Primeiro-ministro britânico admite que combate à pandemia poderia ter sido 'diferente' no início
Depois de o presidente americano, Donald Trump, mudar de tom em relação à crise de coronavírus nos Estados Unidos, agora o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu que o governo não entendeu o vírus nas "primeiras semanas e meses" do surto no Reino Unido.
Depois de o presidente americano, Donald Trump, mudar de tom em relação à crise de coronavírus nos Estados Unidos, agora o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu que o governo não entendeu a dimensão do problema do vírus nas "primeiras semanas e meses" do surto no Reino Unido.
Os dois líderes demonstraram ceticismo em relação à gravidade da pandemia em seu início.
O primeiro-ministro disse à editora de política da BBC Laura Kuenssberg que havia "perguntas em aberto" sobre se a quarentena havia começado tarde demais.
Johnson também falou de "lições a serem aprendidas" e disse que os ministros poderiam ter feito algumas coisas "de maneira diferente".
O Partido Trabalhista, de oposição, acusou o governo de "lidar mal" com a crise.
Mais de 45.000 pessoas no Reino Unido morreram após testar positivos para coronavírus, mostram dados do governo, e há quase 300.000 casos confirmados.
Na semana passada, Johnson prometeu uma investigação "independente" sobre a pandemia, mas nenhum detalhe foi dado sobre seu escopo ou prazo.
Anteriormente, o primeiro-ministro disse que tomou as "decisões certas na hora certa", com base nos conselhos dos cientistas.
Mas, em uma entrevista com Laura Kuenssberg para marcar o fim de seu primeiro ano à frente do governo, ele disse: "Não entendemos [o vírus] da maneira que gostaríamos nas primeiras semanas e meses".
"Eu acho que, provavelmente, a única coisa que não vimos no início foi até que ponto ele estava sendo transmitido de forma assintomática de pessoa para pessoa".
O primeiro-ministro acrescentou: "Acho justo dizer que há coisas que precisamos aprender sobre como lidamos com coisas assim nos estágios iniciais... Haverá muitas oportunidades para aprender as lições do que aconteceu".
O Reino Unido entrou em confinamento total no final de março, o que, segundo os críticos, foi tarde demais e custou vidas.
Johnson disse: "Talvez houvesse coisas que poderíamos ter feito de maneira diferente e, claro, haverá tempo para entender o que exatamente poderíamos ter feito que não fizemos ou o que poderíamos ter feito de maneira diferente".
Ele acrescentou que essas ainda são "questões muito abertas no que diz respeito aos [cientistas], e obviamente haverá um tempo para considerar todas essas questões".
Na sexta-feira, o governo anunciou que 30 milhões de pessoas na Inglaterra receberiam uma vacina contra a gripe este ano, para reduzir a pressão sobre o NHS em caso de um aumento nas infecções por coronavírus durante o outono e o inverno.
Johnson disse que isso foi um acréscimo ao aumento de testes e rastreamento e mais compras de equipamentos de proteção individual, acrescentando: "O que as pessoas realmente querem agora é o que estamos fazendo para nos preparar para a próxima fase".
Ele disse: "Lamentamos cada um daqueles que perderam suas vidas e nossos pensamentos estão muito com eles e suas famílias. E eu assumo total responsabilidade por tudo o que o governo fez".
O primeiro-ministro, que chegou a ser internado numa UTI em abril após contrair o coronavírus, disse que "muito em breve" estabeleceria novas medidas para lidar com a obesidade, vistas como um fator de risco adicional para os pacientes.
'Dobrar a aposta'
Em dezembro, o Partido Conservador de Johnson conseguiu uma vitória convincente nas eleições gerais sobre o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn, depois de prometer "subir de nível" em todas as partes do Reino Unido.
E, apesar dos danos econômicos causados pelo coronavírus nos últimos quatro meses, o primeiro-ministro prometeu criar mais empregos de enfermeiros, médicos, funcionários de hospitais e policiais, dizendo que as prioridades de seu governo eram "exatamente as que sempre foram, mas mais intensas ainda".
"Dobramos a aposta. Os objetivos são os mesmos que quando eu estava nos degraus da Downing Street há um ano, mas queremos ir mais longe e queremos chegar lá mais rápido."
Johnson relembrou a primeira entrada na residência oficial como primeiro-ministro em 24 de julho de 2019, dizendo que "foi muito emocionante e todo mundo parecia estar de muito bom humor" e "feliz e otimista".
Ele acrescentou que o coronavírus causou muitas "dificuldades" desde então. "Psicologicamente tem sido um momento extraordinário para o país", disse Johnson, "mas também sei que esta é uma nação com incrível resiliência natural, força e imaginação. E acho que vamos nos recuperar e sair mais fortes do que nunca."
Jonathan Ashworth, que lida com assuntos de saúde na oposição, o Partido Trabalhista, disse: "Boris Johnson finalmente admitiu que o governo lidou mal com sua resposta ao coronavírus. Demorou para reconhecer a ameaça do vírus, para entrar em quarentena e para levar a sério a crise".
A ameaça de uma segunda onda de infecções "ainda é muito real", acrescentou, embora seja "essencial que o governo aprenda as lições de seus erros para que possamos ajudar a salvar vidas".
O líder interino do Partido Liberal Democrata, Sir Ed Davey, disse que um inquérito "imediato" sobre a situação do coronavírus era "essencial" e que o primeiro ministro não demonstrou "nenhum remorso" por seus "erros catastróficos".