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Por que 2024 foi um ano horrível para o príncipe William

Das batalhas contra o câncer em duas frentes aos contínuos problemas familiares, este foi um ano desafiador para o príncipe de Gales. Mas também de como ele pretende se portar como um dos membros mais importantes da família real britânica.

31 dez 2024 - 12h45
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Príncipe William
Príncipe William
Foto: Benjamin Cremel/PA Wire / BBC News Brasil

No ano passado, observei o rei Charles 3º e a rainha Camilla liderarem a comitiva real em direção à igreja no dia de Natal, seguidos pelo príncipe e pela princesa de Gales, William e Kate Middleton, que seguravam as mãos de seus filhos enquanto conversavam com a multidão.

A princesa segurava firme o animado príncipe Louis ao saírem da igreja, e eles receberam cartões de Natal e presentes dos admiradores, além de dezenas de flores.

Nunca poderia ter previsto que aquela seria a última vez que a veríamos pessoalmente por mais de seis meses.

Esperava viajar para a Itália com o casal em uma turnê real, mas ela não participaria de outro compromisso oficial da família real até o Trooping the Colour, um tradicional desfile militar, em junho.

O príncipe de Gales e sua família em missa de Natal em 2023
O príncipe de Gales e sua família em missa de Natal em 2023
Foto: PA Media / BBC News Brasil

Em 16 de janeiro, a princesa de Gales foi internada no hospital para uma cirurgia abdominal de grande porte. No final de março, ela tornou pública sua batalha contra o câncer e o início da quimioterapia.

Para seu marido, foi o começo de um ano que ele descreveria como "o mais difícil de sua vida".

Isso evoca memórias do "ano sombrio" da rainha Elizabeth 2ª em 1992, quando ocorreram múltiplos rompimentos matrimoniais na família e um grande incêndio.

Na época, ela descreveu aquele período com a agora famosa frase annus horribilis (ano horrível).

Em 2024, o príncipe William enfrentou não apenas os problemas de saúde de sua esposa, mas também o diagnóstico de câncer do seu pai, o rei Charles. E, sempre presente como pano de fundo, estava o aparentemente irresoluto conflito com seu irmão, o príncipe Harry.

Família real na Abadia de Westminster
Família real na Abadia de Westminster
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mas também foi um ano em que certos aspectos da visão do príncipe William foram solidificados - a família veio em primeiro lugar, e levar os filhos à escola foi prioridade.

Para o príncipe de Gales, esse período de turbulência parece ter reforçado o que mais importa para ele.

Ao longo do caminho, porém, também ficou evidente que tipo de membro sênior da realeza William deseja ser.

Vimos mais de sua preparação como estadista global, especialmente durante o 80º aniversário do Dia D, marco da Segunda Guerra Mundial, em um palco ao lado de líderes mundiais - mas o "estilo William" também deixou alguns questionando certas escolhas que ele fez.

O impacto sobre William e Kate

Em 27 de fevereiro, o príncipe de Gales estava programado para realizar uma leitura no serviço de ação de graças pelo falecido rei Constantino da Grécia, na Capela de São Jorge, em Windsor. A lista de convidados ilustres incluía membros da realeza europeia.

No entanto, cerca de uma hora antes do início do serviço, o Palácio de Kensington anunciou que o príncipe não poderia comparecer devido a um "assunto pessoal".

A equipe do príncipe tentou tranquilizar o público, afirmando que "não havia motivo para pânico", mas a situação foi altamente incomum.

Foi por volta dessa época que a princesa recebeu a notícia de que células cancerígenas haviam sido descobertas nos exames pós-operatórios.

Nas três semanas seguintes, o casal explicou a situação aos filhos, respondendo às perguntas das crianças em privado antes de tornarem o diagnóstico público.

Kate revelou diagnóstico de câncer em março
Kate revelou diagnóstico de câncer em março
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Acho que o mais notável foi o quão difícil foi para o príncipe de Gales no início do ano", disse um amigo de William. "Sua esposa havia passado por uma grande cirurgia, e a situação acabou sendo pior do que o esperado. Depois veio a questão: 'Como vou contar aos meus três filhos que a mãe deles está doente?'"

Tudo isso acontecia em meio ao tratamento de câncer do rei, que ele tornou público em 5 de fevereiro.

"Em um momento em que ele tentava proteger sua esposa e seus filhos, havia também aquele terrível pensamento de que, se seu pai morrer, tudo mudará", acrescentou o amigo.

Várias pessoas que conhecem o príncipe pessoalmente ou trabalharam com ele neste ano me disseram que o foco incessante sobre a condição de sua esposa cobrou seu preço tanto para William quanto para Kate.

"Ele teve que seguir em frente enquanto o mundo inteiro questionava o que estava acontecendo com sua esposa", confidenciou um amigo.

Rei Charles e rainha Camilla participam de missa em Sandringham, em fevereiro
Rei Charles e rainha Camilla participam de missa em Sandringham, em fevereiro
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Com seu pai afastado por várias semanas e a princesa longe de seus deveres públicos, a agenda real estava bastante apertada.

