Papa critica 'vírus' da corrupção na América Latina
Francisco fez discurso combativo para políticos no Peru
Em encontro com o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, e autoridades de alto escalão do país latino, o papa Francisco afirmou nesta sexta-feira (19) que a corrupção é um "vírus social" que "contamina tudo".
A declaração, realizada no Palácio do Governo, na capital Lima, chega enquanto a Justiça peruana tenta descobrir a extensão do esquema de propinas da empreiteira brasileira Odebrecht em seu território, em um escândalo que quase derrubou o próprio Kuczynski.
"Àqueles que ocupam cargos de responsabilidade, em qualquer setor, eu encorajo e exorto a se empenharem contra a corrupção e pela transparência, para oferecer a seu povo e sua terra a segurança que nasce da convicção de que o Peru é um espaço de esperança e oportunidades, mas para todos, não apenas para poucos", disse Jorge Bergoglio.
Em seu alerta às autoridades, o líder da Igreja Católica tratou a corrupção como uma "forma sutil de degradação que contamina progressivamente todo o tecido vital". "Quanto mal causa a nossos povos latino-americanos e às democracias desse bendito continente esse vírus social, um fenômeno que infecta tudo, e os pobres e a mãe terra são os mais prejudicados", acrescentou.
Em dezembro, Kuczynski, acusado de receber propina da Odebrecht, se livrou de um processo de impeachment por apenas oito votos, graças à abstenção de aliados do ex-presidente Alberto Fujimori, que receberia um "indulto humanitário" dois dias depois.
Mas não para por aí. Além de sua terra natal, o Brasil, a Odebrecht é acusada de comprar políticos em diversos países da América Latina, da Argentina ao México, passando por Equador, Colômbia, Guatemala, Panamá, entre outros.
"O fenômeno da corrupção implica uma maior cultura da transparência nos órgãos públicos, no setor privado e na sociedade civil. Ninguém pode se dizer estranho a esse processo, a corrupção é evitável e exige o empenho de todos", completou.
Viagem
O Papa está na América do Sul desde 15 de janeiro, quando desembarcou no Chile. A primeira etapa de sua viagem foi dominada pelo tema da pedofilia e marcada pela defesa pública do bispo de Osorno, Juan Barros, acusado de ter encoberto casos de pedofilia envolvendo o padre Fernando Karadima.
"Quando houver uma prova contra o bispo Barros, então veremos. Até agora não vi uma sequer", disse Francisco em Santiago, gerando revolta entre as vítimas de Karadima. "Como se eu pudesse ter feito uma selfie enquanto Karadima abusava de mim com Barros em pé ao lado dele, vendo tudo. Desse jeito, o pedido de perdão vira um gesto vazio", rebateu Juan Carlos Cruz, violentado pelo padre.
Logo no início de sua passagem pelo Chile, Francisco pedira perdão pelos crimes de pedofilia na Igreja. No Peru, ao menos nesta sexta-feira, os discursos do Pontífice se concentraram em temas ambientais - principalmente na tutela da Amazônia - e na corrupção. Ele fica no país até domingo (21), quando retorna ao Vaticano.