Violência aumenta na Síria a um mês da eleição presidencial
Ataques aéreos deixam 18 mortos e acontecem um dia depois da morte de cerca de 100 pessoas, em um duplo atentado com carros-bomba
A aviação do regime sírio efetuou ataques nesta quarta-feira contra um bairro rebelde de Aleppo (norte), deixando pelo menos 18 mortos, incluindo dez crianças em uma escola.
Esses ataques ocorrem no dia seguinte à morte de cerca de 100 pessoas, incluindo quase 80 civis, em um duplo atentado com carros-bomba em um bairro favorável ao regime em Homs (centro), reivindicado pelos rebeldes jihadistas.
A escalada da violência é registrada a menos de um mês da eleição presidencial de 3 de junho, na qual o presidente Bashar al-Assad certamente será reeleito.
A Rússia, aliada de Assad, expressou sua preocupação com "os níveis alarmantes da violência nos últimos dias contra a população civil", jogando a responsabilidade pela situação "para grupos armados ilegais".
Em Aleppo, a segunda maior cidade do país, pelo menos dez crianças e oito adultos morreram nos ataques aéreos contra uma escola do bairro rebelde de Ansari, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Dois ataques ocorreram no intervalo de dez minutos, explicaram militantes de Aleppo.
Esses ativistas enviaram à AFP pela internet um vídeo mostrando uma fila de corpos de crianças em sacos cinzas.
Mais ao sul, em Homs, o registro de mortos do duplo atentado de terça-feira no bairro de maioria alauíta chegou a 100.
A Frente Al-Nosra, braço oficial da Al-Qaeda na Síria, reivindicou a autoria do ataque.
O grupo afirmou que havia detonado o primeiro carro-bomba "para provocar o maior número de mortos entre os shabiha (milicianos pró-regime)" no bairro de Al-Abasiya. Em seguida, explodiram o segundo carro na mesma área.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lamentou em um comunicado a "escalada" dos "ataques contra escolas e outros alvos civis, que causaram dezenas de mortos e feridos entre as crianças", apesar de "todos os apelos pelo fim deste ciclo louco de violência".
A violência em Homs e Damasco "é uma mensagem dos rebeldes a Assad de que não haverá áreas seguras para a realização da eleição", declarou Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.
No penúltimo dia para apresentação de candidaturas à eleição presidencial, o chefe do Parlamento anunciou seis novos candidatos, elevando a 17 o número de concorrentes, todos desconhecidos, exceto Assad, que deverá ser eleito para um terceiro mandato de sete anos. Ele chegou ao poder ao suceder seu pai Hafez, falecido em 2000.
Com a crise humanitária, um terceiro e enorme campo de refugiados para os sírios que fugiram da guerra em seu país foi aberto nesta quarta-feira na Jordânia, onde a ONU e um ministro exigiram mais ajuda da comunidade internacional.
O campo de Azraq pode acolher, no momento, até 50.000 pessoas, mas, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), sua capacidade pode chegar a 130.000 refugiados futuramente.
Cerca de 580.000 refugiados da Síria foram oficialmente registrados pela ONU na vizinha Jordânia.
O acampamento de Azraq deve ajudar a aliviar a pressão sobre o campo de Zaatari, no norte do país, para onde mais de 100.000 sírios fugiram, o equivalente à população da quinta maior cidade da Jordânia.
"Este é provavelmente o maior campo de refugiados do mundo", declarou o representante do Acnur na Jordânia, Andrew Harper, durante a inauguração do campo, localizado no deserto, 100 km a leste de Amã.
Em Nova York, a responsável pelas operações humanitárias das Nações Unidas, Valerie Amos, constatou o fracasso dos esforços para melhorar a entrega de ajuda aos sírios, citando "242.000 sírios sitiados" pelos combates.
Em um relatório anual do Departamento de Estado, os Estados Unidos, que apoiam a rebelião, advertiram para o risco do surgimento de uma "nova geração de terroristas" na Síria, onde a guerra atrai milhares de combatentes estrangeiros que vão lutar contra o regime, que recebe a ajuda de milícias xiitas, como o Hezbollah.
O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, disse nesta quarta que a decisão dos ocidentais de não intervir militarmente na Síria em 2013, depois de um ataque químico devastador em uma área próxima a Damasco, foi um "erro" que enfraqueceu a sua posição diante da Rússia.