Presidente do Iêmen burla prisão domiciliar e foge para Aden
Abd Rabo Mansur Hadi estuda a possibilidade de declarar a cidade litorânea de Áden como a capital provisória do país, segundo fonte
O presidente demissionário do Iêmen, Abd Rabo Mansur Hadi, que renunciou ao cargo por pressão das milícias xiitas, abandonou no sábado a capital Sanaa, onde permanecia há várias semanas em prisão domiciliar, anunciaram um conselheiro e um ministro.
Um assessor, que pediu para não ser identificado, contou que agentes da Guarda Presidencial ajudaram Mansur Hadi a fugir de casa e seguir para Aden, sua região natal, no sul do país, que escapa do controle das milícias.
Em sua primeira declaração após a fuga de Sanaa, o presidente tachou de "nulas e ilegítimas" as medidas adotadas pelos hutis.
Nova capital
Hadi se reuniu neste domingo com autoridades civis e militares de cinco províncias do sul do Iêmen para estudar a possibilidade de declarar a cidade litorânea de Áden como a capital provisória do país, informou à Efe uma fonte próxima ao líder.
A fonte declarou que Hadi se encontrou com os governadores das províncias de Áden, Lahesh, Al Dalea, Abien e Socotra, com quem também tratou os preparativos para proteger Áden de um eventual ataque.
Representantes das autoridades locais das outras três províncias sulinas - Hadramut, Al Mahra e Shebua - não participaram da reunião por estar muito longe de Áden, mas manifestaram seu respaldo a Mansur Hadi, segundo a fonte.
Fuga
Hadi renunciou em janeiro, pressionado pelos hutis, que controlam a capital. No início de 2015, a Ansaruallah assumiu o controle de prédios oficiais, incluindo o palácio presidencial, o que obrigou o presidente e o então primeiro-ministro Khaled Bahah a abandonarem os cargos.
No sábado, centenas de manifestantes foram às ruas de Sanaa para protestar contra os hutis. Na província de Ibb (centro), centenas também protestaram contra as milícias xiitas, que dispersaram a multidão a tiros, segundo fotógrafos da AFP em ambos os locais.
Os hutis iniciaram a tomada de Sanaa em setembro de 2014, enquanto avançavam para a costa e para regiões ao sul da capital. Em alguns setores, encontraram forte resistência de tribos sunitas e de combatentes da Al-Qaeda na Península Arábica (Aqpa).
Diante desse avanço, na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU pediu às milícias xiitas que deixassem os prédios governamentais e libertassem o presidente e o primeiro-ministro, também em prisão domiciliar. O apelo foi em vão.
Finalmente, Hadi, que conta com o apoio de países ocidentais e da ONU, "conseguiu sair de Sanaa neste sábado de manhã", rumo a Aden, "sem plano prévio e sem informar qualquer partido político", acrescentou o assessor consultado pela AFP.
Não foi possível descobrir, se a viagem de Mansur a Aden está relacionada com o pedido do Conselho de Segurança.
Hadi fugiu pelos fundos do imóvel, quando os milicianos hutis responsáveis por sua vigilância verificavam um veículo de transporte de armas - "uma distração", segundo uma fonte das forças presidenciais.
O comboio de Hadi era composto de dez veículos, segundo uma autoridade de segurança entrevistada em Aden. Agora, ele se encontra em uma residência presidencial do bairro de Khormaksar.
Diante do risco de caos absoluto no país, a ONU pediu às forças políticas nacionais que se sentem à mesa de negociações, após a tomada de Sanaa pela milícia.
Na última quinta-feira, o enviado especial das Nações Unidas, Jamal Benomar, disse que um acordo está próximo e que a nomeação de um governo de transição pode acontecer em breve. Segundo um participante dessas discussões, porém, com a fuga de Hadi, as negociações em um hotel de Sanaa foram suspensas.
"A situação política e a correlação de forças mudaram com a chegada de Hadi a Aden", postou no Twitter a ministra da Informação do governo demissionário, Nadia Sakkaf.
Com informações da AFP e da EFE