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Por que Israel lançou centenas de ataques contra a Síria após queda de Assad

Israel tem realizado uma série de ataques aéreos contra a Síria — e ocupou mais território na região das Colinas de Golã.

11 dez 2024 - 12h30
(atualizado às 13h25)
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A fumaça tomou conta após os ataques aéreos em Damasco na manhã de terça-feira (10/12)
A fumaça tomou conta após os ataques aéreos em Damasco na manhã de terça-feira (10/12)
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Israel realizou centenas de ataques aéreos contra bases militares na Síria nos últimos dias, e também deslocou tropas para a "zona tampão" desmilitarizada nas Colinas de Golã, ampliando a quantidade de território sírio sob controle israelense.

O país diz que está tomando estas medidas para garantir a segurança de seus cidadãos, mas há quem diga que está aproveitando a oportunidade para enfraquecer um adversário de longa data.

Que tipo de ataques aéreos Israel tem realizado?

Mapa dos ataques aéreos israelenses na Síria desde 8 de dezembro
Mapa dos ataques aéreos israelenses na Síria desde 8 de dezembro
Foto: BBC News Brasil

O Observatório Sírio de Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês), com sede no Reino Unido, afirma ter documentado mais de 310 ataques das Forças de Defesa de Israel (FDI) desde a queda do regime de Bashar al-Assad no domingo (8/12).

Os ataques supostamente tiveram como alvo instalações militares do Exército sírio desde em Aleppo, no norte, até em Damasco, no sul, incluindo armazéns de armas, depósitos de munição, aeroportos, bases navais e centros de pesquisa.

Rami Abdul Rahman, fundador do SOHR, disse que os ataques estão destruindo "todas as capacidades do Exército sírio", e afirmou que "terras sírias estão sendo violadas".

Israel argumenta que suas ações são para evitar que as armas caiam "nas mãos de extremistas", à medida que a Síria faz a transição para uma era pós-Assad.

Quais são as preocupações de Israel em relação às armas químicas?

Suposto ataque químico em Douma, perto de Damasco, conduzido por forças leais a Assad em 2018
Suposto ataque químico em Douma, perto de Damasco, conduzido por forças leais a Assad em 2018
Foto: AFP / BBC News Brasil

Israel está preocupado com quem pode colocar as mãos no suposto arsenal de armas químicas de Bashar al-Assad.

Não se sabe onde ou quantas destas armas a Síria possui, mas acredita-se que o ex-presidente mantinha um arsenal delas.

Na segunda-feira (9/12), o órgão de vigilância química da Organização das Nações Unidas (ONU) alertou as autoridades na Síria para garantir que qualquer eventual estoque de armas químicas esteja em segurança.

Ake Sellstrom, ex-inspetor-chefe de armas da ONU na Síria, e agora professor de histologia na Universidade de Umea, na Suécia, afirma que Israel tem visado as instalações de armas químicas da Síria com seus ataques aéreos.

"O que Israel está fazendo é eliminar ativos", afirmou ele à BBC. "Podem ser pessoas, podem ser instalações ou podem ser equipamentos."

Sabe-se que as forças leais a Bashar al-Assad usaram gás sarin em um ataque a um subúrbio da capital síria, chamado Ghouta, em 2013, que teria matado mais de mil pessoas.

Eles também são acusados de usar armas químicas, como gás sarin e gás cloro, em outros ataques mais recentes.

Sellstrom diz que as forças rebeldes também podem ter estoques de armas químicas, uma vez que sabe-se que já as usaram antes contra seus inimigos na Síria.

"Assad tinha essas armas para marcar posição no conflito com Israel, mas nunca as usaria em primeira mão. Agora você tem um governo totalmente diferente."

"Israel está entrando para fazer a limpa... o que quer que eles tenham em termos de armas químicas".

O que Israel está fazendo nas Colinas de Golã?

Mapa mostrando onde as forças rebeldes estão na Síria e na região das Colinas de Golã que Israel ocupou recentemente
Mapa mostrando onde as forças rebeldes estão na Síria e na região das Colinas de Golã que Israel ocupou recentemente
Foto: BBC News Brasil

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou que suas tropas assumiram o controle da "zona tampão" (região neutra) desmilitarizada nas Colinas de Golã — ampliando a quantidade de território sírio que ocupa nesta região.

Ele disse que esta era uma "posição defensiva temporária até que um acordo adequado seja encontrado".

