Líderes internacionais rechaçam denúncias de jornal alemão
Políticos direta ou indiretamente envolvidos em vazamento de documentos sobre empresas offshore negam práticas ilegais. Kremlin diz que objetivo é desestabilizar a Rússia. Buenos Aires nega sonegação por Macri.
Diversos líderes internacionais que tiveram seus nomes ou de pessoas próximas mencionados nos documentos vazados do escritório de advocacia e consultoria panamenho Mossack Fonseca reagiram às denúncias nesta segunda-feira (04/04).
Os chamados Panama Papers, divulgados neste domingo pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, revelaram detalhes de centenas de milhares de clientes que supostamente utilizam paraísos fiscais no exterior para evasão fiscal, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e armas.
"Alvo principal é Putin", diz Kremlin
Autoridades do governo russo reagiram às denúncias, feitas em diversos órgãos da imprensa internacional, segundo as quais, pessoas próximas ao presidente Vladimir Putin teriam prosperado através de diversas empresas de fachada.
"É óbvio que o alvo principal desses ataques é o nosso presidente", disse o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, ressaltando que a divulgação dos documentos visa desestabilizar o país e as eleições parlamentares marcadas para setembro deste ano.
Ele considera que a imprensa internacional erra ao focar em Putin ao invés de outros políticos e sugere que o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), uma das organizações por trás da publicação dos Panama Papers, possui laços com o governo americano.
A empresa de advocacia Avellum, ligada ao presidente ucraniano, Petro Poroshenko, afirma que as acusações de sonegação de impostos contra o chefe de Estado não têm fundamento. A firma foi encarregada de administrar a venda do grupo Roshen, de propriedade do presidente, através da criação de uma empresa no exterior.
Uma offshore ligada a ele teria sido criada de acordo com a legislação ucraniana, afirmaram os advogados nesta segunda-feira. "A criação de uma estrutura no exterior não afeta as obrigações tarifárias do grupo Roshen na Ucrânia, que continua a pagar impostos."
"Assunto particular" da família Cameron
O governo britânico tentou desviar as críticas ao primeiro-ministro, David Cameron, em razão do nome de seu pai, juntamente com outros membros do Partido Conservador, constar numa lista de clientes que teria, supostamente, realizado negócios com a Mossack Fonseca.
Ao ser questionada se a família de Cameron ainda estaria envolvida com esses fundos, a porta-voz do primeiro-ministro disse apenas que "esse é um assunto particular".
A diretora-geral da autoridade tributária britânica HMRC, Jennie Grainger, informou que pediu cópias dos documentos vazados para "examinar os dados minuciosamente e agir com com rapidez e propriedade".
Macri nega envolvimento
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, também figura entre os políticos mencionados nas denúncias publicadas pelo Süddeutsche Zeitung.
Macri, o pai e o irmão faziam parte do conselho administrativo de uma empresa offshore registrada nas Bahamas em 1988, segundo noticiou o jornal argentino La Nación. A empresa teria funcionado até 2009, quando Macri já exercia há dois anos o cargo de prefeito de Buenos Aires.
Em comunicado, o governo argentino afirma que Macri jamais foi um stakeholder da offshore Fleg Trading Ltd., tendo sido seu CEO apenas de maneira "circunstancial".
Segundo o comunicado, a empresa, que teria como objetivo "participar de outras sociedades não financeiras como investidora ou holding no Brasil, esteve vinculada ao grupo empresarial familiar", mas o presidente "foi designado ocasionalmente como diretor, sem participação acionária".
O gabinete de Macri justificou o fato de o presidente não ter incluído sua participação na empresa em suas declarações de imposto de renda, afirmando que "somente os ativos devem ser declarados, e ele nunca foi acionista dessa sociedade".
O primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur David Gunnlaugsson, foi abordado sobre a existência dos documentos durante uma entrevista à rede de televisão SVT, na qual foi questionado se ele estaria envolvido em atividades ilícitas através de uma empresa offshore.
Visivelmente desconfortável com a pergunta, Gunnlaugsson respondeu apenas que sempre declarou seus bens. Ao ser confrontado pelo repórter sobre suas conexões com uma empresa chamada Wintris, o primeiro-ministro negou conhecimento e abandonou a entrevista. Desde então, aumentam em seu país as pressões para que ele renuncie.
Mais tarde, ele afirmou a um canal de televisão islandês que não irá renunciar. "Não vou deixar o cargo por causa disso." Em sua página na internet, o primeiro-ministro insistiu que jamais escondeu dinheiro no exterior e disse que sua mulher, que herdou uma fortuna do pai, pagou todos os impostos na Islândia.
A família do primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif, também negou seu envolvimento em práticas ilegais. De acordo com os documentos vazados, muitos de seus filhos seriam proprietários de imóveis em Londres, obtidos através de empresas offshore.
Hussain, filho de Sharif, afirmou a uma emissora paquistanesa que a família não cometeu nenhuma irregularidade. "Aqueles apartamentos são nossos e as empresas offshore, também", admitiu, explicando, porém, que "não há nada errado com isso; jamais os escondi e jamais precisei fazê-lo".
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