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Presidente da Geórgia chama governo de ilegítimo, premiê diz que oposição planeja revolução

30 nov 2024 - 16h04
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A presidente da Geórgia, Salome Zourabichvili, chamou disse neste sábado que o governo do país é ilegítimo e disse que não deixará o cargo quando seu mandato terminar no próximo mês, desafiando o primeiro-ministro, que acusou as forças de oposição pró-UE de planejar uma revolução.

O país do sul do Cáucaso entrou em crise na quinta-feira, quando o partido Sonho Georgia, do primeiro-ministro Irakli Kobakhidze, disse que estava interrompendo as negociações de adesão à União Europeia pelos próximos quatro anos devido ao que chamou de "chantagem" do bloco contra a Geórgia, revertendo abruptamente um objetivo nacional de longa data.

A adesão à UE é extremamente popular na Geórgia, que tem o objetivo de aderir ao bloco consagrado em sua Constituição, e o congelamento repentino das negociações de adesão provocou grandes protestos no país montanhoso de 3,7 milhões de habitantes.

Em um discurso neste sábado, Zourabichvili, que é pró-UE e cujos poderes são principalmente cerimoniais, disse que o Parlamento não tem o direito de eleger seu sucessor quando seu mandato terminar em dezembro, e que ela permanecerá no cargo.

Zourabichvili e outros críticos do governo afirmam que a eleição de 26 de outubro, na qual o partido Sonho Georgia obteve quase 54% dos votos, foi fraudada e que o Parlamento eleito é ilegítimo.

"Não existe um Parlamento legítimo e, portanto, um Parlamento ilegítimo não pode eleger um novo presidente. Portanto, não pode haver posse, e meu mandato continua até que um Parlamento legitimamente eleito seja formado", disse ela.

Anteriormente, Kobakhidze acusou os oponentes da suspensão da adesão à UE de estarem planejando uma revolução, nos moldes do protesto Maidan de 2014 na Ucrânia, que depôs um presidente pró-russo.

"Algumas pessoas querem repetir esse cenário na Geórgia. Mas não haverá Maidan na Geórgia", disse Kobakhidze.

O Ministério do Interior do país disse neste sábado que prendeu 107 pessoas na capital, Tbilisi, durante a noite, em um protesto em que os manifestantes construíram barricadas ao longo da avenida Rustaveli, no centro, e lançaram fogos de artifício contra a polícia de choque, que usou canhões de água e gás lacrimogêneo para dispersá-los.

A agência de inteligência interna da Geórgia, o Serviço de Segurança do Estado, disse que "partidos políticos específicos" estão tentando "derrubar o governo pela força".

MAIS MANIFESTANTES SE REÚNEM

Muitos milhares de manifestantes estavam se reunindo no final deste sábado em Tbilisi, montando barricadas do lado de fora do Parlamento em meio a uma grande presença da polícia de choque, e a mídia local relatou protestos em vilas e cidades em todo o país.

Centenas de funcionários dos ministérios de Relações Exteriores, Defesa, Justiça e Educação da Geórgia, e do banco central, assinaram cartas abertas condenando a decisão de congelar as negociações de adesão à UE.

Grandes empresas, incluindo os bancos listados em Londres TBC Bank e Bank of Georgia declararam seu apoio à adesão à UE, enquanto os diplomatas mais graduados da Geórgia na Itália e na Holanda se demitiram em protesto no sábado, informou a mídia local.

Khvicha Kvaratskhelia, estrela da equipe nacional de futebol da Geórgia, manifestou-se a favor dos manifestantes.

"Meu país sofre, meu povo sofre - é doloroso e emocionante assistir aos vídeos que estão circulando, parem com a violência e a agressão! A Geórgia merece a Europa hoje mais do que nunca!", escreveu Kvaratskhelia no Facebook neste sábado.

Do lado de fora do prédio do Parlamento na capital, onde as bandeiras da UE e da Geórgia estão penduradas lado a lado, a manifestante Tina Kupreishvili disse que quer que a Geórgia mantenha o compromisso constitucional de aderir à UE.

"O povo da Geórgia está tentando proteger sua constituição, tentando proteger seu país e o Estado, e está tentando dizer ao nosso governo que o Estado de direito significa tudo", disse ela à Reuters.

A interrupção da adesão à UE encerra meses de deterioração das relações entre o Sonho Georgia, que tem enfrentado alegações de tendências autoritárias e pró-russas, e o Ocidente.

O partido é dominado por Bidzina Ivanishvili, um bilionário que já foi primeiro-ministro e que adotou posições cada vez mais antiocidentais no período que antecedeu a eleição de outubro.

Tanto o partido governista quanto a comissão eleitoral da Geórgia afirmam que a pesquisa foi livre e justa. Os países ocidentais pediram uma investigação sobre as supostas violações.

A UE já havia dito que a candidatura da Geórgia estava paralisada por causa de leis contra "agentes estrangeiros" e direitos LGBTQ+ que o bloco descreveu como draconianas e pró-russas.

Enquanto isso, o Sonho Georgia se moveu para criar laços com a vizinha Rússia, da qual a Geórgia se tornou independente em 1991.

Os dois países não têm laços diplomáticos desde uma breve guerra por uma região rebelde apoiada por Moscou em 2008, mas restauraram os voos diretos em 2023, enquanto Moscou suspendeu as restrições de visto para cidadãos georgianos no início deste ano.

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