ONU se prepara para aumento do fluxo de refugiados sírios no Líbano
Por dia, 3 mil sírios cruzam a fronteira e entram no Líbano; a expectativa é que, ao final de 2013, 1 a cada 4 habitantes do país seja um refugiado sírio
Com metade do tamanho de Sergipe, menor Estado brasileiro, o Líbano se estende do Mediterrâneo até as montanhas que delimitam a fronteira com a Síria, a Oeste, e ao sul com Israel. É casa de 4 milhões de habitantes. Mas número que vem aumentando dia a dia, resultado do êxodo dos sírios em direção ao país vizinho.
A agência das Nações Unidas para os refugiados, Acnur, tem registro de mais de 700 mil refugiados sírios em três centros de referência no Líbano. Além da capital, Beirute, os sírios podem inscrever-se em Zahle, no Vale do Beqaa, e em duas representações, no sul e no norte do país. Uma vez cadastrados, podem receber auxílio para alimentação, escola e abrigo. Atualmente, em todos os centros, cerca de 3 mil refugiados são cadastrados por dia.
A porta-voz do Acnur no Líbano, Roberta Russo, disse ao Terra que estes números devem subir ainda mais caso haja uma intervenção militar na Síria. “Estamos nos preparando para um provável grande êxodo de refugiados em direção ao Líbano. Estamos montando centros de recepção na fronteira para explicar aos refugiados qual a situação do país” (confira a entrevista na íntegra no vídeo abaixo).
Somente nos últimos oito meses mais de 500 mil sírios entraram no país. No final de 2013 a expectativa é que 1 a cada 4 habitantes do Líbano seja um refugiado sírio.
Experiência palestina
Ao contrário dos governos da Jordânia e da Turquia, no Líbano não houve autorização para a criação de grandes campos de refugiados para os sírios, concentrando-os portanto em um só local para facilitar o atendimento humanitário. A frágil aliança que há mais de um ano tenta dar um governo ao Líbano alegou que a eventual criação destes campos reviveria uma amarga lembrança: em 1948, data da criação do Estado de Israel, colonos palestinos chegaram ao Líbano, estabeleceram-se em campos de refugiados e nunca mais deixaram o território libanês.
Em alguns destes acampamentos palestinos ainda hoje é necessária uma premissão de acesso até mesmo para as autoridades libanesas. Essa autonomia velada equipara os territórios palestinos do Líbano à Faixa de Gaza e à Cisjordânia.
Situação de emergência
Russo reconhece os esforços do governo libanês em não fechar as fronteiras aos refugiados, porém lamenta a falta de autorização para estabelecer campos de refugiados oficiais. “O governo sabe dos limites de infraestrutura para receber os refugiados e tem pedido suporte financeiro à comunidade internacional, contudo, a falta de verbas é uma realidade que afeta todos os envolvidos na emergência”.
Estado de emergência que não tem data para terminar. Mesmo com um eventual fim do conflito, as consequências dos deslocamentos serão sentidas ainda por muitos anos, afirma a porta-voz do Acnur.
“Com certeza os refugiados não conseguirão voltar para casa em um futuro próximo, por isso temos que garantir a permanência deles até que existam condições para um possível retorno. É importante lembrar que o maior desejo de um refugiado é voltar para casa. Ninguém é um refugiado por escolha, eles são obrigados a deixar o seu país, vemos famílias separadas, então o que eles mais querem é voltar para casa mas isso num futuro próximo não será possível”.
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