Sírios relatam ataque: "tive dor nos olhos e dificuldade para respirar"
Provável ataque com uso de armas químicas matou 1.300 pessoas, segundo ativistas; governo nega e culpa opositores pela ação
No dia seguinte ao suposto ataque com armas químicas perto de Damasco, militantes contaram o horror após o enterro das vítimas na calada da noite, já que a fossa comum estava localizada próximo a uma posição do Exército sírio.
E desde o enterro de seus entes queridos na madrugada desta quinta-feira, as famílias não podem descansar, pois a região de Muadamiyat al-Sham, ao sudoeste de Damasco, continua a ser bombardeada.
"Nós os enterramos no meio da noite, porque o que nos serve de cemitério está à vista do Exército, que não hesita em nos bombardear. É muito perigoso", contou Abu Ahmad, um ativista entrevistado pela AFP via internet. Segundo ele, os corpos estavam "azuis. Eles morreram asfixiados".
Militantes de diversas localidades nos arredores de Damasco acusaram na quarta-feira o Exército sírio de usar armas químicas para tentar entrar à força nos redutos rebeldes. "Por volta das 5h (23h de Brasília), o Exército atacou Muadamiyat al-Sham com foguetes cheios de produtos químicos", explicou Abu Ahmad.
É nesta localidade rebelde que o ataque de quarta-feira causou o maior número de mortes, 61 das 170 vítimas no total, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Entre os mortos há 28 homens, quatro mulheres, 11 crianças e 18 combatentes. A Coalizão opositora síria fala em mais de 1.300 mortes.
Nesta quinta-feira, enquanto a comunidade internacional e organizações de direitos humanos exigiam que a equipe de inspetores da ONU presentes em Damasco tivesse acesso ao local, os moradores estavam apavorados.
"Os moradores temem outro ataque. O Exército tenta entrar na cidade e usa as armas químicas para isso", garantiu Abu Ahmad. Segundo ele, os combates entre rebeldes e forças leais ao regime prosseguem em Muadamiyat al-Sham, e o Exército fez progressos limitados.
Os militantes localizados a leste de Damasco afirmaram que os soldados haviam usado os mesmos tipos de armas.
Abu Adel relatou que passou toda a quarta-feira em Ain Tarma para ajudar os militantes locais a filmar os mortos. Após o ataque, "as pessoas que estavam na rua começaram a sentir náuseas e a cair no chão. Mas naquela hora, a maioria das pessoas estava dormindo em casa com suas famílias. É por isso que muitas vítimas são crianças", afirmou.
"Algumas horas depois, comecei a sentir os efeitos do ataque químico. Tive dor nos olhos e dificuldade para respirar", disse o ativista Abu Adel.
A notícia de um suposto ataque químico se espalhou como fogo e ativistas postaram vários vídeos no YouTube, mostrando dezenas de corpos deitados no chão em Zamalka, Erbine, Saqba, Harasta e Ain Tarma, a leste da capital, e em Mouadamiyat al-Sham, ao sudoeste. Muitos mortos são crianças.
De acordo com Abu Adel, "29 foguetes foram lançados em direção a Ghouta Oriental em intervalos de dez minutos. A maioria caiu em Ain Tarma. Os corpos das crianças foram separados dos adultos e as famílias pediram que não filmássemos os corpos das mulheres, porque esta região é muito conservadora."
As vítimas que morreram em suas casas ou em hospitais improvisados foram transportadas para necrotérios improvisados, onde os corpos foram filmados. De acordo com Abu Ahmad, dezenas de pessoas tratavam os feridos, mas nenhum dos voluntários tinha o equipamento necessário para se proteger dos pacientes envenenados.
"Muitos médicos tem tido sintomas e alguns feridos morreram", assegurou Abu Adel.
O OSDH pediu uma investigação independente sobre as áreas que foram atingidas para determinar se armas químicas foram usadas ou não.
De qualquer forma, "é óbvio que os bombardeios foram extremamente violentos, porque não fizeram nenhuma distinção entre civis e combatentes", disse o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman. "É importante que os inspetores da ONU visitem o local, porque o mundo precisa saber como as vítimas morreram", acrescentou.