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Premiê do Canadá renuncia; o que acontece agora

Decisão marca o fim de semanas de especulação sobre futuro político de Justin Trudeau, que viu sua popularidade despencar nos últimos meses.

6 jan 2025 - 13h50
(atualizado às 14h15)
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Trudeau assumiu em 2015
Trudeau assumiu em 2015
Foto: Carlos Osorio/Reuters / BBC News Brasil

O primeiro-ministro canadense Justin Trudeau comunicou nesta segunda-feira (6/1) sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro e à liderança de seu partido.

"O país merece uma escolha real" na próxima eleição, afirmou em pronunciamento, emendando que, para ele, ficou claro que, se tiver que lutar "batalhas internas", não tem como ser a melhor opção na cédula de voto para os canadenses.

O anúncio foi feito em meio a um cenário de crise política no Canadá, aprofundado com a renúncia, em dezembro, da vice-premiê e ministra de Finanças Chrystia Freeland.

Ela e Trudeau vinham tendo uma série de desentendimentos em relação à condução da economia do país, em especial à estratégia para reagir à ameaça representada pela agenda protecionista do presidente eleito dos Estados Unidos, Donaldo Trump, que toma posse no próximo dia 20 de janeiro.

A renúncia de Trudeau ocorre dois dias antes da reunião nacional do Partido Liberal, à sigla da qual ele é filiado, e encerra quase uma década em que ele permaneceu como primeiro-ministro do Canadá.

A decisão marca o fim de semanas de especulação sobre o futuro político de Trudeau, que viu sua popularidade entre seus pares e o eleitorado canadense despencar.

O momento de instabilidade política ocorre enquanto o país enfrenta uma série de desafios, entre eles o segundo mandato de Trump na Casa Branca.

O novo presidente americano prometeu impor tarifa de 25% sobre produtos canadenses se o país não proteger sua fronteira compartilhada contra o fluxo de migrantes irregulares e drogas ilegais - uma alíquota que economistas alertam que pode ser devastadora para a economia canadense.

O "grave desafio" representado pela mudança de comando nos Estados Unidos foi mencionado na carta de renúncia de Freeland, que deixou o cargo repentinamente em meados de dezembro, dizendo que não tinha certeza se Trudeau havia levado a ameaça a sério o suficiente.

O premiê estava sob pressão de membros de seu próprio partido para renunciar desde o meio do ano passado, depois que os liberais sofreram uma derrota histórica para seus rivais conservadores.

Em dezembro, apenas 22% dos canadenses disseram aprovar seu governo, o menor número desde que ele assumiu o poder, em 2015.

A ex-ministra das Finanças, Chrystia Freeland, renunciou em dezembro
A ex-ministra das Finanças, Chrystia Freeland, renunciou em dezembro
Foto: Blair Gable/Reuters / BBC News Brasil

Enquanto isso, Pierre Poilievre, o líder do Partido Conservador do Canadá, tem aparecido quase 24 pontos à frente de Trudeau, sinalizando a possibilidade de uma grande derrota para os liberais na próxima eleição, marcada para outubro.

Embora o Canadá tenha um sistema multipartidário, apenas os conservadores e os liberais conseguiram historicamente formar governos.

Trudeau já havia indicado sua intenção de concorrer novamente, mas, após a renúncia de Freeland em dezembro, a pressão sobre o primeiro-ministro cresceu dentro de seu próprio partido para renunciar.

"Ele está delirando se acha que podemos continuar assim", disse o deputado de New Brunswick Wayne Long a repórteres antes do feriado de Natal.

O que acontece agora?

De acordo com a constituição do Partido Liberal, o líder pode apresentar sua renúncia a qualquer momento, desencadeando uma disputa pela liderança.

Esse processo normalmente leva alguns meses. Não está claro se os membros do Partido Liberal tentarão acelerar esse processo, dado o fato de que 2025 é um ano eleitoral no Canadá.

Trudeau esclareceu durante o pronunciamento que permaneceria no cargo até que um substituto fosse definido.

Quem pode suceder Trudeau?

Antes da renúncia do primeiro-ministro, alguns nomes já vinham sido apontados como possíveis sucessores.

A ex-vice-primeira-ministra Chrystia Freeland tem sido considerada há muito tempo como uma possível sucessora de Trudeau. Ela é uma deputada de Toronto e trabalhou como jornalista antes de entrar na política.

Freeland foi a primeira mulher ministra das finanças do Canadá antes de renunciar abruptamente em dezembro do ano passado, devido a uma rixa entre ela e Trudeau em torno dos gastos do governo e como lidar com a ameaça de tarifas de importações anunciadas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump.

O ex-banqueiro Mark Carney, que já foi chefe do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra, é um liberal de carteirinha que tem servido nos últimos meses como conselheiro especial de Trudeau. Ele estaria disputando o cargo de liderança do partido há algum tempo.

Mélanie Joly, a ministra das relações exteriores, é uma política de Quebec que, como Trudeau, representa um distrito da área de Montreal. Advogada formada em Oxford, Joly é um rosto conhecido para muitos, tendo representado o Canadá no cenário mundial desde 2021. Ela foi escolhida diretamente por Trudeau para concorrer como política na esfera federal.

Dominic Leblanc, ministro das finanças e assuntos intergovernamentais, é um amigo de longa data de Trudeau e um de seus aliados mais próximos, em quem se confia para assumir pastas em dificuldades políticas ou em crises. Ele é parlamentar há mais de duas décadas e já havia demonstrado ambições de liderar o Partido Liberal, fazendo campanha em 2008, mas perdendo para Michael Ignatieff.

Christy Clark, ex-primeira-ministra da Colúmbia Britânica, havia se afastado do cenário político federal, mas expressou nos últimos meses seu interesse em jogar seu chapéu no ringue de liderança liberal

O caminho de Trudeau até o poder

Como filho do ex-primeiro-ministro Pierre Trudeau, muitos já previam a entrada do jovem Trudeau no cenário político.

De fato, não demorou muito para que Justin Trudeau fosse eleito com sucesso para a Câmara dos Comuns para representar o distrito de Papineau, em 2008. Questionado sobre suas ambições naquele momento, o jovem Trudeau afirmou: "Acabei de ser contratado para fazer um trabalho", na manhã seguinte à eleição.

Poucos anos depois, após ser eleito líder do Partido Liberal em 2013, ele conseguiu mudar a sorte de seu partido ao garantir uma vitória histórica em 2015, tornando-se primeiro-ministro aos 44 anos.

Embora tenha conseguido liderar o partido em duas eleições subsequentes, tornando-se o líder mais antigo de seus pares do G7, seu tempo no cargo foi turbulento.

Ele se envolveu em uma série de escândalos políticos durante seu mandato. Um deles, quando vieram a tona fotos em que ele aparece usando a chamada maquiagem blackface.

A prática de pintar o rosto e o corpo para escurecer a pele é considerada ofensiva e racista. Ele tinha 29 anos quando as fotos foram tiradas e, quando vieram à tona, em 2019, pediu desculpas publicamente.

No ano seguinte, um novo escândalo ético envolveu um contrato governamental potencialmente grande para uma instituição de caridade que havia trabalhado com membros da família Trudeau.

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