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Os argumentos de 6 países árabes para cortar relações com o Catar, acusado de apoiar extremistas

Crise diplomática divide países do Golfo e ocorre em meio ao aumento das tensões entre essas nações e o Irã.

5 jun 2017 - 11h44
(atualizado às 12h17)
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Governo do Catar diz que medida é 'injustificada'
Governo do Catar diz que medida é 'injustificada'
Foto: BBC News Brasil

Seis países árabes, incluindo a Arábia Saudita e o Egito, cortaram relações diplomáticas com o Catar nesta segunda-feira, acusado de desestabilizar a região.

Eles dizem que o Catar tem apoiado grupos extremistas como Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda.

Com isso, as fronteiras da Arábia Saudita com a pequena península do Catar, rica em petróleo, foram totalmente fechadas, segundo a agência estatal saudita de notícias SPA. O governo do Catar respondeu que a medida é "injustificada" e "sem base em fatos".

A iniciativa sem precedentes mostra uma profunda divisão entre países poderosos do Golfo Pérsico, que também são aliados dos EUA, e vem num momento de aumento de tensões entre os países do Golfo e o vizinho Irã.

O governo saudita acusa Catar de colaborar com "grupos terroristas apoiados pelo Irã" na sua turbulenta região de Qatif e no Bahrein.

O que aconteceu?

O pequeno reino do Bahrein foi o primeiro país a anunciar o rompimento de relações foi o Catar, seguido por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Egito, Iêmen e Líbia.

A agência estatal de notícias de Bahrein disse que Catar estava "abalando a segurança e a estabilidade de Bahrein e se intrometendo em assuntos domésticos".

Segundo a SPA, autoridades sauditas disseram que a decisão foi tomada "para proteger a segurança nacional dos perigos do terrorismo e extremismo".

A coalizão árabe liderada pelos sauditas, que luta contra os rebeldes houthi no Iêmen, expulsou o Catar da aliança "por causa de suas práticas que fortalecem o terrorismo" e por seu apoio a grupos extremistas.

Arábia Saudita, EAU e Bahrein deram um prazo de duas semanas para que visitantes e moradores do Catar deixem seus territórios. Até agora, não houve nenhum sinal de retaliação por parte do Catar.

Linhas aéreas de vários países afetados, incluindo a Etihad Airways e Emirates, disseram que suspenderão os voos que passem pela capital do Catar, Doha, a partir de terça-feira de manhã.

Os aliados do Golfo dizem ter fechado seu espaço aéreo para a Qatar Airways, que, por sua vez, suspendeu todos os seus voos para a Arábia Saudita.

Por que isto aconteceu?

Presidente dos EUA, Donald Trump, com o egípcio Abdel Fattah al-Sisi (esquerda) e da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz al-Saud (centro), há duas semanas
Presidente dos EUA, Donald Trump, com o egípcio Abdel Fattah al-Sisi (esquerda) e da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz al-Saud (centro), há duas semanas
Foto: BBC News Brasil

Apesar de repentino, o rompimento de relações com o Catar não é inesperado; as tensões na região vinham aumentando há anos, e se tornaram mais intensas nas últimas semanas.

Há duas semanas, Egito, Arábia Saudita, Bahrein e EAU bloquearam sites de notícias do Catar, incluindo a Al Jazeera, depois que comentários críticos à Arábia Saudita, supostamente feitas pelo emir do Catar, o sheik Tamim bin Hamad al-Thani, foram divulgados pela mídia estatal catariana.

O governo de Doha alega que os comentários são falsos e atribuiu sua divulgação a um "vergonhoso crime cibernético".

Em 2014, Arábia Saudita, Bahrein e EAU retiraram seus embaixadores no Catar por vários meses em protesto à suposta interferência em assuntos domésticos.

De maneira mais ampla, há dois fatores-chave que influenciam a decisão desta segunda-feira: a relação do Catar com grupos islâmicos e o papel do Irã, o adversário regional da Arábia Saudita.

Ao mesmo tempo em que o Catar participa da coalizão de países - liderada pelos EUA - contra o EI, o país é acusado por líderes xiitas no Iraque de que dar apoio financeiro ao grupo extremista - o que é negado pelo governo catariano.

Acredita-se que indivíduos ricos do emirado fizeram doações e que o próprio governo tenha apoiado - financeiramente e com armas - grupos islâmicos radicais na Síria.

O Catar também é acusado de manter relações com o grupo sírio conhecido como Frente Al-Nusra, próximo à Al-Qaeda. O governo saudita também acusou o Catar de apoiar a Irmandade Muçulmana, que atua em vários países, principalmente no Egito.

Trump visita Riad

Durante uma visita a Riad, capital da Arábia Saudita, há duas semanas, o presidente americano Donal Trump apelou a países muçulmanos para que tomassem as rédeas no combate à radicalização e culpou o Irã pela instabilidade no Oriente Médio.

Em entrevista à Reuters, Kristian Ulrichsen, especialista na região do Golfo, disse que isso pode ter encorajado países como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos a lidar "com a abordagem alternativa" do Catar, "supondo que terão o apoio da administração (de Trump)".

A Arábia Saudita também é acusada de financiar o EI, tanto diretamente quanto ao não impedir doadores privados de enviar dinheiro ao grupo - alegações que são negadas.

Qual foi a reação?

O Catar, que sediará a Copa do Mundo de 2022, criticou a decisão dos países. "As medidas são injustificadas e não têm base em fatos", disse o Ministério das Relações Exteriores, segundo a Al Jazeera. Disse ainda que as decisões "não afetariam a vida normal dos cidadãos".

Já o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, comentou que os países precisam resolver suas diferenças através do diálogo. "Eu não acredito que isto terá um grande impacto, se tiver qualquer impacto na luta unificada contra o terrorismo na região ou globalmente", acrescentou.

Uma das prováveis consequências da medida será no abastecimento de alimento, já que cerca de 40% da comida do Catar chega por caminhões da Arábia Saudita.

Segundo o jornal Doha New, a população correu para os supermercados para garantir o estoque de comida e água.

Mapa mostrando a localização do Catar e de outros países do Golfo
Mapa mostrando a localização do Catar e de outros países do Golfo
Foto: BBC News Brasil

Por que a decisão e por que agora? - Alan Johnston, analista de Oriente Médio da BBC

Há muito tempo há tensões expostas entre os países. O Catar com frequência tem estado fora de sintonia com seus vizinhos.

Ele tende, por exemplo, a ficar do lado de forças islâmicas do Oriente Médio - como a Irmandade Muçulmana, que é combatida pelos sauditas e egípcios.

Os esforços dos vizinhos para alinhar o Catar tiveram pouco impacto no passado. Mas agora Doha está sob uma pressão muito maior e mais coordenada.

Seus vizinhos ganharam confiança a partir da nova abordagem do presidente Trump no Oriente Médio. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes sentem que têm seu apoio, e que agora é hora de solidificar ação do Golfo aos desafios que eles veem ao seu redor.

Eles acreditam que este é o momento de deixar claro que as visões divergentes do Catar não serão toleradas. E agora as autoridades do pequeno país provavelmente se sentirão muito solitárias.

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