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Por que dezenas de potenciais jurados foram descartados no julgamento de Trump

Ex-presidente americano está sendo julgado em Nova York meses antes da eleição americana, onde ele concorre contra Joe Biden.

16 abr 2024 - 10h11
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Donald Trump
Donald Trump
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Dezenas de potenciais jurados foram excluídos do julgamento criminal do ex-presidente americano Donald Trump em Nova York por imparcialidade.

Trump é acusado de ter falsificado registros comerciais para ocultar um pagamento secreto feito à estrela pornográfica Stormy Daniels, pouco antes das eleições de 2016, que ele venceu. O ex-presidente nega a acusação.

Sessenta dos 96 potenciais jurados declararam que não poderiam ser imparciais depois que o processo começou na segunda-feira (15/4).

A seleção do júri continua nesta terça-feira e pode levar até duas semanas.

Aqueles que não foram descartados imediatamente no primeiro dia responderam a diversas perguntas — inclusive sobre seus hábitos de leitura de livros e notícias.

"Eu simplesmente não consegui", disse uma candidata a jurada ao deixar o tribunal na segunda-feira.

O alto número de jurados descartados é uma indicação de quão desafiador se tornou encontrar um grupo de 12 pessoas imparciais para um caso relacionado com um escândalo sexual de grande repercussão envolvendo um ex-presidente que está novamente concorrendo à Casa Branca.

O Gabinete do Procurador Distrital de Manhattan alega que Trump ordenou ao seu antigo advogado, Michael Cohen, que pagasse a Daniels US$ 130 mil dólares (mais de R$ 650 mil) em troca do seu silêncio sobre um suposto encontro sexual que o ex-presidente nega ter ocorrido.

Os promotores dizem que ele fez isso para "influenciar ilegalmente" as eleições de 2016. Trump se declarou inocente.

A seleção do júri começou à tarde. O juiz começou dispensando os jurados que levantaram a mão para dizer que não podiam ser imparciais, restando cerca de 34 pessoas.

Os que ficaram foram então interrogados com 42 perguntas do questionário do júri, incluindo sobre os seus hábitos de leitura de notícias, se tinham participado em quaisquer comícios de Trump ou lido algum dos livros do ex-presidente.

Dezoito foram colocados aleatoriamente na bancada do júri e responderam ao questionário um por um.

Um homem do centro de Manhattan disse que lia o Wall Street Journal. Outro, do Upper West Side, disse que seus hábitos de rádio incluíam ouvir o que quer que estivesse passando enquanto estava no chuveiro. Mais tarde, ele esclareceu que se referia à NPR, a rádio pública americana.

Nenhum dos dois foi descartado imediatamente.

A uma mulher, foi perguntado: "Você tem alguma opinião forte ou crença firme sobre o ex-presidente Donald Trump, ou o fato de ele ser um atual candidato à presidência, que possa interferir na sua capacidade de ser um jurado justo e imparcial?"

Ela simplesmente respondeu "sim" e foi descartada. A equipe de Trump chegou a se opor à saída dela, mas não explicou os motivos.

Todos os jurados permanecerão anônimos devido à natureza sensível e de grande repercussão do caso, embora a equipe jurídica de Trump e os promotores conheçam suas identidades.

Silêncio de Trump

Trump permaneceu calado durante o dia, falando com os seus advogados em voz baixa, mas mantendo uma expressão séria.

Sua equipe negou sugestões de que o ex-presidente estava com dificuldades para manter os olhos abertos e que pegou no sono durante o processo, dizendo ao Independent: "Estas são 100% notícias falsas, vindas de 'jornalistas' que nem estavam no tribunal."

Trump só pronunciou três palavras ao juiz Juan Merchan durante toda a manhã de segunda-feira. Ele disse três vezes a palavra "sim" quando questionado sobre qual conduta era exigida no tribunal.

Fora do tribunal, no entanto, Trump disse que o julgamento era um "absurdo" e um "ataque à América".

Os comentários públicos de Trump sobre o caso foram objeto de vários minutos de debate durante a manhã no tribunal.

Os promotores argumentaram que algumas das postagens de Trump em seu site de mídia social, Truth Social, violavam uma ordem de silêncio que o juiz Merchan lhe impôs. A ordem proíbe Trump de fazer comentários públicos sobre pessoas relacionadas ao caso, incluindo potenciais testemunhas.

A ordem foi estendida aos parentes dos envolvidos depois que Trump atacou a filha do juiz Merchan nas redes sociais.

O Gabinete do Procurador Distrital de Manhattan pediu ao juiz Merchan que multasse Trump em US$ 3 mil (mais de R$ 15 mil) no total por três postagens. Isso inclui uma postagem no fim de semana, quando ele chamou seu ex-advogado - e testemunha no julgamento - Michael Cohen de "advogado desgraçado e criminoso".

O juiz marcou a data da audiência para 24 de abril para tomar uma decisão sobre o pedido de multa.

Na segunda-feira, o juiz deliberou sobre quais provas serão permitidas no tribunal.

A defesa e a acusação discutiram sobre o áudio vazado de Trump, divulgado pouco antes das eleições de 2016. No clipe, retirado de uma gravação do programa da NBC Access Hollywood, Trump fala sobre agarrar mulheres pelos órgãos genitais.

Os promotores pediram para incluir uma série de e-mails entre os funcionários da campanha de Trump e o repórter do Washington Post que divulgou a reportagem do Access Hollywood, que incluía uma transcrição da fita.

O juiz recusou-se a permitir que o áudio fosse reproduzido para os jurados, mas disse que os promotores poderiam se referir ao que Trump disse na fita.

Uma mulher segura uma faixa em frente ao tribunal criminal de Nova York
Uma mulher segura uma faixa em frente ao tribunal criminal de Nova York
Foto: EPA / BBC News Brasil

Ao longo do dia, Trump foi aplaudido por dezenas de pessoas que se manifestaram pacificamente, mas de forma barulhenta, fora do tribunal.

Eles incluíam um homem tocando o hino americano, The Star-Spangled Banner, na flauta por horas e uma pessoa que imitava Trump usando uma peruca loira e gravata vermelha.

Mas também havia manifestantes contra Trump na multidão. Uma delas segurava uma faixa que dizia: "Condene Trump já".

O julgamento é um dos quatro processos criminais que o ex-presidente enfrenta. Mas poderá ser o único caso a ir a julgamento antes das eleições presidenciais de 2024 — uma revanche entre Trump e o atual presidente, Joe Biden.

Se for condenado, Trump será o primeiro candidato de um grande partido a concorrer à presidência como condenado por um crime. Nenhuma lei o impede de fazer isso.

O juiz Merchan também rejeitou um pedido da defesa para que Trump fosse dispensado do julgamento na próxima quinta-feira, para que pudesse participar de uma sessão da Suprema Corte sobre um pedido de imunidade que ele levantou em outro de seus processos criminais.

"Aparecer perante a Suprema Corte é uma grande coisa. Um julgamento na Suprema Corte de Nova York… também é uma grande coisa. Eu vou vê-lo aqui na próxima semana", disse o juiz Merchan.

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