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Papa recebe 1,2 mil cartas escritas por moradores em situação de rua de SP

Comitiva de brasileiros participou de audiência no Vaticano

22 mai 2024 - 16h57
(atualizado às 17h22)
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Papa Francisco
Papa Francisco
Foto: Vatican Media/­Handout

Por Luciana Ribeiro - O papa Francisco recebeu nesta quarta-feira, 22, mais de 1,2 mil cartas escritas por moradores de rua da cidade de São Paulo entregues por uma comitiva do "Pão do Povo da Rua", projeto realizado pelo Instituto de Pesquisa da Cozinha Brasileira (IPCB) que visa alimentar e acolher pessoas em vulnerabilidade social.

Idealizador da iniciativa, o gastrólogo Ricardo Frugoli contou à ANSA que o Pontífice "ficou impressionado com a quantidade" de cartas, que em sua maioria são pedidos de ajuda, apelos por perdão e até desenhos.

"O que mais me chamou atenção era um [desenho] que a pessoa estava deitada e sonhava com o pão", disse ele sobre uma ilustração que fazia referência à fome.

Frugoli viajou para a Itália junto com uma delegação formada por 15 pessoas, sendo 10 delas ex-moradores de rua, para "pedir a bênção" de Francisco durante uma audiência geral, principalmente por causa de sua "visão humanitária, na qual suas temáticas também se alinham com nossas temáticas humanitárias".

"Estar com o papa Francisco e poder entregar as cartas foi uma grande emoção. Para estas pessoas que compõem a comitiva do 'Pão do Povo da Rua' tudo isto é surreal, experiência única", revelou ele, afirmando que o argentino "abençoou os meninos".

Segundo o gastrólogo, que desde 2020 trocou a alta gastronomia para ajudar as pessoas em situação de rua, as cartas foram recolhidas na própria sede do projeto social, onde comem cerca de 800 pessoas vulneráveis por dia, e em uma ação promovida pelo Tribunal de Justiça de SP para fazer documentação para a população em situação de rua.

Na ocasião, uma tenda do Exército na Praça da Sé, no centro da capital paulista, foi oferecida durante cinco dias para os representantes do "Pão do Povo da Rua" para receber os moradores de rua que gostariam de enviar uma correspondência para Jorge Bergoglio.

 "Nesta tenda, nós ficamos lá esses dias todos recolhendo as cartas. Para quem não sabia escrever, nós tínhamos voluntários que escreviam", explicou Frugoli à ANSA.

Para o idealizador da iniciativa, ter chegado ao Vaticano e entregar todas as mensagens para o líder da Igreja Católica "é uma realização plena, uma coroação de um projeto que teve muitas dificuldades para chegar até aqui". "São quatro anos de luta, mas são muitos recuperados", enfatizou.

Este é o caso do braço-direito de Frugoli, ex-usuário de crack durante 10 anos, Ricardo Mendes está limpo há quase três anos e, não só ajudou a arrecadar e escrever as cartas, como também ficou "sem palavras" por ter tido a oportunidade de conhecer o Santo Padre.

"Ainda estou muito emocionado. De alma limpa. Nunca nem me passou pela cabeça", relatou ele à ANSA, lembrando que escreveu uma carta e levou outra de sua mãe.

 Antes de se reunir com o Papa, a comitiva do "Pão do Povo da Rua" também participou de quatro agendas em um evento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para falar sobre insegurança alimentar.

"Foi lindo ver isto. Gente que esteve na rua com fome tendo oportunidade de falar. Membros da FAO disseram que o nosso 'case' tem aderência total aos seus princípios", disse Frugoli, garantindo que "tudo isto deixa a todos mais fortes".

O projeto "Pão do Povo da Rua" oferece oportunidade de emprego a pessoas que queiram deixar a situação de rua e aprender a fazer pão, em um processo de capacitação profissional e reinserção no mercado de trabalho.

"O processo começa por capacitação, apoiamos com alojamento, alimentação digna, salário, que hoje é no mínimo R$ 1.750, acesso à cultura, acesso à educação, acompanhamento psiquiátrico", explicou o idealizador do projeto, concluindo que "o grande problema ainda é a sustentabilidade", por ainda depender da doação.

Ansa - Brasil
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