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Por que adversários e analistas já discutem uma possível queda de Trump, 4 meses após posse?

17 mai 2017 - 16h10
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Em apenas quatro meses no cargo, Trump se viu envolvido em uma série de polêmicas
Em apenas quatro meses no cargo, Trump se viu envolvido em uma série de polêmicas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em menos de 24 horas, Donald Trump se viu às voltas com duas crises: a revelação de que compartilhou informações confidenciais de inteligência com o governo russo e a acusação de que teria tentado obstruir uma investigação sobre suas ligações com o Kremlin - e uma possível interferência de Moscou na eleição presidencial americana de novembro passado.

Foi o suficiente para que, apenas quatro meses depois de Trump tomar posse como presidente dos Estados Unidos, políticos e analistas aventarem a hipótese de o Congresso abrir um processo de impeachment. Na segunda-feira, o congressista democrata Al Green, por meio de comunicado, disse que o presidente deveria ser investigado e "não está acima da lei".

Um ponto de vista defendido mesmo por correligionários de Trump no Partido Republicano. O deputado da Califórnia Jared Huffman disse que republicanos precisam "colocar o país acima do partido".

Mas o que justifica o fato de uma solução política tão drástica estar sendo discutida?

"Carta-bomba"

Donald Trump está percebendo o quão perigoso é James Comey, o ex-diretor da polícia federal americana, o FBI.

Comey foi demitido sumariamente pelo presidente na semana passada, oficialmente por sua conduta na investigação de um escândalo no ano passado envolvendo a então candidata democrata à presidência, Hillary Clinton - ironicamente, um espisódio que beneficiou a campanha de Trump.

O então diretor, no entanto, estava à frente de uma investigação sobre a possível ligação de alguns nomes de peso da equipe do novo presidente com a Rússia, o que gerou acusações de que Trump estaria tentando influenciar o processo.

Na terça-feira, Comey jogou indiretamente gasolina na fogueira, quando um memorando em que ele descrevia um pedido de Trump para "aliviar" a investigação - mais especificamente fazer vista grossa para diálogos com o Kremlin do então assessor para assuntos de Segurança Nacional, Michael Flynn - foi vazado para o jornal New York Times.

E esse pode não ter sido o único memorando que Comey guarda na manga.

Fidelidade partidária?

A eleição de novembro não deu apenas vitória a Trump. Ela consolidou o controle republicano da Câmara dos Representantes e deu ao partido maioria no Senado. Sendo assim, seria necessária uma rebelião considerável para que um processo de impeachment conseguisse entrar na pauta de discussções do Legislativo.

Mas há pesos-pesados do partido expressando preocupação. Um deles é o senador e ex-candidato à Presidência John McCain, que descreveu as atribulações de Trump como um "escândalo nas proporções de Watergate" - o esquema de grampos que provocou a renúncia do presidente Richard Nixon em 1973.

E a palavra "impeachment" já está sendo ventilada por alguns políticos moderados, como o senador independente de Maine Angus King.

Só que, para a maioria dos políticos republicanos, voltar-se contra Trump será um problema para suas próprias carreiras. Afinal, o bilionário foi apoiado pela maioria dos correligionários, mesmo em situações polêmicas durante a campanha, provocadas tanto pelo estilo abrasivo de Trump quanto por revelações sobre sua conduta com mulheres.

Até agora, é bastante possível que Trump sobreviva às turbulências e que as acusações de Comey não sigam adiante. Além disso, parte do eleitorado republicano mantém a defesa do ex-presidente, creditando as crises atuais a uma suposta perseguição midiática.

Mas as incertezas servem para mostrar que Trump não é intocável e que seu futuro não é tão certo quanto parecia em 20 de janeiro, o dia de sua posse.

Dividindo segredos

Trump admitiu ter compartilhado inteligência com autoridades russas durante uma visita à Casa Branca, depois de uma revelação feita pelo jornal Washington Post, mas insiste que se trava de informações sobre o grupo radical muçulmano Estado Islâmico.

Em uma série de tuítes publicados na terça-feira, o presidente disse ter se tratado de um movimento calculado e que levou em conta os interesess da segurança nacional americana.

Nesta quarta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que entregará ao Congresso americano, se este assim desejar, o relatório referente ao encontro com Trump, para que os detalhes sejam analisados.

HR McMaster, o assessor de Segurança Nacional que substituiu Michael Flynn (que pediu demissão em fevereiro, sob acusações de que fazia negociações políticas com os russos sem o aval da Casa Branca), disse que a conduta de Trump foi "inteiramente apropriada".

Teoricamente, o presidente tem poderes para tirar a confidencialidade de qualquer informação que achar necessária. Isso, porém, não quer dizer que adversários e o público vão simplesmente aceitar.

O fator russo

Alegações de um relacionamento cordial com o grande adversário geopolítico americano acompanham Trump desde o início de sua campanha à Presidência.

Ele não ajudou muito ao fazer elogios públicos a Vladimir Putin, mas o foco do problema é a alegação de que Moscou teria influenciado o resultado da eleição com o uso de espionagem. Além disso, seu procurador-geral, Jeff Sessions, teve encontros secretos com o embaixado russo em Washington, Sergei Kislyak.

Na semana passada, Kislyak fez parte da comitiva que visitou a Casa Branca e que foi capitaneada pelo ministro das Relações Exteriores do país, Sergei Lavrov. A visita ocorreu apenas horas depois do anúncio da demissão de James Comey.

Aliados irritados

Em janeiro, o jornal israelense Yedioth Ahronoth publicou uma reportagem em que autoridades de inteligência do país mostravam preocupação em relação ao compartilhamento de informações confidenciais com a administração Tump por "medo de vazamentos para a Rússia".

E a reportagem do Washington Post que divulgou o compartilhamento de informações com a Rússia citava que os segredos tinham sido obtidos junto a um "aliado-chave" dos EUA com "grande acesso às operações do Estado Islâmico". Segundo a mídia americana, tal aliado era Israel.

A embaixada de Israel em Washington declarou ter "plena confiança no relacionamento de compartilhamento de inteligência com os EUA", mas há quem acredite que houve danos. O site Buzzfeed News citou uma fonte da comunidade de inteligência israelense que expressou preocupação por meio da frase: "Nossos piores temores se concretizaram".

Queda-de-braço com "arapongas"

A polêmica do compartilhamento de informações sigilosas com a Rússia ocorre em um momento de feudo entre o presidente e os serviços de inteligência, a quem Trump acusa de vazamentos.

Em janeiro, ele igualou os vazamentos ao nazismo na Alemanha. Trump ficou irritado porque a mídia americana obteve uma série de informações sigilosas - e embaraçosas, como ligações telefônicas tensas com o premiê australiano e o presidente do México.

Trump ameaçou fazer uma imensa reorganização da estrutura de inteligência dos EUA, mas parece que a comunidade de inteligência está contra-atacando, ameaçando ainda mais turbulências para o governo atual.

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