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Leis islâmicas na Faixa de Gaza restringem liberdade das mulheres

Na maior universidade da Faixa de Gaza, mulheres terão que usar véu

10 fev 2013 - 11h42
(atualizado em 9/9/2013 às 13h47)
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Na Faixa de Gaza, as mulheres enfrentam normas rígidas que limitam sua liberdade
Na Faixa de Gaza, as mulheres enfrentam normas rígidas que limitam sua liberdade
Foto: AFP

Após quase seis anos de controle do grupo islamita Hamas na Faixa de Gaza, observa-se um número crescente de leis e normas que restringem a liberdade das mulheres e geram uma transformação cultural nessa região.

A sociedade de Gaza torna-se mais conservadora do que a sociedade palestina na Cisjordânia, que permanece sob controle do grupo laico Fatah.

A maior universidade da Faixa de Gaza, a Al Aqsa, anunciou que a partir do segundo semestre todas as estudantes e professoras deverão vestir o hijab (véu) e a abaya (capa comprida e larga, que cobre todas as partes do corpo, exceto as mãos, os pés e o rosto).

A decisão da universidade despertou a indignação dos líderes da Autoridade Palestina (AP) na Cisjordânia, que argumentam que sendo uma instituição pública, a Al Aqsa é financiada pela AP e que, segundo a lei palestina, não pode tomar tal medida.

Hanan Ashrawi, ex-ministra da Educação da Autoridade Palestina e considerada a mais proeminente mulher da liderança palestina, disse que a decisão da Universidade Al Aqsa é "ilegal".

Violação de direitos

"Esse decreto constitui uma violação dos direitos fundamentais reconhecidos pelas Nações Unidas e da própria lei palestina", afirmou Ashrawi, "as mulheres têm o direito de escolher sua maneira de se vestir".

De acordo com Ashrawi, que também é porta-voz da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), o Hamas está tentando gerar uma transformação cultural na Faixa de Gaza, tornando a sociedade mais conservadora e aumentando as restrições às liberdades individuais, principalmente em assuntos ligados às mulheres.

Segundo a Universidade Al Aqsa, o novo código de vestimenta será implementado por meios de "persuasão e não de coerção". Funcionárias da universidade fiscalizarão as vestimentas da mulheres na entrada da instituição e conversarão com aquelas que estiverem vestidas com "roupas sedutoras". "Depois de uma ou duas conversas desse tipo, as estudantes se convencerão a vestir-se de maneira recatada", afirma um comunicado universidade.

Serie de probições às mulheres

A medida tomada pela universidade é mais uma em uma série de decretos e leis restringindo as liberdades das mulheres e adotados pelo Hamas, desde que, em 2007, tomou à força o controle da Faixa de Gaza e expulsou os lideres do Fatah da região.

Mulheres também foram proibidas de fumar narguilé (caximbo de água) em público e de dançar em grupos de danças folclóricas. As mulheres em Gaza também não podem passear sozinhas perto da praia, e devem estar acompanhadas por um parente homem.

Os cabelereiros da Faixa de Gaza foram proibidos de cortar cabelos de mulheres, já que as mulheres não devem expor seus cabelos a homens estranhos. Até as advogadas devem vestir o véu quando aparecem em tribunais.

A regressão da situação das mulheres em Gaza também pode ser notada no sistema judiciário. Um número crescente de juízes passam a adotar normas islâmicas para mitigar a punição a homens que cometem atos de violência contra mulheres "para preservar a honra da familia".

Distância cultural entre Gaza e Cisjordânia

De acordo com Hanan Ashrawi, com esses decretos e normas, o Hamas está conseguindo aumentar a distância cultural entre os palestinos da Faixa de Gaza, onde moram 1,5 milhão de pessoas, e os 2,5 milhões da Cisjordânia.

No entanto, muitas mulheres na Faixa de Gaza apoiam as novas medidas. Uma delas é a brasileira palestina Leila Shahin, que nasceu no Rio de Janeiro e mudou-se para a Faixa de Gaza há 10 anos. Shahin, que tem 39 anos e mora na cidade de Gaza, disse que considera a decisão da Universidade Al Aqsa "positiva".

"Ver a luz"

"Essa decisão obviamente é boa para as mulheres, vestir-se com o hijab e a abaya é o minimo que elas podem fazer para não serem molestadas", disse a carioca. "Cobrir o corpo e a cabeça também faz bem para a saúde, para se proteger dos raios solares e evitar câncer e doenças no cérebro", disse.

Quando perguntada se, de acordo com esse raciocinio, os homens também deveriam se cobrir para evitar doenças, Shahin respondeu que "Alá criou os homens mais fortes e por isso eles não precisam se cobrir".

"As mulheres são mais frágeis e precisam se proteger, e também porque são mais bonitas, para não chamar a atenção dos homens".

De acordo com Shahin, hoje em dia é muito raro ver uma mulher com cabeça descoberta nas ruas da Faixa de Gaza. "Quase todas as mulheres usam o véu", disse, "muito poucas, só aquelas que ainda não viram a luz, ainda andam com os cabelos expostos".

Fonte: Especial para Terra
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