"Israel afirmou que quer evitar que qualquer ataque, como o de 7 de outubro de 2023, do Hamas, aconteça a partir da Síria", diz Gilbert Achcar, professor da Universidade SOAS, em Londres.

"Mas esta é uma oportunidade de avançar e impedir que outras forças se aproximem da fronteira da zona ocupada."

A tomada da "zona tampão" desmilitarizada por Israel foi fortemente condenada por meio de declarações de países árabes, com a medida sendo descrita como "uma ocupação do território sírio e uma violação flagrante do acordo de retirada de 1974" pelo Ministério das Relações Exteriores do Egito na segunda-feira.

Relatórios sírios afirmaram que os avanços israelenses haviam ultrapassado a "zona tampão" e chegado a 25 quilômetros de Damasco — mas fontes militares israelenses negaram.

As Forças de Defesa de Israel reconheceram pela primeira vez que suas tropas estão operando além da "zona tampão" desmilitarizada nas Colinas de Golã, mas seu porta-voz, Nadav Shoshani, disse que a incursão israelense não havia ido significativamente mais longe.

O que são as Colinas de Golã?

As Colinas de Golã são um planalto rochoso no sudoeste da Síria, ocupado por Israel há mais de meio século.

Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, a Síria bombardeou Israel a partir das alturas, mas Israel rapidamente rechaçou as forças sírias, e tomou cerca de 1.200 km² da região, que colocou sob controle militar.

A Síria tentou retomar as Colinas de Golã durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973, mas fracassou.

Os dois países assinaram um armistício em 1974, e uma força de observadores da ONU está presente na linha de cessar-fogo desde 1974.

Mas Israel anexou a área em 1981, em uma ação que não foi reconhecida pela grande maioria da comunidade internacional.

A Síria disse que não vai fazer nenhum acordo de paz com Israel, a menos que o país se retire de toda a região das Colinas de Golã.

A maioria dos habitantes árabes sírios das Colinas de Golã fugiu durante a guerra de 1967.

Atualmente, há mais de 30 assentamentos israelenses na região de Golã, onde vivem cerca de 20 mil pessoas. Os israelenses começaram a construí-los quase imediatamente após o fim do conflito de 1967.

Os assentamentos são considerados ilegais no âmbito internacional, embora Israel conteste isso.

Os colonos vivem ao lado de cerca de 20 mil sírios, a maioria deles drusos, que não fugiram quando as Colinas de Golã foram capturadas.

Os temores de segurança de Israel são justificados?

Veículo do Exército israelense perto de Majdal Shams, nas Colinas de Golã, no domingo
Veículo do Exército israelense perto de Majdal Shams, nas Colinas de Golã, no domingo
Foto: EPA / BBC News Brasil

Netanyahu disse que a ocupação da "zona tampão" nas Colinas de Golã pelas FDI deve ser temporária, mas a retirada vai depender do comportamento do próximo governo da Síria.

"Se conseguirmos estabelecer relações de vizinhança e relações pacíficas com as novas forças que estão emergindo na Síria, esse é o nosso desejo", ele afirmou.

"Mas, se não conseguirmos, vamos fazer o que for preciso para defender o Estado de Israel e a fronteira de Israel."

"O que está passando pela cabeça dos israelenses é que pode haver incursões no Golã por forças de dentro da Síria e, para garantir que não haja essa possibilidade, eles se aprofundaram mais", explica o analista geopolítico H.A. Hellyer, do Royal United Services Institute (Rusi), think tank com sede em Londres

"No entanto, Israel ocupou anteriormente território nas Colinas de Golã como medida de segurança, e depois o fortificou. E pode fazer isso novamente."

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, disse que os ataques aéreos às bases militares sírias foram realizados exclusivamente para defender seus cidadãos.

"É por isso que atacamos sistemas de armas estratégicas, como, por exemplo, armas químicas ou mísseis e foguetes de longo alcance remanescentes, para que não caiam nas mãos de extremistas", ele acrescentou.

No entanto, Achcar observa: "As armas químicas não estão espalhadas na Síria. Elas estão apenas em dois ou três lugares. Mas com mais de 300 ataques aéreos, você está tentando tornar o país muito mais fraco."

Israel considerava Bashar al-Assad "o diabo que eles conheciam", ele acrescenta, mas agora o país não tem certeza do que vai acontecer a seguir.

"Eles esperam que a Síria seja dividida entre facções em guerra, como a Líbia, e temem que surja uma facção hostil a Israel."

"Eles querem evitar que uma facção como essa use as armas do Exército sírio contra eles."

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