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Por que a Bolívia está expulsando diplomatas mexicanos e espanhóis?

A embaixadora mexicana e diplomatas espanhóis terão de voltar a seus países após incidente diplomático na sexta-feira em La Paz.

30 dez 2019 - 18h33
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A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, assumiu após a renúncia de Evo Morales em meio a protestos e pressão dos militares
A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, assumiu após a renúncia de Evo Morales em meio a protestos e pressão dos militares
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O governo da Bolívia anunciou na segunda-feira (30) a expulsão da embaixadora do México e de dois diplomatas espanhóis após um incidente na residência do diplomata mexicano.

A Espanha reagiu e anunciou a expulsão de três diplomatas bolivianos. O governo mexicano afirmou que já havia chamado sua embaixadora de volta por preocupações com a sua segurança.

Mas o que causou o repentino racha diplomático entre os países?

O caso envolve o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, que recebeu asilo no México em novembro após deixar o país em meio à turbulência política gerada pelas últimas eleições, em 20 de outubro.

Ele renunciou à Presidência logo após as Forças Armadas "sugerirem" que ele deixasse o cargo para pacificar o país, o que correligionários e apoiadores classificam como um golpe de Estado.

Uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) havia apontado indícios de fraude na apuração do processo eleitoral, em que Morales saiu vitorioso, e sugeriu a realização de um novo pleito.

O México também abriu a residência oficial da embaixadora em La Paz para diversos aliados do ex-presidente, o que levou a uma série de protestos em frente ao local.

As relações entre os países se complicaram desde então. Hoje, a Bolívia é comandada pela presidente interina Jeanine Áñez.

Quais são as acusações?

A Espanha afirma que seus representantes diplomáticos na Bolívia - incluindo a encarregada de negócios, Cristina Borreguero - fizeram uma visita de cortesia à Embaixada do México na manhã de sexta-feira (27).

A Bolívia, porém, insiste que havia razões "ocultas" e "hostis" para o encontro.

O governo interino boliviano acusa a Espanha de ser parte de uma conspiração para ajudar o homem mais procurado do país, o ex-ministro da Presidência Juan Ramón Quintana, a sair do país.

Evo Morales, ao centro, e Juan Ramon Quintana, à direita, em 2016
Evo Morales, ao centro, e Juan Ramon Quintana, à direita, em 2016
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O governo espanhol "nega veementemente que tenha havido qualquer tentativa de facilitar a saída de pessoas refugiadas no prédio", de acordo com comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Quintana, o principal assessor de Evo Morales, é acusado, assim como o ex-presidente, de conspiração e terrorismo depois que os protestos pós-eleições tornaram-se conflitos violentos.

Ambos negam as alegações, e Morales está agora na Argentina.

Qual o motivo das tensões na região?

Os críticos de Morales vêm se reunindo em frente à embaixada mexicana para pedir que Quintana seja entregue às autoridades.

O Ministério das Relações Exteriores do México reclama, há dias, do "cerco" à residência - que fica num complexo residencial chamado La Rinconada -, com forte presença de policiais e militares bolivianos.

Manifestantes têm se reunido na frente do complexo La Rinconada, onde fica a residência oficial da embaixadora mexicana, em La Paz
Manifestantes têm se reunido na frente do complexo La Rinconada, onde fica a residência oficial da embaixadora mexicana, em La Paz
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A pasta acusa as autoridades bolivianas de intimidar seu corpo diplomático e pediu que o Tribunal Penal Internacional faça a mediação da situação.

De acordo com o jornal espanhol El País, as tensões aumentaram na sexta-feira quando manifestantes reagiram à saída de uma van da residência - eles acreditavam que Quintana viajava no veículo.

A publicação afirma, porém, que se tratou de um alarme falso: a van levava uma geladeira.

O que fizeram os diplomatas espanhóis?

O encontro na embaixada durou 40 minutos, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores do México.

O problema teria começado, segundo a pasta, quando a polícia boliviana bloqueou a entrada dos carros - com placas de veículos oficiais - que buscariam os espanhóis no complexo residencial

Veículos entrando e saindo do complexo residencial La Rinconada, onde fica a embaixada mexicana, foram revistados
Veículos entrando e saindo do complexo residencial La Rinconada, onde fica a embaixada mexicana, foram revistados
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O embaixador mexicano teria ouvido gritos - não está claro de quem - e, então, convidado a delegação espanhola para retornar à residência.

O ministério diz que as autoridades bolivianas avisaram os visitantes de que poderiam sair andando do condomínio, mas os diplomatas temeram por sua segurança.

Em meio à tensão, a embaixadora mexicana, María Teresa Mercado, fez um tuíte - posteriormente deletado - em que acusava as autoridades bolivianas de violar a Convenção de Viena - que garante os direitos de diplomatas.

O El País afirma que agentes especiais da polícia espanhola estavam presentes e cobriram seus rostos para não serem fotografados.

A Bolívia, entretanto, afirma que eles estariam mascarados por ser parte de uma operação secreta.

"O comportamento hostil ao entrar secretamente na residência do México na Bolívia, desafiando as autoridades e o povo boliviano, são fatos que não podemos deixar passar e que geraram consequências", afirmou a presidente interina do país.

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