do Hamas no Cairo. A decisão do Hamas foi precedida de disparos de foguetes da Faixa de Gaza contra Israel, o que antecipou o fim do frágil cessar-fogo em vigor desde a última terça, 5 de agosto.

Segundo o Exército hebreu, três foguetes disparados da Faixa de Gaza atingiram o sul de Israel, sem deixar feridos. "Os terroristas violaram o cessar-fogo". O cessar-fogo termina às às 8h local (2h no horário de Brasília).

Durante uma longa reunião noturna, os mediadores egípcios insistiram com os palestinos na tentativa de obter uma prorrogação do cessar-fogo. Israelenses e palestinos realizavam no Cairo negociações bastante difíceis, com mediação do Egito, com a esperança de transformar o cessar-fogo em uma trégua duradoura.

Durante a quinta-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse "não estar certo de que a batalha tenha terminado". "Tudo depende de se querem continuar essa batalha. Eu acho que devemos encontrar uma solução pacífica. Sim, é possível", declarou o premiê, garantindo que Israel não tem "nada contra o povo de Gaza" e quer ajudá-lo a se livrar da "tirania espantosa" do Hamas, a organização islâmica que controla a Faixa de Gaza.

O braço armado do Hamas - as Brigadas Al-Qassam - apelava à delegação palestina no Cairo para que não aceitasse um cessar-fogo sem "a satisfação das demandas do nosso povo" e garantia sua "disposição para uma nova batalha".

Entre as demandas estavam a construção de um porto marítimo, "um fim real da agressão (israelense) e uma verdadeira suspensão do cerco" à Faixa de Gaza. Mesmo antes da decisão do Hamas, os palestinos acreditavam na retomada dos combates na manhã de sexta-feira, disse uma fonte palestina à AFP. "Se Israel continuar ganhando tempo, não vamos prolongar o cessar-fogo", declarou à AFP um membro da delegação palestina no Cairo, que pediu para não ser identificado.

Ansioso para ditar seus termos nas negociações para não parecer que cede às reivindicações do Hamas, Israel havia tomado a dianteira na noite de quarta-feira e anunciado sua disposição de estender a trégua de forma ilimitada, sem qualquer condição.

Iniciada em 8 de julho passado, a operação israelense Barreira Protetora matou 1.890 palestinos, incluindo 430 crianças, de acordo com o Ministério palestino da Saúde. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 73% das vítimas são civis. Do lado israelense, 64 soldados e três civis morreram.

A guerra também pulverizou a já fragilizada economia da Faixa de Gaza, um pequeno território de 360 km quadrados, no qual 1,8 milhão de pessoas tentam sobreviver ao bloqueio imposto por Israel.

Durante a trégua, os moradores de Gaza tentaram retomar a normalidade, e se viram engarrafamentos e lojas abertas na região. As imagens de pessoas morando em abrigos improvisados em meio às ruínas de suas casas não deixaram esquecer, porém, as semanas de conflito.

Na quinta à tarde, centenas de palestinos foram às ruas, atendendo a um apelo do Hamas, para reivindicar a vitória militar. "Fomos vitoriosos no campo de batalha e, com a permissão de Deus, também seremos na arena política", afirmou o deputado Mushir al-Masri de uma tribuna. "Resistência, resistência, resistência", gritou a multidão em resposta.

Na quarta, o presidente americano, Barack Obama, pressionou Israel a aceitar a suspensão do bloqueio imposto desde 2006 a esse território. Gaza não pode "se manter permanentemente fechada para o mundo".

Para Obama, os palestinos que vivem no território controlado pelo Hamas precisam de "esperança". Deve haver "um reconhecimento do fato de que Gaza não pode satisfazer suas necessidades por estar isolada do mundo, incapaz de dar uma oportunidade, empregos, ou crescimento a sua população", completou.

Durante os últimos dois dias, equipes humanitárias distribuíram alimentos para centenas de milhares de pessoas na Faixa de Gaza. Além disso, foram realizadas obras de reparo nas redes de água e esgoto.

Para os europeus, é vital oferecer uma perspectiva econômica a Gaza, assim como consolidar a Autoridade Palestina e enfraquecer as forças extremistas, entre elas o Hamas, destacou uma fonte diplomática.

Alemães, britânicos e franceses apresentaram na quarta-feira uma iniciativa para que as forças da Autoridade Palestina assumam as fronteiras em Gaza, onde impediriam a construção de novos túneis e a entrada de armas, segundo a fonte diplomática.

Os postos fronteiriços para Egito e Israel devem ser reabertos, talvez de forma progressiva, e um novo porto deve ser construído em Gaza, segundo a proposta.

Foto: Arte Terra

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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