Papa faz apelo ambiental e diz que Amazônia "está ameaçada"
Oração foi feita após Francisco ficar preso no elevador
O papa Francisco voltou a falar sobre a Amazônia, que tem registrado um número recorde de queimadas, e as mudanças climáticas na manhã deste domingo (1), na Praça São Pedro, no Vaticano.
Na oração do Ângelus, a qual o Pontífice iniciou 10 minutos atrasada por ter ficado preso em um elevador do Vaticano por 25 minutos, o líder argentino afirmou que a floresta brasileira está "seriamente ameaçada". "Em outubro próximo, a Amazônia, cuja integridade está seriamente ameaçada, estará no centro de uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos. Aproveitamos essas oportunidades para responder ao clamor dos pobres e da terra", disse.
Jorge Bergoglio fez um apelo para o mundo adotar um estilo de vida "mais simples" para respeitar o meio ambiente. "Este é o momento de refletir sobre nossos estilos de vida e sobre como nossas escolhas diárias em termos de comida, consumo, movimento, uso de água, energia e tantos bens materiais são frequentemente imprudentes e prejudiciais", alertou os fiéis.
Segundo o Papa, "é hora de abandonar a dependência de combustíveis fósseis e realizar, de maneira rápida e decisiva, transições para formas de energia limpa e economia circular e sustentável". "Não esqueçamos de ouvir os povos indígenas, cuja sabedoria secular pode nos ensinar a viver melhor o relacionamento com o meio ambiente", acrescentou Francisco em sua mensagem para o 'Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação'.
Para o argentino, "é de particular importância, a Cúpula das Nações Unidas para a Ação Climática, durante a qual os governos deverão mostrar vontade política de acelerar, drasticamente, as medidas para alcançar o mais rápido possível o nível zero de emissões de gases com efeito estufa e conter o aumento médio da temperatura global em 1,5°C relativamente aos níveis pré-industriais", conforme os objetivos do Acordo de Paris.
Sínodo da Amazônia
O apelo do Papa acontece dois dias depois de bispos da Amazônia divulgarem uma carta na qual defendem a preservação da maior floresta do mundo e lamentarem que os líderes da região amazônica sejam "criminalizados como inimigos da Pátria". O documento foi produzido em Belém, durante uma cúpula de preparação para o Sínodo da Amazônia, convocado por Francisco e que acontecerá no mês de outubro no Vaticano. "Quanto sangue, suor e lágrimas foram derramados na defesa dos direitos humanos e da dignidade, especialmente dos mais pobres e excluídos da sociedade, dos povos originários e do meio ambiente tão ameaçados", diz o texto.
"Lamentamos imensamente que hoje, em vez de serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças são criminalizadas como inimigos da Pátria", acrescentaram os bispos sem citar nomes. No documento, os religiosos ainda ressaltaram a soberania sobre a parte brasileira da Amazônia, em meio à troca de farpas entre os presidentes Jair Bolsonaro e o francês Emmanuel Macron. Mas ainda assim apoiaram "a preocupação do mundo inteiro" com o crescente número de queimadas na região. "Todas as nações são chamadas a colaborar com os países amazônicos e com as organizações locais que se empenham na preservação da Amazônia", finaliza o texto.
Cardeais
O papa Francisco aproveitou o Ângelus também para anunciar que elevará ao nível de cardeal pelo menos 13 membros do clero, durante cerimônia no próximo dia 5 de outubro. De acordo com o Pontífice, do número total, 10 serão "cardeais eleitores", com menos de 80 anos, e três "cardeais não eleitores". Quando o religioso é eleitor fica elegível para votar em um eventual conclave para escolher o sucessor do argentino. A lista não conta com nenhum brasileiro, mas incluiu nomes importantes como o padre jesuíta Michael Czerny, subsecretário da seção que cuida dos migrantes no Vaticano; o arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi; o bibliotecário do Vaticano, o português José Tolentino de Mendonça; o arcebispo de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, Ambongo Besungu.
Além deles, há o espanhol Miguel Angel Ayuso Guixot; Ignatius Suharyo Hardjoatmodjo, arcebispo de Jakarta, na Indonésia; Juan de la Caridad García Rodríguez, arcebispo de San Cristóbal de Havana, em Cuba; Jean-Claude Höllerich, arcebispo de Luxemburgo; Alvaro L. Ramazzini Imeri, arcebispo de Huehuetenamgo, na Guatemala; e o dom Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat, no Marrocos. Já entre os não eleitores, estão Michael Louis Fitzgerald, arcebispo emérito de Nepte; Sigitas Tamkevicius, arcebispo emérito de Kaunas, na Lituânia; e Eugenio Dal Corso, arcebispo emérito de Benguela, em Angola.