Os palestinos que usam trégua em conflito para procurar parentes desaparecidos e visitar casas em ruínas
A trégua de quatro dias, mediada pelo Qatar, prevê a libertação de parte dos reféns israelenses capturados pelo Hamas e de 150 prisioneiros palestinos em prisões israelenses.
As pessoas aguardam em longas filas por combustível e ajuda na Faixa de Gaza, enquanto a trégua de quatro dias entre Israel e o Hamas chega ao fim do segundo dia.
Os moradores de Gaza estão tentando aproveitar ao máximo a pausa nos combates para reunir os suprimentos necessários, procurar entes queridos e até mesmo dar um passeio à beira-mar.
Alguns visitaram suas casas - ou o que resta delas - para ver os danos e recuperar o que encontraram.
A trégua também permitiu a entrada de mais suprimentos no território palestino.
Israel impôs um bloqueio à Faixa de Gaza ao lançar a sua operação de retaliação destinada a eliminar o Hamas, após o ataque de 7 de outubro, no qual membros do grupo mataram pelo menos 1.200 pessoas no sul de Israel e fizeram mais de 240 reféns.
Desde então, mais de 14.500 pessoas foram mortas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas.
A trégua de quatro dias, mediada pelo Qatar, prevê a libertação de parte dos reféns capturados pelo Hamas e de 150 palestinos em prisões israelenses.
No primeiro dia da trégua, na sexta-feira, cerca de 150 caminhões transportaram suprimentos do Egito para a Faixa de Gaza.
Embora tenha sido a maior quantidade de ajuda a entrar em Gaza desde que o primeiro comboio atravessou a fronteira em 21 de outubro, a ONU diz que ainda é necessário mais.
As comunicações estão em grande parte reduzidas em Gaza, mas as imagens que chegam da Faixa mostram longas filas para combustível e outros suprimentos em Rafah, no sul do território.
Os militares israelenses confirmaram que quatro navios-tanque contendo combustível e outros quatro transportando gás de cozinha entraram em Gaza na manhã de sábado.
É um processo lento ultrapassar a fronteira, pois todos os veículos são verificados pelos militares israelenses antes de fazer a travessia.
O Crescente Vermelho Palestino disse que 61 caminhões de ajuda transportando alimentos, água potável e remédios partiram de Rafah em direção ao norte de Gaza.
O órgão afirmou que esse seria o maior comboio de ajuda a chegar ao norte de Gaza desde o início dos combates.
O governo israelense disse que esperava que 226 caminhões de ajuda entrassem pela passagem de Nitzana, no sul de Israel.
"Isso incluirá 113 caminhões contendo alimentos, sete contendo suprimentos médicos, 27 contendo água, 43 contendo vários suprimentos para abrigo, 25 caminhões contendo suprimentos de higiene", disse o porta-voz Eytan Schwartz.
Outros 11 caminhões egípcios transportam suprimentos médicos para o hospital dos Emirados, disse ele.
Apesar da alegria de muitos pela trégua nos combates, o sentimento se mistura com tristeza depois de muitos terem regressado às suas casas destruídas para salvar o que restava e recuperar os corpos dos seus entes queridos debaixo dos escombros.
Tahani al-Najjar aproveitou a calma da trégua para retornar às ruínas de sua casa em Khan Younis no sábado, informou a agência de notícias Reuters.
A mulher de 58 anos retirou vários copos intactos dos escombros de sua casa, que ela disse ter sido destruída por um ataque aéreo israelense que também matou sete membros de sua família.
Na cidade do sul, algumas pessoas vivem em tendas improvisadas em frente ao Hospital Nasser enquanto esperam para decidir se regressam ao norte da faixa.
Caixas de tomates, limões, berinjelas, pimentões, cebolas e laranjas podiam ser vistas em uma feira livre da cidade.
Juliette Touma, porta-voz da Agência de Assistência e Obras da ONU (Unrwa), disse à BBC que a situação no local era "absolutamente terrível" e que, embora a ajuda que chegou a Gaza fosse bem-vinda, a organização estava pronta para receber muito mais.
Ela disse que há necessidade de itens básicos de higiene, bem como de mais equipamentos médicos, combustível e alimentos.
Pessoas descreveram que tiveram que fugir apenas com as roupas do corpo e que a maioria não conseguiu lavar-se adequadamente.
Muitos abrigos públicos estão superlotados, disse a Unrwa, e as suas escolas e outras instalações abrigam mais de um milhão de pessoas deslocadas.