Papa rejeita ideia de ordenar homens casados na Amazônia
Francisco também preferiu não acatar ordenação feminina
? A tão aguardada exortação apostólica ?Querida Amazônia? foi divulgada nesta quarta-feira (12) pelo Vaticano. Nela, o papa Francisco não fez nenhuma menção à ordenação de sacerdotes casados como forma de suprir a falta de padres na Amazônia.
A medida tinha sido sugerida ? e aprovada por 128 votos a 41 - pelos bispos que participaram do Sínodo para a Amazônia, ocorrido em outubro, no Vaticano. A ideia era permitir que homens com famílias formadas e esposas, mas praticantes da fé e com experiência em questões religiosas, pudessem atuar como sacerdotes nas comunidades amazônica.
Como solução para a falta de padres na Amazônia, o Papa sugeriu conceder uma maior responsabilidade a diáconos, freiras e laicos.
?Há a necessidade de sacerdotes, mas isso não exclui que, obrigatoriamente, os diáconos permanentes- que deveriam ser mais numerosos na Amazônia -, as religiosas e os próprios leigos assumam responsabilidades importantes para o crescimento das comunidades e que maturem o exercício de tais funções graças a um adequado acompanhamento?, escreveu Francisco. ?Ou seja, não se trata apenas de favorecer uma maior presença de ministros ordenados que possam celebrar a eucaristia?, concluiu.
Além de barrar a proposta de sacerdotes casados, o argentino Jorge Mario Bergoglio também negou outra medida apresentada pelo Sínodo: a de conceder a ordenação a mulheres.
O Papa exaltou o papel das mulheres na manutenção da fé na Amazônia, mas indicou que seria mais adequado incentivá-las a ocuparem cargos e funções que não exijam a ordenação.
?Na Amazônia, existem comunidades onde a fé foi transmitida e mantida por muito tempo, sem que nenhum sacerdote atuasse. Isso foi possível graças à presença de mulheres fortes e generosas: mulheres que batizaram, catequisaram, ensinaram a orar, foram missionárias, acertadamente chamadas e escolhidas pelo Espírito Santo?, citou Francisco.
?Por séculos, as mulheres mantiveram a Igreja em pé. Elas mesmas, no Sínodo, comoveram todos nós com seus testemunhos?, exaltou. ?As mulheres, que, de fato, desempenham um papel central nas comunidades amazônicas nesse momento histórico, deveriam poder alcançar funções e serviços eclesiásticos que não exigem a ordenação sacra e permitem expressar melhor seu próprio lugar?, concluiu.
De acordo com Francisco, caso aprovada, a medida poderia fazer com que as mulheres pudessem participar mais ativamente da Igreja apenas se ordenadas. ?Essa visão limitaria as perspectivas e diminuiria o grande valor dado [pelas mulheres]?, disse o Papa, ressaltando que ?empobreceria a indispensável contribuição delas?.
Ao longo da ?Querida Amazônia?, o Papa também ressaltou que é preciso evitar ?reduzir a nossa compreensão da Igreja a estruturas funcionais?.
?Querida Amazônia? é uma exortação apostólica pós-sínodo, um tipo de documento para instruir os fiéis, mas que não define, necessariamente, as doutrinas da Igreja Católica. Trata-se apenas de um mecanismo para transmitir um ensinamento do Papa sobre determinado assunto. Já o motu próprio, outro tipo de documento utilizado pelo Vaticano, tem caráter de decreto.
Francisco disse expressamente no texto que não quis ?nem substituir nem repetir? o documento aprovado pelo Sínodo, um trecho em que sinaliza sua vontade de evitar polêmicas e confrontos dentro da Igreja.
Algumas propostas apresentadas pelo Sínodo de outubro, principalmente a questão da ordenação de sacerdotes casados, tinham gerado incômodo na ala católica mais conservadora ? ecoado no livro recém-publicado ?Do fundo do nosso coração?, do cardeal Robert Sarah, com contribuição do papa emérito Bento XVI -. A obra rejeita qualquer inovação no tema do celibato.
Além da ordenação de mulheres e de homens casados, a ?Querida Amazônia? trata ainda de outras propostas para a evangelização na região sul-americana.
Francisco pediu para que a Igreja ressalte seu papel social e fique ao lado dos oprimidos, unindo o cuidado com o meio ambiente com o cuidado com as pessoas. Bergoglio, porém, pontuou que ?promover a Amazônia? não significa ?colonizá-la culturalmente?.