Situado em um cenário geopolítico um tanto complicado – em meio a guerra civil na Síria, aos problemas de segurança no Iraque e a instabilidade provocada pelo golpe pós-primavera árabe no Egito – o conflito entre Israel e Palestina se agravou, desde a morte de jovens israelenses na Cisjordânia, no início de junho.
De um lado, o obsoleto poderio militar do grupo palestino Hamas. Do outro, o forte arsenal israelense. O saldo: 3 israelenses assassinados e mais de 200 palestinos mortos.
Israel concordou, em 15 de julho, em respeitar uma trégua proposta pelo Egito, mas o Hamas não teve a mesma atitude, o que levou os inimigos a retomar os ataques em menos de seis horas. Para o professor de Relações Internacionais da PUC- RJ, Fernando Brâncoli, que concedeu entrevista especial ao Terra, durante um programa exclusivo sobre o conflito no Oriente Médio, o cessar-fogo não deu certo por dois motivos.
"Quem banca o cessar-fogo é um mediador que já não é tido como neutro, e para o Hamas e os outros grupos da Faixa de Gaza, uma trégua seria uma manifestação de fraqueza", explica Brâncoli.
Sob a liderança do ex-presidente Hosni Mubarak, o Egito figurava como um grande aliado de Israel, mas, a partir da nomeação do Gerenal Al-Sissi, bastante violento com relação à Irmandade Muçulmana e ao Hamas, o país se tornou, um mediador que, naturalmente, favorece um dos lados: Israel.
Em meio à discussão, se destaca a desproporcionalidade da força usada e da destruição causada por Isarel em comparação às empregadas e provocadas pelo Hamas, as quais, na opinião do presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Mário Fleck, podem ser entendidas da seguinte maneira: "Israel desenvolveu tecnologia para defender sua população; o Hamas, por outro lado, coloca sua população como escudo. Ele prega a destruição do Estado de Israel, e este naturalmente precisa se proteger e contra-atacar”.
A abertura de um processo de confiança a partir de um comprometimento de cessação dos ataques de ambos os lados nas próximas décadas poderia, quem sabe, pôr fim a um conflito histórico, defende Fleck, mas na opinião de Brâncoli, não há tempo para adaptações políticas: "Segundo cálculos da ONU, em seis anos se tornará inviável viver em Gaza".
Especialistas debatem sobre conflito entre Palestina e Israel:
O jornalista e cineasta Arturo Hartmann, que também participou do debate, enfatizou o fato de a desigualdade entre Israel e Palestina não existir apenas no campo bélico, mas também no campo político e econômico: "Dados de uma organização de direitos humanos mostram que 40% dos habitantes de Gaza estão desempregados e esse número sobre para 50% quando se trata da população jovem”.
A crise humanitária existente na Faixa de Gaza também tem apenas se intensificado com o passar dos anos e com a intensificação dos cercamentos, que impedem a entrada de produtos e até mesmo recursos de primeira necessidade. Essa difícil realidade vivida pelo povo palestino, na visão do Secretário Geral da Federação Árabe-Palestina no Brasil não difere em nada da "limpeza étnica" que antecedeu a criação do Estado de Israel.
"Gaza está cercada por mar e por terra há mais de sete anos. Netanyahu deveria ter vergonha na cara. Alguém ainda acredita no primeiro-ministro? A Faixa de Gaza tem a maior densidade populacional do mundo, nada justifica esse bombardeio indiscriminado”.
A grande questão é: como avaliar os atos cometidos por palestinos e israelenses? E quem é capaz de fazê-lo?
Conheça um pouco mais sobre a região, que tem um quarto do tamanho do município de São Paulo, mas uma enorme importância para a história do Oriente Médio
12 de junho - Três adolescentes desapareceram na Cisjordânia. Exército israelense estabeleceu controle nas estradas da região de Gush Etzion e de Hebron e fez batidas em um bairro da localidade palestina de Dura, ao sudoeste de Hebron, para encontrá-los.
Foto: AP
14 de junho - Israel detém 80 palestinos e bloqueia Cisjordânia durante busca por adolescentes. Exército israelense informou do "fechamento de todo o distrito da Judeia e Samaria
Foto: Nasser Shiyoukhi / AP
15 de junho - Chefe do Parlamento palestino e membro do Hamas, Aziz Dweik foi preso por tropas de Israel, durante uma onda de prisões ligadas a uma caçada em massa por três adolescentes sequestrados.
