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Oásis transforma vida de moradores na Arábia Saudita

29 mai 2012 - 09h36
(atualizado às 10h18)
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Matthew Teller
Da BBC Brasil

Durante muitos anos, o fértil vale Wadi Hanifah, situado na capital da Arábia Saudita, Riad, foi um lixão que trazia riscos à saúde pública. Transformado em um parque com lagos, onde sopra uma agradável brisa fresca, Wadi Hanifah é hoje um oásis imenso e difícil de policiar - o que faz dele um lugar onde cidadãos sauditas podem relaxar de verdade.

Em uma das sociedades islâmicas mais fechadas e rígidas do mundo, o termo "relaxar" ganha sentidos inesperados: para uma mulher, ele pode significar, por exemplo, a possibilidade de que ela tire seu véu em um local público.

Zona Industrial

De camiseta branca e óculos escuros, Hussein al-Doseri sorri e abre os braços, mostrando a paisagem com árvores e água fresca situada em um subúrbio industirlal no sul da capital saudita. "Antes, não havia serviços aqui, nem trilhas ou caminhos", ele diz.

Usado como lixão e esgoto aberto durante anos, o vale foi alvo de um projeto de regeneração que já dura uma década. "Agora, estou aqui o tempo todo. Esse lugar é o oposto de Riad".

Começando nas regiões altas da Arábia central, Wadi Hanifah se estende na direção sudeste por 120 km, terminando no deserto conhecido como Rub' al-Khali, ou "lugar vazio". O vale é seco durante a maior parte do ano, mas permanece fértil devido à presença de aquíferos abaixo da superfície (formações geológicas que podem armazenar água subterrânea).

Desequilíbrio

Durante milênios, muitos povos vêm cultivando a terra e fazendo comércio ao longo do vale. O vilarejo de Riad cresceu aos poucos, de maneira sustentável, nas proximidades do vale. Mas a partir da década de 1970, o ritmo acelerado do crescimento da cidade desequilibrou o delicado ecossistema local.

Mineradoras passaram a extrair minério de Wadi Hanifah. O vale foi bloqueado por fazendas. Inundações sazonais passaram a carregar lixo a bairros residencias e, ao receder, deixavam água estagnada, trazendo riscos à população.

Hoje, quase não há sinais de poluição no vale. Em Al-Elb, ao norte de Riad, palmeiras fazem sombras sobre áreas para picnics.

Utilizando pedras e vegetação, os paisagistas criaram espaços que oferecem privacidade aos frequentadores. Enquanto seus pais descansam sob as acácias, crianças brincam em degraus de pedra que as levam em direção ao fundo do vele, ou exploram trilhas naturais. "Não há espaços abertos em Riad", disse o engenheiro Saud Al-Ajmi. "Wadi Hanifah tornou-se um lugar para respirar".

Biorremediação

Desde 2001, a autoridade de desenvolvimento de Riad vem restaurando e regenerando o vale, retirando o lixo e replantando a flora nativa.

Geralmente, em cidades grandes, quem quer ar fresco procura as regiões mais altas. Em Riad, você desce.

O vale Wadi Hanifah funciona como um túnel de ventilação, levando a brisa fresca para a cidade para dispersar a nuvem de poluição e amenizar o calor. É como um oásis muito longo e estreito.

No coração do projeto está uma usina de processamento que transforma água de esgoto em água limpa o suficiente para ser usada em irrigação e pesca. Com base em uma técnica conhecida como biorremediação, ou biotecnologia, a usina corrige danos causados ao meio ambiente por meio de processos naturais de biodegradação.

Paisagistas canadenses, trabalhando com engenheiros britânicos, criaram uma série de pântanos intercomunicáveis - três lagos grandes onde crescem algas. Essas algas formam a base de uma cadeia alimentar que inclui peixes, insetos e moluscos.

À medida que a água flui por esses habitats pantanosos, processos naturais de oxigenação eliminam dela bactérias nocivas e poluentes. A biorremediação nunca havia sido aplicada em um projeto dessa magnitude. Animados com os bons resultados, cientistas estão estudando formas de aplicar a tecnologia em outras cidades.

Orgulho e Identidade

O projeto em Wadi Hanifah beneficiou o ambiente e a economia, além de valorizar áreas que antes eram consideradas pouco desejáveis - as áreas em torno do vale. A iniciativa também teve um efeito moral, reconectando a capital saudita com um aspecto importante de sua identidade. Wadi Hanifah, lugar onde Riad nasceu, foi, durante anos, motivo de vergonha para seus cidadãos. A limpeza restaurou o orgulho dos moradores.

O plano também desperta críticas. Custou quase US$ 1,5 bilhão e foi feito sem qualquer participação do público. Além disso, sua relevância é questionada em uma cidade onde, segundo relatos, um terço das moradias não tem esgoto.

Por outro lado, a criação de um corredor verde de parques e lagos passando pelo meio da capital saudita está tendo consequências sociais inesperadas. As autoridades estão percebendo que simplesmente não podem policiar uma área tão grande.

Tradicionalmente, Riad não tem entretenimento público - não há cinemas, teatros ou espaços para música na cidade. Portanto, os únicos espaços de lazer são shopping centers e parques.

Pique-niques são um programa popular entre os sauditas. E no fundo do refrescante vale Hanifah, em meio às sombras convidativas e o murmúrio de água fresca corrente, cenas incomuns começam a acontecer.

Sauditas e estrangeiros começam a se misturar, de uma forma que seria impensável no passado. E mulheres estão até tirando seus véus - impunes.

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