Membro de comissão eleitoral afegã se demite após denúncias
Equipe de campanha de Abdullah Abdullah acusou de novo no domingo a Comissão Eleitoral Independente de favorecer seu adversário Ashraf Ghani
Um dos principais membros da comissão eleitoral afegã, Zia ul-Haq Amarjail, anunciou nesta segunda-feira sua demissão depois de ter sido acusado de fraude pelo candidato à presidência Abdullah Abdullah, mas negou os fatos atribuídos a ele.
"A porta agora está aberta para falar com a comissão eleitoral sobre as circunstâncias que ajudarão no processo", reagiu o candidato, que aceitou assim pôr fim ao boicote à comissão eleitoral anunciado na semana passada.
A equipe de campanha de Abdullah Abdullah acusou de novo no domingo a Comissão Eleitoral Independente (IEC) de favorecer seu adversário Ashraf Ghani e revelou gravações de áudio como provas.
A equipe colocou o chefe de secretariado da IEC, Zia ul-Haq Amarjail, no centro da polêmica eleitoral, ao acusá-lo de ter cometido irregularidades ao transportar as cédulas de voto não utilizadas no segundo turno da eleição de sábado passado.
A equipe de Abdullah apresentou numa coletiva de imprensa uma série de gravações de áudio secretas, com um total de 13 minutos e de qualidade mediana.
O conteúdo é de conversas telefônicas entre Amarjail e dirigentes do IEC, assim como de um membro da equipe de Ashraf Ghani.
É possível ouvir, entre outras coisas, a suposta voz de Amarjail assegurar que há pessoas empregadas para favorecer a eleição de Ghani.
No entanto, a equipe de campanha se negou a revelar a origem dessas gravações, cuja autenticidade é difícil de verificar de fonte independente.
A equipe de Abdullah indicou que outras provas de fraude serão entregues aos meios de comunicação nos próximos dias.
Entre os pártidarios de Abdullah, a revolta ganhou corpo no domingo, com um segundo dia consecutivo de manifestações nas ruas de Cabul e de Herat (oeste).
Na capital, os manifestantes desfilaram aos gritos de "morte ao IEC" e "Longa vida a Abdullah".
No sábado, os manifestantes percorreram Cabul para protestar contra as supostas fraudes, aprofundando assim a crise iniciada pelas denúncias de Abdullah Abdullah, o candidato mais votado no primeiro turno.
O segundo turno das presidenciais afegãs, realizadas no dia 14 de junho, desencadeou uma crise, apesar de ter transcorrido sem grandes problemas.
Os manifestantes de sábado não se apresentaram como partidários de Abdullah e afirmam que se trata de um movimento "pela democracia e contra a fraude" para proteger "as conquistas dos últimos 12 anos", mas na realidade suas reivindicações coincidem com as do candidato.
Estas eleições são muito importantes, depois de mais de 12 anos de presidência de Hamid Karzai, que dirigiu o país desde a queda dos talibãs, em 2001. Soma-se o fato de as tropas da Otan planejarem deixar o Afeganistão até o fim do ano.
Este contexto preocupa a comunidade internacional, principalmente devido ao aumento de tensão entre os partidários dos dois rivais: Abdullah Abdullah, o mais votado no primeiro turno de 5 de abril, com 45% dos votos, e Ashraf Ghani (31,6%).
Abdullah considera muito alto o número de 7 milhões de eleitores no segundo turno de um total de 13,5 milhões de inscritos, anunciado pela comissão eleitoral independente, e o considera uma prova de que ocorreram votos fraudulentos.
Ghani nega as acusações e as considera uma falta de respeito com seus eleitores.
Karzai se mostrou conciliador e na sexta-feira se posicionou pela primeira vez para aprovar uma mediação da ONU proposta por Abdullah para encontrar uma solução para a crise.
Os resultados preliminares destas eleições estão previstos para 2 de julho e a proclamação do nome do novo presidente para o dia 22 do mesmo mês.