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Patriarcado concede autocefalia à Igreja Ortodoxa Ucraniana

Decisão pode abrir um novo cisma no mundo cristão

13 out 2018 - 14h02
(atualizado às 15h23)
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O Santo Sínodo do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla se pronunciou a favor da autocefalia - quando o líder de determinada denominação cristã não precisa se reportar a um superior - de duas igrejas ortodoxas ucranianas, o que deve provocar um cisma com a Igreja Russa.

O patriarca ucraniano Filarete (com a cruz na mão) havia sido excomungado pelos ortodoxos
O patriarca ucraniano Filarete (com a cruz na mão) havia sido excomungado pelos ortodoxos
Foto: EPA / Ansa - Brasil

A decisão foi tomada na última quinta-feira (11) e deu início ao processo de "independência" das igrejas ucranianas em relação a Moscou. No futuro, ambas devem se unir para criar uma única igreja autocéfala no país.

"É o fim da ilusão imperialista", comemorou o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, que ganha força para as eleições de 2019. O Patriarcado Ecumênico de Constantinopla ainda aprovou a revogação da excomunhão imposta ao patriarca da Igreja Ortodoxa Ucraniana, Filarete, e ao metropolita da Igreja Ucraniana Ortodoxa Autocéfala, Makariy.

Ambas são pró-Ocidente e se tornarão uma única igreja, livre da autoridade do Patriarcado de Moscou. Segundo a Igreja Ortodoxa Russa, no entanto, a decisão torna "impossível" manter a união com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, considerado no mundo ortodoxo como uma espécie de "guia supremo", embora privado de autoridade real.

Desde setembro, o nome do patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, o "primeiro entre os iguais", já não é mais citado nas liturgias na Rússia. A comunhão eucarística entre Moscou e Constantinopla também será interrompida.

O Santo Sínodo da Igreja Russa deve se reunir na próxima segunda-feira (15), em Minsk, capital de Belarus, para dar uma resposta "adequada e dura" a Bartolomeu. Os ortodoxos ucranianos se reportavam a Moscou desde 1686.

A crise

A turbulência no mundo ortodoxo começou após a decisão de Bartolomeu de enviar dois exarcos a Kiev para iniciar os trabalhos para a autocefalia, medida tomada de forma unilateral, sem convocar o concílio ecumênico.

Em função disso, Moscou ameaçou romper com Constantinopla, que tem sede em Istambul, na Turquia, o que tiraria de Bartolomeu o título de "primeiro entre os iguais". Desde sua independência, em 1991, a Ucrânia já ensaiou diversas vezes a criação de uma igreja ortodoxa local, mas a nova tentativa chega em meio aos conflitos contra grupos separatistas pró-Moscou no leste do país, que se arrastam desde 2014.

O pedido de autocefalia foi enviado a Bartolomeu pelo presidente Petro Poroshenko, com aval do Parlamento e do Patriarcado de Kiev. O Patriarcado Ecumênico alega que a união entre Moscou e Kiev, adotada em 1686, tinha caráter temporário e que a Ucrânia sempre foi considerada um "território canônico".

A comunidade ortodoxa está dividida: a Polônia, por exemplo, apoia Moscou, mas a Finlândia está ao lado de Bartolomeu, o que pode indicar um novo cisma no mundo cristão, justamente no momento em que o católico papa Francisco tenta reaproximar as fés irmãs.

Ansa - Brasil
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