O príncipe William foi firme ao afirmar que os deveres públicos precisariam esperar até que a situação em casa estivesse mais estabilizada.

Isso ofereceu uma pista sobre o estilo de fazer as coisas do príncipe William.

Sim, ele entendia que sua vida era pautada pelo dever público. Mas, para ele, um homem que havia experimentado uma enorme perda em sua juventude, sua esposa e filhos eram o mais importante de tudo

Apoio dos Middleton

Havia dois outros fatores importantes em casa que ajudaram o príncipe de Gales a apoiar sua esposa e filhos: seus sogros, os Middleton; e viver em Windsor.

Quando a princesa fez seu anúncio público sobre o diagnóstico, a mensagem foi postada nas contas de mídia social da realeza, e uma das primeiras pessoas a responder publicamente foi seu irmão, James.

Ao lado de uma foto de infância dele e de sua irmã durante um feriado, ele escreveu: "Ao longo dos anos, escalamos muitas montanhas juntos. Como família, escalaremos esta também com você".

A princesa de Gales passou 2024 em recuperação
A princesa de Gales passou 2024 em recuperação
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Juntamente com sua irmã, Pippa, e seus pais, Carole e Michael, a família Middleton desempenhou um papel essencial em manter a vida o mais normal possível para as crianças reais.

Moradores locais relataram ter visto Carole Middleton, que mora a 50 quilômetros de Windsor, em Bucklebury, dirigindo regularmente para dentro e para fora do Castelo de Windsor.

E, quando a cirurgia da princesa a impediu de dirigir, foi sua mãe quem frequentemente a levava para a escola para buscar os três filhos.

A decisão de se mudar do Palácio de Kensington, na área central de Londres, para o Castelo de Windsor em 2022 também se mostrou oportuna.

"Windsor tem sido um refúgio. Tem fornecido a proteção e a privacidade de que a família precisava este ano", disse um amigo.

A princesa e o príncipe de Gales no Palácio de Buckingham em dezembro de 2024
A princesa e o príncipe de Gales no Palácio de Buckingham em dezembro de 2024
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A família mora no Adelaide Cottage, uma casa de quatro quartos dentro dos terrenos do Castelo de Windsor, que é isolada o suficiente para oferecer à família a liberdade que o Palácio de Kensington não poderia.

Fotos flagraram o príncipe de Gales usando um patinete elétrico para se locomover pelos terrenos.

Quando em dever real, ele ocasionalmente revelava um pouco sobre a vida em casa, como sua contínua devoção ao clube Aston Villa FC, ou um filme ou uma série de TV favoritos - no início deste ano, ele curtiu o filme de ação O Dublê e, mais recentemente, ele e a princesa assistiram à série de espionagem Black Doves, na Netflix.

Ele também levou seus filhos a partidas de futebol em clubes locais, e tanto ele quanto a princesa continuaram a participar da vida escolar em Lambrook, a escola particular em Berkshire que seus filhos frequentam.

Do príncipe Harry ao tio Andrew

Tudo isso parece ter empurrado outras questões pessoais para o fundo da agenda do príncipe.

O rancor entre William e Harry, segundo relatos, continua.

Harry visitou o Reino Unido nos últimos 12 meses, mas acredita-se que não tenha se encontrado com seu irmão. Eles parecem não se falar há cerca de dois anos.

O duque e a duquesa de Sussex, príncipe Harry e Meghan Markle, no ESPY Awards em 2024
O duque e a duquesa de Sussex, príncipe Harry e Meghan Markle, no ESPY Awards em 2024
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Nos últimos meses, também surgiram novas controvérsias em torno do príncipe Andrew, irmão do rei Charles, incluindo revelações sobre seus vínculos com o empresário chinês Yang Tengbo, banido do Reino Unido após preocupações sobre riscos à segurança nacional.

O príncipe Andrew afirmou que havia cessado o contato com Yang.

No entanto, o príncipe não compareceu ao tradicional almoço pré-Natal da família real.

Essas questões provavelmente foram tratadas pelo rei, mas, como herdeiro do trono, a voz de William nos assuntos familiares tem se tornado cada vez mais significativa.

Robert Hardman, jornalista e autor do livro Charles III: New King. New Court. The Inside Story (Charles 3º: Novo Rei. Nova Corte. A História por Dentro, em tradução livre), diz que a relação entre Charles e seu filho mais velho "atingiu um novo nível de compreensão".

"Continuamos a tendência de olhar para William como o garoto, o aprendiz, o substituto", afirma ele. "Mas ele já é um membro de primeira linha da realeza há dez anos. Ele já viveu mais do que muitos atuais chefes de Estado."

Os perigos de falar abertamente

De maneira incomum, grande parte do que o príncipe disse sobre seu ano veio diretamente dele, em vez de ser comunicado por meio de declarações formais ou briefings.

Durante sua visita à África do Sul em novembro para o prêmio Earthshot, o projeto ambiental do príncipe, ele falou sobre sua paixão pela causa, mas também sobre as dificuldades de 2024.

"Do ponto de vista familiar, tem sido brutal", disse ele ao grupo de jornalistas que havia viajado para a Cidade do Cabo. Para alguém que sempre foi reservado no passado, sua linguagem foi surpreendentemente franca.

