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Talibã: mulheres precisam fazer filhos e não ser ministras

Porta-voz do grupo extremista desdenhou dos protestos diários que lideranças femininas têm feito no Afeganistão

10 set 2021 - 08h53
(atualizado às 09h08)
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Diariamente, mulheres fazem protestos em diversas cidades pedindo por seus direitos
Diariamente, mulheres fazem protestos em diversas cidades pedindo por seus direitos
Foto: EPA / Ansa - Brasil

Um dos porta-vozes do grupo fundamentalista islâmico Talibã, Sayed Zekrullah Hashim, voltou a atacar os direitos das mulheres durante uma entrevista à emissora afegã ToloNews na noite dessa quinta-feira, 9, e disse que elas "não podem ser ministras" porque "precisam fazer filhos". Além disso, desdenhou dos protestos diários feitos por elas em diversas cidades do país.

Na entrevista, o apresentador questiona Hashim sobre qual o motivo de nenhuma mulher ter sido indicada no governo provisório. Após uma discussão, com Hashim dizendo "por que nós teríamos mulheres no governo?" e o apresentador reforçando que elas representam "metade da população" do país, o representante responde de maneira misógina.

"Nós não consideramos elas metade da população. Que metade da população? A metade aqui está mal definida. A medida aqui diz que você põe elas lá, e nada mais. E se você viola o direito dela, isso não é um problema. Vou te dar um exemplo, nos últimos 20 anos, qualquer coisa que foi dito por essa mídia, pelos Estados Unidos e seu governo de marionetes no Afeganistão não foi mais do que prostituição nos gabinetes", disse o representante.

Nesse momento, o apresentador interrompe o porta-voz e diz que ele não pode acusar que as mulheres que trabalharam no governo durante os últimos anos de serem prostitutas, e Hashim o corta e começa a falar sobre outro assunto, os protestos diários feitos em diversas cidades.

"Não estou falando de todas as mulheres afegãs, mas as quatro que estão nas ruas não representam as mulheres do Afeganistão. As mulheres do Afeganistão são aquelas que fazem nascer as pessoas no Afeganistão, educam eles e educam eles na ética islâmica", acrescenta.

Novamente interrompido pelo apresentador, visivelmente irritado com as respostas do representante, ele questiona o que há de tão ruim em uma mulher ser ministra do país. "Pergunte a você mesmo", responde. O jornalista então devolve "Mas, por que não?".

"Eu vou dizer pra você porque não. O que a mulher faz, ela não pode ter o trabalho de ministro. Você coloca algo no pescoço dela que ela não pode carregar", concluiu.

Ao tomarem o poder, no dia 15 de agosto, os representantes disseram que respeitariam os direitos das mulheres sob a lei islâmica, a sharia. No entanto, a interpretação do Talibã é extremamente radical, deturpando a visão da mulher na sociedade.

Em outros países islâmicos, por exemplo, elas podem trabalhar e estudar normalmente e assumem cargos de lideranças sem nenhuma interrupção.

Nos últimos 20 anos, durante a invasão e liderança dos EUA, as mulheres afegãs conseguiram ter alguns avanços que foram roubados durante o primeiro governo talibã, entre 1996 e 2001, como poder estudar, trabalhar e ter uma certa independência - como sair de casa sozinha.

Porém, desde que o Talibã voltou ao poder, várias coisas já pioraram para elas. As aulas nas universidades não podem ser mais mistas, elas só podem ter professoras mulheres ou professores homens idosos com "bom caráter", precisam usar o niqab para ir às aulas e muitas ainda não conseguiram voltar para seus postos de trabalho antigos. Além disso, elas foram proibidas de praticar a maioria dos esportes.

Ansa - Brasil
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