Papa dá 'indireta' a líderes judaicos que questionaram sua fala
Pontífice retomou leitura e disse que 'não inventou' análise
O papa Francisco retomou na audiência geral desta quarta-feira (1º) a leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas, alvo de uma polêmica com líderes judaicos de Israel na última semana. Apesar de não citar o caso claramente, a fala do Pontífice deu a entender de que se tratava de uma resposta "indireta" aos comentários.
"Continuaremos com a explicação da Carta de São Paulo aos Gálatas. Essa explicação não é uma coisa nova, uma coisa minha. Isso que estamos estudando é o que disse São Paulo em um conflito muito sério com os Gálatas. E também é palavra de Deus porque entrou na Bíblia, não é algo que alguém inventa. É uma coisa que aconteceu naquele tempo e que pode repetir-se. E, de fato, vimos que isso se repetiu na história", disse o líder católico no início da análise.
"Essa é simplesmente uma catequese sobre a palavra de Deus, expressa na Carta de Paulo aos Gálatas. Não é qualquer outra coisa. Tenham sempre em mente isso", acrescentou.
Na última semana, foi revelado pelo site católico "Il Sismógrafo" que uma carta chegou ao Vaticano com questionamentos sobre a fala do Papa sobre a primeira análise da leitura bíblica.
O documento, assinado pelo rabino Rasson Arousi, presidente da Comissão do Grão-Rabinato de Israel para o Diálogo, dizia que os líderes judaicos estavam "preocupados" e "angustiados" porque a fala do Pontífice deu a entender que a "lei judaica está obsoleta".
Para Arousi, o comentário é "parte integrante" de um "ensinamento desdenhoso contra os judeus e o judaísmo, coisas que pensávamos estar completamente repudiadas pela Igreja" católica.
Oficialmente, não houve pronunciamento da Santa Sé sobre o caso.
Leitura desta quarta
Falando aos fiéis especificamente da leitura, Francisco fez uma alerta sobre o que chamou de "religiosidade rígida" de grupos cristãos que, assim como há na epístola, ainda ocorre atualmente.
"A intenção de Paulo é de colocar claramente para os cristãos para que eles se deem conta do que está em jogo e não se deixem encantar pela voz da sereia, que quer levá-los para uma religiosidade baseada unicamente na observação escrupulosa dos preceitos", disse o líder da Igreja Católica.
"Também hoje ouvimos alguém que diz: 'A santidade está nesses preceitos, nessas coisas', 'vocês têm que fazer isso ou aquilo', e isso nos leva a uma religiosidade rígida, de uma rigidez que nos tira aquela liberdade no Espírito que a redenção de Cristo nos dá. Cuidado com a rigidez que lhe é proposta! Por trás de toda rigidez existe algo ruim, não há o Espírito de Deus. Esta Carta nos ajuda a não dar ouvidos a essas propostas fundamentalistas que nos fazem regressar em nossa vida espiritual, e nos ajuda a andar para frente na vocação pascal de Jesus", acrescentou.
Francisco finalizou dizendo que os cristãos devem rezar para pedir a "sabedoria de percebermos sempre essa realidade e mandar embora os fundamentalistas que nos propõem um caminho de ascese artificial, distante da ressurreição de Cristo". .