Sua postura também foi aberta e positiva, claramente energizado pelo Earthshot e por estar de volta à África. Mas ele deu uma ideia de como se sentia dividido ao considerar seu papel como príncipe de Gales.

"É uma situação difícil", disse ele. "Eu gosto de mais responsabilidades? Não. Eu gosto da liberdade de poder criar algo como o Earthshot? Sim."

Príncipe William se encontra com os finalistas do prêmio Earthshot, na Cidade do Cabo
Príncipe William se encontra com os finalistas do prêmio Earthshot, na Cidade do Cabo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O que me chamou mais atenção após passar quase uma semana na Cidade do Cabo foi como ele moldou sua visão sobre a monarquia moderna, dizendo que queria fazer seu trabalho com um "r" minúsculo em "real".

"Estou tentando fazer as coisas diferentes", ele admitiu, "e estou tentando fazer isso por minha geração."

O que ele quis dizer foi não fazer coisas da mesma forma que seu pai e sua avó.

Charles e William têm "personalidades diferentes", observa Robert Hardman. "O rei é intelectualmente mais curioso e mais engajado espiritual e teologicamente. Essas áreas não interessam muito William".

"O tom da comunicação deles é diferente. O rei segue estritamente tradicional. William tem sua própria forma de fazer as coisas".

Rei Charles e o príncipe William
Rei Charles e o príncipe William
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Alguns questionaram o jeito de fazer as coisas de William. Um crítico, Graham Smith, diretor-executivo do grupo antimonarquia Republic, argumenta contra a decisão do príncipe de focar seus esforços na questão da falta de moradia.

"[É] rude e hipócrita da parte de William se envolver nisso, dado a riqueza excessiva que lhe concedemos", argumenta ele.

No entanto, Hardman discorda da ideia de que o envolvimento de William em projetos como esse seja inadequado.

"Acho que William é atualmente um príncipe de Gales mais convencional do que seu pai era nessa idade. O príncipe Charles foi um herdeiro do trono mais radical."

"A criação do Prince's Trust [instituição de caridade fundada por Charles] soou alarmes no Palácio de Buckingham [sede da monarquia] e em Downing Street [sede do governo britânico]. William não está acionando alarmes."

O jeito de William

O príncipe William é patrono de menos projetos do que seu pai. O rei tem atualmente 669 - muitos são mantidos desde os seus 70 anos como herdeiro ao trono. A abordagem compacta e mais focada do príncipe William o deixa com cerca de 30.

É uma estratégia deliberada: menos projetos, mas maior impacto, na esperança de provocar mudanças sociais. Aqueles que trabalharam próximos a ele neste ano elogiam esta visão.

"Sua contribuição é inacreditável", disse Hannah Jones, CEO do Earthshot. "Ele estabeleceu a visão."

Mas essa ação ousada traz mais riscos.

No mês passado, viajei com o príncipe para Newport, no País de Gales, para conhecer aqueles que trabalham no seu projeto para os sem-teto na cidade.

Já haviam se passado 10 meses desde o diagnóstico de câncer de sua esposa, a quimioterapia dela estava finalizada e William me parecia menos sobrecarregado pela vida.

Ele estava no modo ouvinte e falou com dezenas de pessoas. Em algumas das conversas, percebi quantos se aventuraram na política.

O príncipe disse à equipe do projeto para pensar de forma diferente, para ser disruptiva e desafiar a forma como as coisas sempre foram feitas.

"Seguimos por um caminho muito apolítico," disse uma fonte real para mim. "Usamos nossa plataforma para reunir pessoas e lançar luz sobre uma questão social, e isso permanece inalterado. Estamos otimistas sobre o que podemos alcançar, mesmo em circunstâncias realmente difíceis."

O príncipe estadista

Nos próximos anos, William enfrentará, sem dúvidas, novos desafios em torno do seu papel. Na era atual das redes sociais, por exemplo, não há muito clima para a deferência e o respeito à monarquia.

Mas está claro, pelo trabalho que vem fazendo, que ele não vê seu futuro em lançamentos de placas e apertos de mão.

"Eu preciso ser vista para acreditarem" é uma frase atribuída à avó, a rainha Elizabeth 2ª. Para seu neto, a abordagem é mais: "Tenho que parecer que estou fazendo a diferença".

Príncipe William encontra Donald Trump em Paris em dezembro de 2024
Príncipe William encontra Donald Trump em Paris em dezembro de 2024
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Ao longo de 2024, ele organizou reuniões com muitos líderes mundiais, desde o imperador do Japão ao presidente da África do Sul, passando pelo presidente eleito dos EUA. Isso tem consolidado o seu papel no cenário global, promovendo o Reino Unido com um toque de diplomacia suave.

No próximo novembro, a cúpula climática da COP será realizada em Belém, no Brasil, e o príncipe está "ansioso para desempenhar um papel". Um Prêmio Earthshot no Brasil também pode ser uma possibilidade.

No fim das contas, o desenvolvimento do príncipe William como homem de família e estadista global está em andamento - e ele parece cada vez mais confortável em conciliar os dois papéis.

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