Putin diz aceitar cessar-fogo com Ucrânia, mas quer discutir termos com EUA
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quinta (13/3) que o país concordou com um cessar-fogo na Ucrânia, mas que isso deve levar a uma 'paz duradoura e remover as causas subjacentes desta crise'
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse na quinta (13/3) que o país concordou com um cessar-fogo na Ucrânia, mas que um acordo deve levar a uma "paz duradoura e remover as causas subjacentes desta crise".
Os dois países estão em guerra há três anos, desde fevereiro de 2022, mas a Rússia já havia tomado territórios ucranianos em 2014.
A Ucrânia já havia aceitado, na terça (11/3) o cessar-fogo proposto pelos EUA após a forte pressão exercida pelo país. Além de congelar a ajuda militar à Ucrânia, Trump bateu boca no fim de fevereiro com Zelensky, que era seu convidado na Casa Branca, em um episódio inédito.
Trump chegou a acusar o presidente ucraniano de "não estar pronto para a paz".
Putin ainda não havia se pronunciado publicamente sobre a proposta de cessar-fogo. Nesta quinta, em uma coletiva de imprensa ao lado do líder de Belarus, Alexander Lukashenko, Putin afirmou que "seria bom" para a Ucrânia obter um cessar-fogo de 30 dias, que a Rússia é "a favor disso", mas que existem "nuances".
"Se cessarmos as hostilidades... o que isso significaria? Quem dará ordens para cessar as hostilidades?", afirmou Putin.
Ele questionou quem decidiria sobre uma "violação do possível acordo de cessar-fogo" que pudesse ocorrer ao longo de 2.000 km — possivelmente se referindo ao comprimento da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia.
"Todas essas questões precisam ser estudadas meticulosamente por ambos os lados", disse Putin, acrescentando que a ideia de um cessar-fogo é "boa e nós a apoiamos totalmente, mas há questões que precisamos discutir".
A coletiva, que teve presença da mídia russa autorizada pelo Kremlin, foi realizada após a ida do representante americano Steve Witkoff para Moscou justamente para negociar o assunto.
Anteriormente, o Kremlin havia dito que estava no estágio final da operação para expulsar a Ucrânia do território que tomou em Kursk.
Na noite desta quinta-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, classificou a reação de Putin à proposta de cessar-fogo como "manipuladora".
"O que ouvimos da Rússia são palavras muito previsíveis e muito manipuladoras de Putin", disse Zelensky em um vídeo.
"Na prática, ele está preparando uma rejeição."
"É claro que Putin tem medo de dizer diretamente a Trump que ele quer continuar esta guerra, que ele quer continuar matando ucranianos."
"É por isso que Moscou limita a ideia de um cessar-fogo com precondições que não tornarão nada possível, ou a tornarão impossível por mais tempo."
'Causas subjacentes'
Para o editor de Rússia da BBC Monitoring, Vitaliy Shevchenko, a fala de Putin é um "não" disfarçado de "sim", e não há surpresas nessa postura.
"Putin apresentou condições que serão devastadoras para a Ucrânia", diz Shevchenko.
"Fim do fornecimento de armas, fim da mobilização, rendição em vez de retirada das tropas ucranianas na região de Kursk e, mais importante, a remoção das 'causas subjacentes desta crise'."
A história recente sugere que, para o presidente Putin, essas "causas subjacentes" incluem a própria existência da Ucrânia como um Estado soberano, livre para administrar sua própria política e a política externa, afirma Shevchenko.
O correspondente da BBC na América do Norte Tom Bateman afirma que Putin parece ter identificado as fraquezas na proposta de cessar-fogo americana e está explorando-as de forma característica.
"O que o líder russo está dizendo é que não é possível ter um cessar-fogo 'imediato' sem primeiro concordar com os termos; derrubando a demanda de Trump por uma trégua primeiro e conversas depois", afirma Bateman.
"Ele está dizendo que aceita o princípio do fim da guerra para tentar evitar a acusação de ser o sabotador. Mas ele quer dizer um cessar-fogo em seus termos, então ele está jogando uma série de perguntas de volta para Trump sobre a natureza da trégua proposta, particularmente em torno de qualquer retirada de tropas ucranianas."
Reunião da Otan
O presidente americano, Donald Trump, reuniu-se nesta quinta com Mark Rutte, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar entre Europa e EUA.
Trump afirmou que "as coisas estão indo bem na Rússia" em meio ao que ele chamou de "discussões muito sérias com Putin e outros".
Ele disse, no entanto, que a declaração de Putin na coletiva de imprensa em Moscou estava "incompleta".
Afirmou também que já estava discutindo detalhes com a Ucrânia, incluindo o domínio sobre certas regiões e uma "grande" usina de energia, mas não mencionou detalhes.
O americano acrescentou: "Espero que eles [a Rússia] façam a coisa certa."
O assunto é uma pauta central para Trump, que prometeu durante sua campanha à presidência que daria "um fim" à guerra da Ucrânia.
Além de pressionar a Ucrânia, o presidente americano tem sido insistente com Moscou — ele havia dito na semana passada que estava considerando impor mais sanções ao país se não chegassem a um acordo de paz.
Durante a reunião com Rutte, Trump também disse que "adoraria" se encontrar com Putin, mas que a questão teria que ser resolvida logo.
"A guerra na Ucrânia tem um custo enorme para os EUA e outros países", afirmou Trump.
O presidente americano afirmou que "todo mundo sabe qual é a resposta" para a possibilidade da Ucrânia se juntar à Otan — ele já disse no passado que é contra a entrada do país na aliança.
Questionado sobre um acordo que pretende dar aos EUA acesso a minerais raros da Ucrânia, Trump disse que seu objetivo não é apenas obter algo em troca da ajuda financeira ao país, mas "parar a guerra".
Do front: soldados não acreditam que guerra vá parar
Jonathan Beale, enviado da BBC à Ucrânia, relata que, enquanto Moscou dá entrevistas sobre possível cessar-fogo, sua máquina militar continua pressionando a Ucrânia na linha de frente da guerra.
"Negociações diplomáticas podem ser lentas e difíceis. Mas no campo de batalha, elas podem ser medidas em vidas perdidas", escreveu Beale.
Em um hospital militar no leste da Ucrânia, os feridos chegam de ambulância em ondas — há uma desconexão óbvia entre a diplomacia acontecendo, longe da luta, e a brutalidade da batalha, onde corpos humanos ainda estão sendo esmagados, retalhados e marcados por bombas e balas.
Beale testemunhou mais duas dúzias de soldados ucranianos feridos sendo carregados em um ônibus para serem levados a um hospital em Dnipro — alguns feridos caminhando, outros carregados em macas.
Os homens a bordo são os menos gravemente feridos. A maioria foi atingida por estilhaços. A causa geralmente é o que agora é a arma mais prolífica e temida na linha de frente: drones.
"Nenhum dos soldados com quem conversamos acredita que esta guerra acabará tão cedo", afirmou o correspondente.
