Preocupados com déficit, republicanos radicais rejeitam pedido de Trump quanto a teto de endividamento
Republicanos linha-dura do Congresso dos Estados Unidos, que normalmente apoiam de forma efusiva o presidente eleito, Donald Trump, estão resistindo a sua pressão para que elevem o limite da dívida federal norte-americana, mantendo sua crença de que os gastos governamentais precisam ser reduzidos e desafiando até promessas de vingança por parte do futuro mandatário.
Trinta e oito republicanos da Câmara dos Deputados votaram contra um projeto de lei do teto da dívida, agindo contra a vontade de Trump e mostrando os limites que o futuro presidente enfrentará para controlar o partido antes de assumir o cargo, em 20 de janeiro.
Foi a primeira vez que o Congresso recebeu uma solicitação de aprovar uma prioridade de Trump desde que ele foi eleito. Embora algumas das escolhas para o seu gabinete tenham atraído críticas da legenda, aqueles que ousaram tecer comentários negativos, como o ex-parlamentar Matt Gaetz, fizeram isso por conta própria.
Mas o pedido de Trump para que houvesse uma suspensão do limite para o governo tomar empréstimos, em momento no qual a dívida pública federal passa de 36 trilhões de dólares, é contraditória com um antigo discurso republicano sobre descontrole fiscal.
"Suspender o teto da dívida totalmente neste momento permitiria ao Congresso, por dois anos, adicionar uma quantidade ilimitada de dívida no nosso montante de 36 trilhões de dólares, sem reformas para conter gastos irresponsáveis", afirmou a deputada republicana Nancy Mace, uma das 38 que foram contra o projeto de lei.
A derrubada significa que uma paralisação parcial do governo começará no sábado, caso o Congresso não tome alguma atitude.
Trump tem priorizado a realização de mais cortes de impostos em seu segundo mandato, algo que, segundo especialistas, pode adicionar mais 4 trilhões de dólares à dívida pública na próxima década. Ele deu ao CEO da Tesla, Elon Musk, e ao ex-candidato presidencial Vivek Ramaswamy a tarefa de identificar formas de diminuir os gastos do governo.
A maior parte dos republicanos que votaram contra o projeto de lei na quinta-feira são de distritos consolidadamente conservadores, em Estados como Virgínia Ocidental, Carolina do Sul, Utah, Flórida, Texas, Pensilvânia e Arizona.
Trump tem ameaçado apoiar rivais internos deles nas eleições de meio de mandato, em 2026: "Os obstrucionistas republicanos precisam ser eliminados", afirmou ele em publicação na plataforma Truth Social.
O deputado Chip Roy, considerado linha-dura, afirmou em discurso inflamado na noite de quinta-feira que não votaria a favor do aumento do teto da dívida sem ver um plano específico para cortes de gastos para compensá-lo.
"Isso é um impeditivo para mim. Se eu perder, tudo bem. Posso ir para casa e ser feliz", afirmou.
A derrota aumentou a pressão sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Mike Johnson, que lidera uma maioria fragmentada e estreita e que muitas vezes teve de contar com os votos democratas para aprovar matérias-chave.
Os republicanos terão uma maioria ainda menor — inicialmente de 219 a 215 cadeiras — quando o novo Congresso for empossado em 3 de janeiro, e os deputados decidirem se reelegem Johnson.