Por que a Coreia do Norte segue testando mísseis
País asiático testou um míssil balístico intercontinental pela primeira vez desde 2017.
A Coreia do Norte testou um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) pela primeira vez desde 2017, informaram a Coreia do Sul e o Japão.
Autoridades japonesas disseram que o míssil percorreu 1,1 mil km e caiu em águas japonesas depois de voar por mais de uma hora.
Os ICBMs, desenvolvidos para carregar armas nucleares, poderiam fazer com que a Coreia do Norte tenha capacidade de atingir o continente dos EUA.
O teste está sendo visto como uma grande escalada por parte da Coreia do Norte e foi condenado por seus vizinhos e pelos EUA.
A Coreia do Norte lançou uma série de testes de mísseis nas últimas semanas.
Os EUA e a Coreia do Sul disseram que alguns desses testes, que Pyongyang alegou serem lançamentos de satélites, eram, na verdade, testes de partes de um sistema ICBM.
O míssil de quinta-feira (24/3) parecia ser mais novo e mais poderoso do que o que a Coreia do Norte disparou há cinco anos, atingindo uma altitude de mais de 6 mil km, segundo autoridades japonesas.
Os militares da Coreia do Sul responderam com cinco testes de mísseis próprios, de terra, mar e ar.
Os EUA condenaram a Coreia do Norte por uma "violação descarada" das resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
"A porta não se fechou para a diplomacia, mas Pyongyang deve cessar imediatamente suas ações desestabilizadoras", declarou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, condenou o que disse ser uma "violação da suspensão dos lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais prometida pelo presidente Kim Jong-un à comunidade internacional".
Um sinal da expansão do alcance nuclear do Norte?
Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha, em Seul
O regime de Kim Jong-un está determinado não apenas a manter a Coreia do Sul refém de ameaças militares que podem burlar as defesas antimísseis e capacidades de ataque preventivo de Seul, mas também quer expandir seu alcance nuclear sobre o território americano para impedir Washington de sair em defesa de aliados dos EUA.
A Coreia do Norte não está nem perto de iniciar uma agressão na escala da invasão russa à Ucrânia. Mas as ambições de Pyongyang também vão além da autodefesa, já que o país quer reverter a ordem de segurança do pós-guerra na Ásia.
A eficácia das sanções existentes está diminuindo devido à aplicação frouxa de alguns países.
Dada a falta de cooperação da China e da Rússia no Conselho de Segurança da ONU, os EUA e seus aliados provavelmente vão precisar sancionar mais entidades nesses países e em outros lugares, que estão ajudando os programas de armas da Coreia do Norte.
A expectativa é de que o governo do presidente eleito na Coreia do Sul, Yoon Seok-yeol, aumente os exercícios de defesa com os EUA e a cooperação de segurança com o Japão.
Os EUA e a Coreia do Sul alertaram nas últimas semanas que a Coreia do Norte poderia estar se preparando para testar um ICBM com alcance total pela primeira vez desde 2017.
Em 16 de março, a Coreia do Norte lançou um míssil que pareceu explodir logo após a decolagem sobre Pyongyang, disseram militares sul-coreanos.
A ONU proibiu a Coreia do Norte de realizar testes de armas balísticas e nucleares e impôs sanções severas após testes anteriores.
Em 2017, a Coreia do Norte realizou vários testes de ICBM, sendo que o último envolveu um míssil Hwasong-15, que atingiu uma altitude de 4,5 mil km.
Especialistas estimaram que o Hwasong-15 poderia ter viajado mais de 13 mil km, se tivesse sido disparado em uma trajetória padrão, o que significava que poderia atingir qualquer parte do território continental dos EUA.
Acredita-se que o último lançamento seja o maior teste de ICBM já realizado pela Coreia do Norte — e envolveu um míssil ainda mais potente, possivelmente o novo Hwasong-17, apresentado em 2020, mas não testado até agora.
Em 2018, Kim Jong-un anunciou uma suspensão nos testes de armas nucleares e mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) de longo alcance, após negociações com o então presidente dos EUA, Donald Trump.
Mas em 2020, Kim anunciou que não estava mais preso à declaração de moratória.
O lançamento de quinta-feira acontece logo depois de imagens de satélite terem mostrado, no início deste mês, atividades no centro de testes nucleares de Punggye-ri, alimentando temores de que a Coreia do Norte volte a testar armas nucleares e mísseis de longo alcance.
A instalação, localizada no nordeste do país, foi fechada em 2018 depois que Kim prometeu interromper todos os testes nucleares.
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