Patriarca decreta independência da Igreja Ortodoxa Ucraniana
Medida abriu cisma com o Patriarcado de Moscou
Em cerimônia realizada em Istambul, o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu, assinou neste sábado (5) o decreto que formaliza a independência da Igreja Ortodoxa da Ucrânia, que era subordinada ao Patriarcado de Moscou desde 1686.
A medida enfureceu a Igreja da Rússia, que iniciou um cisma no mundo ortodoxo ao romper seus laços com Constantinopla. As igrejas ortodoxas nacionais são quase todas soberanas, e o patriarca ecumênico é considerado o "primeiro entre os iguais", uma espécie de guia espiritual da religião.
A cerimônia de independência da Igreja da Ucrânia contou com a presença do presidente do país, Petro Poroshenko, dois dias antes da celebração do Natal ortodoxo, em 7 de janeiro.
Segundo Moscou, a decisão de conceder autocefalia - quando o líder de determinada denominação cristã não precisa se reportar a um superior - à Igreja Ortodoxa Ucraniana e à Igreja Ucraniana Ortodoxa Autocéfala, que se uniram em uma só, é "ilegítima".
A crise
O cisma começou após a decisão de Bartolomeu de enviar dois exarcos a Kiev para iniciar os trabalhos para a autocefalia, medida tomada de forma unilateral, sem convocar o concílio ecumênico dos ortodoxos.
Em função disso, Moscou ameaçou romper com o Patriarcado de Constantinopla, que tem sede em Istambul, na Turquia, o que tira de Bartolomeu o título de "primeiro entre os iguais".
Desde sua independência, em 1991, a Ucrânia ensaiara diversas vezes a criação de uma igreja ortodoxa local, mas a última tentativa chegou em meio a conflitos contra grupos separatistas pró-Moscou no leste do país, que se arrastam desde 2014.
O pedido de autocefalia foi enviado a Bartolomeu pelo presidente Poroshenko, com aval do Parlamento. O Patriarcado Ecumênico alega que a união entre Moscou e Kiev, adotada em 1686, tinha caráter temporário e que a Ucrânia sempre foi considerada um "território canônico".