Papa conversa com líder ortodoxo russo sobre Ucrânia
Cirilo não condenou invasão promovida pela Rússia
O papa Francisco conversou nesta quarta-feira (16) com o primaz da Igreja Ortodoxa da Rússia, Cirilo, sobre o conflito na Ucrânia.
A notícia foi anunciada pelo patriarcado de Moscou, que disse que o diálogo se concentrou "nos aspectos humanitários da atual crise" e nas ações das igrejas Católica e Ortodoxa Russa para "superar os efeitos" dos conflitos.
"As partes destacaram a excepcional importância do processo de negociação em andamento, expressando sua esperança de que a paz justa seja alcançada o mais rápido possível. O papa Francisco e Sua Santidade, patriarca Cirilo, também discutiram várias questões atuais da cooperação bilateral", afirma o comunicado, que não usa os termos "guerra" ou "invasão" em nenhum momento.
Alinhado ao regime de Vladimir Putin, Cirilo não condenou a invasão russa à Ucrânia e, em carta para o Conselho Mundial de Igrejas (WCC, na sigla em inglês), culpou os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pela eclosão do conflito.
"Ano após ano, mês após mês, os Estados-membros da Otan reforçaram sua presença militar [no leste europeu], ignorando as preocupações da Rússia", disse o patriarca no documento enviado ao WCC.
"Não pouparam esforços nem fundos para inundar a Ucrânia de armas e instrutores de guerra. No entanto, a coisa mais terrível é a tentativa de 'reeducar', de transformar mentalmente os ucranianos em inimigos da Rússia", acrescentou.
Antes disso, o patriarca já havia se pronunciado sobre o conflito em 6 de março, durante um sermão pelo Domingo do Perdão. Na ocasião, ele afirmou que o Donbass, região da Ucrânia onde ficam as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, é um bastião contra o "mundo do consumo excessivo e da liberdade visível" representado pelo Ocidente e pelas "paradas gays".
Em resposta ao sermão, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, segundo na hierarquia da Cúria Romana, afirmou que as palavras de Cirilo "não favorecem e não promovem o entendimento". "Pelo contrário, arriscam inflamar ainda mais os ânimos e de caminhar rumo a uma escalada", disse Parolin na semana passada.
O papa Francisco, por sua vez, já condenou a guerra em inúmeras ocasiões e recusou-se a tratar a invasão como uma "operação especial", como diz o Kremlin. Antes do conflito, o Vaticano e a Igreja Ortodoxa da Rússia negociavam um encontro entre Bergoglio e Cirilo, mas o comunicado divulgado pelo patriarcado de Moscou nesta quarta-feira não toca no assunto.