Foto: AFP
18 de junho - Soldados israelenses entram em uma casa à procura de três adolescentes israelenses desaparecidos, que temem terem sido sequestrados por militantes palestinos, na aldeia de Taffouh perto da cidade de Hebron
Foto: AP
20 de junho - Soldados israelenses participam de operação de buscas na Cisjordânia. Durante a operação, o exército israelense deteve 25 palestinos na Cisjordânia
Foto: Reuters
20 de junho - Como retaliação ao sequestro dos adolescentes israelenses, exército israelense mata adolescente palestino. Jovem foi baleado no peito e morreu em um hospital de Hebron
Foto: AFP
22 de junho - Exército israelense continua operação contra o movimento islamita Hamas por causa do desaparecimento de três jovens judeus há nove dias. Outros dois palestinos são mortos em ações do Exército israelense
Foto: AP
22 de junho - Adolescente israelense morre em explosão nas Colinas de Golã. Fato na Colinas de Golã (foto) coincide com uma espiral de tensão na região pelo suposto sequestro de três adolescentes israelenses em um cruzamento da Cisjordânia
Foto: Wikimedia
29 de junho - Milhares de israelenses se reúnem para uma manifestação pedindo a libertação dos três adolescentes israelenses em falta, temidos raptadas na Cisjordânia em 12 de junho, em Tel Aviv, Israel
Foto: Oded Balilty / AP
29 de junho - Uma mulher israelense detém um cartaz com fotos dos três adolescentes israelenses em falta, temidos raptadas na Cisjordânia em 12 de junho
Foto: Oded Balilty / AP
30 de junho - Milicianos palestinos dispararam no começo da manhã desta segunda-feira 16 foguetes contra o sul de Israel, em uma nova reviravolta a uma escalada que começou com o suposto sequestro de três adolescentes na Cisjordânia.
Foto: Reuters
30 de junho - As forças de segurança israelenses encontraram nesta segunda-feira os corpos de três adolescentes que desapareceram na Cisjordânia no começo do mês e confirmaram que de fato se trata dos estudantes seminaristas procurados desde 12 de junho
Foto: Oded Balilty / AP
01 de julho - Jovem palestino Yussuf Abu Zagher, 18 anos, foi morto pelo Exército israelense, em um ataque contra o campo de refugiados de Jenin, no extremo-norte da Cisjordânia
Foto: Mohammed Ballas / AP
01 de julho - Israel bombardeou dezenas de locais na Faixa de Gaza, atacando alvos do Hamas depois da descoberta dos corpos de três adolescentes cujo sequestro e morte o país atribuiu ao grupo militante palestino
Foto: Nasser Shiyoukhi / AP
01 de julho - Milhares de israelenses participam dos funerais pelos três adolescentes israelenses que foram sequestrados em 12 de junho na Cisjordânia
Foto: Gil Cohen Magen / AFP
02 de julho - Pessoas observam os escombros da casa do palestino Ziad Awad, no sul da Cisjordânia. Israel demoliu a casa do palestino, preso este mês sob a acusação de ter matado à bala um policial israelense à paisana em abril, informou o Exército
Foto: Reuters
03 de julho - Exército israelense confirmou que a Força Aérea atacou posições islamitas em represália ao disparo de cerca de 20 foguetes da Faixa de Gaza
Foto: Mohammed Salem / Reuters
04 de julho - Milhares de pessoas acompanharam a cerimônia entoando hinos e brandindo bandeiras; palestinos e policiais voltaram a entrar em confronto pelo terceiro dia consecutivo. Palestinos enfrentam a polícia israelense em um bairro árabe de Jerusalém
Foto: Baz Ratner / Reuters
07 de julho - Sete combatentes palestinos morreram e dois eram considerados desaparecidos após ataques na aéreos israelenses na madrugada de domingo para segunda-feira na Faixa de Gaza
Foto: Hatem Moussa / AP
08 de julho - Pelo menos 25 palestinos, incluindo crianças, morreram e quase 100 outros ficaram feridos em ataques israelenses contra a Faixa de Gaza, executados em resposta aos disparos de foguetes, de acordo com o serviço de emergência palestino.