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Por que Trump não deve escapar de turbulências em novo governo

A equipe do novo presidente está unida por enquanto, mas, abaixo da superfície, há indícios de problemas à frente, escreve Katty Kay.

21 jan 2025 - 09h01
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Montagem com Trump e o Capitólio
Montagem com Trump e o Capitólio
Foto: BBC News Brasil

Donald Trump ama um espetáculo e adora surpreender as pessoas.

Agora que ele está de volta à Casa Branca, o mundo está esperando para ver se a versão Trump 2.0 será mais disciplinada e eficaz do que a primeira —- e caótica — encarnação.

Mas a maior diferença entre agora e o começo de seu primeiro mandato oito anos atrás é simplesmente o quão confiante ele se sente.

Ao falar com pessoas próximas a Trump, a confiança é inegável. Ele tem o Partido Republicano em sintonia, a comunidade empresarial doando dinheiro para sua posse e uma oposição cansada e, em grande parte, quieta.

A eleição foi, na verdade, acirrada, mas você não vai perceber isso observando o mundo "Maga" (o acrônimo para o lema de Trump, "Make America Great Again" — ou "Faça a América Grande de Novo").

Os apoiadores se sentem vingados e querem agir rapidamente para realizar mudanças, enfrentar os inimigos do presidente recém-eleito e transformar os Estados Unidos.

Eles acreditam que o país apoia o desprezo de Trump pela chamada agenda "woke", pela mídia tradicional e pelas elites globais.

E sua agenda reflete isso. Desde a deportação em massa de migrantes e os perdões para os manifestantes que invadiram o Capitólio, até tarifas comerciais punitivas para os vizinhos dos EUA e o fim da cidadania por nascimento, há muitas mudanças fundamentais desde o dia 1.

O efeito pode ser vertiginoso — e esse é exatamente o objetivo.

Pete Hegseth, o novo secretário de Defesa de Trump
Pete Hegseth, o novo secretário de Defesa de Trump
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A equipe que Trump leva para a Casa Branca reflete essa audácia. Já não é mais o presidente que parecia reverenciar as hierarquias e as credenciais do establishment — elite social, econômica e política do país.

Basta olhar suas escolhas para o secretário de Defesa.

Em 2016, Donald Trump escolheu Jim Mattis para liderar o Pentágono, quase idolatrando o general veterano "que todos amam".

Ele elogiou Mattis como "um homem de caráter e integridade". (Dois anos depois, Mattis renunciou em meio a divergências públicas muito claras, e Trump passou a chamá-lo de "o general mais superestimado do mundo".)

Avance para 2024, e Trump escolheu um secretário de Defesa bem diferente: Pete Hegseth, um apresentador de TV com histórico militar, mas sem experiência significativa em gestão. Ele sobreviveu às audiências de confirmação no Senado apesar de múltiplas acusações de abuso sexual e embriaguez.

Desta vez, Trump não está tentando impressionar ninguém, e o Partido Republicano parece incapaz ou desinteressado em impor limites às suas decisões.

Trump manteve Hegseth no cargo mesmo em meio a escândalos, o que pareceu ser um teste para os legisladores republicanos. Eles ousariam desafiar Trump? Não ousaram.

Divergências no governo

Por enquanto, há unidade entre os republicanos — mas, abaixo da superfície, há menos harmonia e, com isso, a perspectiva de mais caos.

O gabinete de Trump é formado por pessoas com visões surpreendentemente diferentes, que podem não trabalhar bem juntas.

Sua escolha para liderar a área de saúde, Robert F. Kennedy Jr., é um ex-democrata pró-escolha da mulher, enquanto muitos legisladores republicanos querem restringir o acesso ao aborto.

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, representa os valores econômicos tradicionais dos republicanos e vem de Wall Street, com um período de trabalho para o financista liberal George Soros.

Mas o vice-presidente de Trump, J.D. Vance, é um populista que afirma: "Estamos cansados de agradar Wall Street."

Há Elon Musk, com sua agenda de desregulamentação, trabalhando ao lado de um indicado para secretário do Trabalho que é pró-sindicatos e favorável a regulamentações de segurança para trabalhadores.

A escolha de Trump para secretário de Estado, Marco Rubio, segue a linha republicana tradicional e agressiva. Ele já chamou o presidente russo Vladimir Putin de "bandido" e "gângster".

Enquanto isso, a escolhida para diretora de inteligência nacional, Tulsi Gabbard, tem sido simpática a adversários dos EUA, incluindo a Rússia e o agora deposto líder da Síria, Bashar al-Assad. Um aliado de Trump a descreveu como uma pacifista, "o Jimmy Carter" do grupo.

Tulsi Gabbard, diretora de inteligência nacional
Tulsi Gabbard, diretora de inteligência nacional
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Aliados do presidente argumentam que essa mistura incomum de opiniões é o que torna Trump diferente e empolgante.

Um ex-assessor de Trump me disse que a uniformidade de ideias nas administrações democratas anteriores era como "um bando de papagaios". O objetivo do segundo mandato de Trump, segundo esse assessor, é sacudir um sistema de governo estagnado.

A historiadora Doris Kearns Goodwin creditou a Abraham Lincoln a criação de um gabinete composto por uma equipe cheia de seus rivais.

No caso de Trump, esta administração que está por vir parece mais uma corte do que uma República.

Os cortesãos têm suas visões divergentes e discordâncias entre si, mas precisam se aproximar o máximo possível do homem no centro de tudo para que suas agendas prevaleçam.

Eles conhecem a reputação de Trump de concordar com a última pessoa com quem conversa, e, na Casa Branca do primeiro mandato, os assessores competiam para ser essa pessoa influente.

Quando isso falhava, frequentemente vazavam informações para a imprensa na tentativa de fazer suas opiniões serem ouvidas.

Com tantas opiniões conflitantes, pode haver ainda mais vazamentos desta vez, apesar dos melhores esforços da nova chefe de gabinete, Susie Wiles.

E, assim, a grande questão para esta administração é se esse grupo surpreendentemente eclético será capaz de debater internamente e produzir os melhores resultados possíveis. Ou se o gabinete será como uma briga de escola, com alunos ansiosos se enfrentando e obstruindo uns aos outros, na tentativa de se tornarem o "favorito do professor", sem princípios claros para orientá-los.

A falta de coesão já evidente deixa alguns analistas alarmados, especialmente em questões de segurança nacional.

"Não há consenso na nova administração quando se trata de como a China é vista", diz Richard Haass, que trabalhou na administração Bush e agora é presidente emérito do Conselho de Relações Exteriores.

"Podemos antecipar lutas contínuas sobre a política americana, mais do que uma pequena inconsistência."

Por enquanto, os desejos de Trump reinam supremos. Mas o presidente sabe que, em apenas dois anos, os Estados Unidos realizarão as eleições legislativas de meio de mandato, e a conversa rapidamente mudará para o futuro. O trem republicano partirá da estação, e o presidente Trump será deixado na plataforma.

Ainda assim, ele terá influência, e uma enorme quantidade de dinheiro que lhe dará algum poder sobre a sucessão, mas a conversa seguirá em frente, e os cortesãos estarão disputando para se tornarem os próximos governantes.

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