Quais são as poderosas armas de que dispõem os atores-chave do conflito na Síria
Ataque realizado no fim de semana por EUA, França e Reino Unido sobre a Síria abriu a possibilidade de uma escalada entre as potências ocidentais e a Rússia; saiba o que cada um desses países mantêm em seu arsenal na região.
O bombardeio por parte dos Estados Unidos e de seus aliados, França e Reino Unido, a vários pontos estratégicos do governo de Bashar al-Assad na Síria, no fim de semana passado, aumentou o clima de tensão que existe entorno desse país entre Rússia e essas potências do Ocidente.
Essa ação foi uma resposta ao suposto ataque com armas químicas a Douma, cidade nos arredores de Damasco, cuja autoria tanto o presidente francês, Emmanuel Macron, quanto a primeira-ministra britânica, Theresa May, atribuíram ao regime de Assad.
A ameaça de bombardeio iminente feita por Donald Trump na semana anterior já havia criado uma enorme tensão política e militar devido ao apoio do presidente russo, Vladimir Putin, ao governo sírio.
Depois do ataque, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse à BBC que a situação entre Moscou e as potências ocidentais está pior do que aquela vivenciada durante a Guerra Fria.
A situação está longe de ser resolvida - não se pode afastar o risco de uma escalada. Cabe então saber: quais são as armas conhecidas de que dispõem os principais atores desse ambiente de tensão?
Estados Unidos: orçamento de defesa de US$ 600 bilhões
No bombardeio à Síria no fim de semana, os Estados Unidos usaram vários de seus navios de guerra localizados no Mar Vermelho, no Golfo Pérsico e no Mediterrâneo oriental.
Entre eles estavam o USS Monterrey, o USS Laboon, o USS Higgins e o submarino USS John Warner. Além disso, Washington conta em seu arsenal com o destróier USS Donald Cook, um tipo de navio de guerra concebido para escoltar navios maiores e defendê-los contra agressores.
Há um ano, foram exatamente dois destróieres da Marinha americana no Mediterrâneo que lançaram 59 mísseis Tomahawk contra a base aérea síria Al Shayrat, localizada na província de Homs.
Washington afirmou que essas instalações serviram para armazenar armas químicas usadas no ataque contra uma cidade naquela província, controlada por opositores do governo do presidente Bashar al-Assad, apenas 72 horas antes.
Devido ao seu design e capacidade de voar em baixa altitude, os Tomahawks usados são muito difíceis de detectar. Além disso, emitem pouco calor e por isso não podem ser descobertos por sistemas infravermelhos.
Uma porta-voz do Pentágono disse que, durante o ataque do último fim de semana, forças americanas, francesas e britânicas dispararam 105 mísseis e que todos atingiram o alvo - algo que a Rússia e a Síria negam. De qualquer forma, muitos desses mísseis eram Tomahawk.
Os Estados Unidos também possuem uma grande frota de caças-bombardeiros em seus porta-aviões no Golfo Pérsico. São aviões capazes de cumprir tanto missões de interceptação e combate aéreo como também de realizar ataques com bombas e/ou foguetes a alvos terrestres.
Segundo o Pentágono, dois aviões Lancer B-1 dispararam mísseis ar-terra durante o bombardeio.
A maior base militar dos EUA no Oriente Médio está no Catar, onde há caças F-16 e aviões A10, que podem entrar em ação com relativa rapidez.
O F-16 é conhecido por ser um dos aviões de guerra mais confiáveis e eficazes do mundo. Tem um alcance de cerca de 3.220 quilômetros, o que permite a ele permanecer em zonas de combate por mais tempo que outras aeronaves.
Os Estados Unidos também dispõem de bombardeiros B-52, que em outras ocasiões foram usados para atacar alvos na região.
Em Kobane, pequena cidade curda no norte da Síria, Washington usou uma base aérea para levar equipamentos e tropas a bordo dos aviões de transporte militar C130 e C17, que são grandes o suficiente para carregar pequenos aviões e helicópteros em seu interior.
Rússia: orçamento de defesa de US$ 69 bilhões
O aviso da Rússia de que iria responder a qualquer ataque dos Estados Unidos colocou em dúvida se seu avançado sistema antiaéreo S-400, ainda que não testado, poderia ser usado em um confronto.
Ele foi implantado na Síria depois que um caça russo foi abatido ali, mas até agora só havia servido como instrumento de dissuasão.
O Pentágono afirma que não há elementos que sugiram que as defesas antiaéreas russas tenham sido usadas no fim de semana.
No entanto, o Ministério da Defesa da Rússia disse que a Síria conseguiu derrubar 71 dos 103 mísseis disparados pelas potências ocidentais.
O S-400 pode lançar três tipos de mísseis e diz-se que é capaz de enfrentar todos os alvos aéreos, incluindo aviões e mísseis, com velocidade e eficiência notáveis, em um raio de 400 km - o que, em essência, permitiria dar cobertura à maior parte da Síria.
Moscou assegura que o sistema tem grandes capacidades para derrubar até mesmo os chamados aviões "invisíveis", cuja tecnologia os torna indetectáveis por radar.
Detectar objetos, avaliar potenciais ameaças e lançar mísseis para destruir mísseis estão entre suas funcionalidades. O sistema pode guiar até 12 mísseis simultaneamente e perseguir até seis alvos ao mesmo tempo.
Martin S Navias, do Departamento de Estudos de Guerra da universidade King's College, de Londres, explica que os ataques aéreos geralmente buscam neutralizar as defesas terra-ar de um país, mas, nesse caso, o sistema russo representa um obstáculo.
O alcance do S-400 se estende além do espaço aéreo da Síria, o que significa que os alvos podem ser abatidos antes mesmo de entrar no território sírio. No entanto, alguns analistas questionam as capacidades de interceptação desse sistema russo.
Moscou também tem vários tipos de aeronaves na Síria: os bombardeiros Sukhoi-24, os Sukhoi-25, caças polivalentes, aviões de transporte, navios de espionagem e helicópteros de combate.
Muitos deles estão ou foram estacionados na base aérea de Hmeymim, de onde a Rússia lança seus ataques contra os grupos rebeldes sírios.
O Kremlin disse no passado que usou o submarino Rostov-on-Don, a partir do Mediterrâneo, para lançar mísseis Kalibr contra alvos em território sírio.
Também disparou foguetes contra o grupo extremista autodenominado Estados Islâmicos a partir de navios de guerra localizados no mar Cáspio.
Reino Unido: orçamento de defesa de US$ 50 bilhões
Os britânicos mantêm aviões de combate em uma base em Chipre, que podem entrar em ação a qualquer momento.
Há no local oito aviões Tornado supersônicos. Ainda que se trate de um modelo que entrou em operação pela primeira vez em 1982, eles recentemente foram equipados com sistemas para o lançamento de mísseis de precisão.
O Ministério da Defesa britânico afirmou que quatro desses Tornados participaram do bombardeio à Síria no sábado passado.
Os caças-bombardeiros Typhoon também estão operando na região e serviram para realizar vários ataques no Iraque nos últimos anos. Estes navios lançam bombas guiadas por laser Paveway 4 e mísseis Brimstone.
O Reino Unido também possui uma frota de aviões não tripulados no Oriente Médio, incluindo dez drones Reaper, que foram usados para missões no Iraque e na Síria.
O MQ-9 Reaper é um drone capaz de subir até 15.240 metros e tem autonomia de voo de 1.850 km. Está equipado com mísseis Hellfire.
As aeronaves de vigilância Rivet Joint, que podem operar sob quaisquer condições climáticas, também estão prontas para ser usadas na região.
França: orçamento de defesa US$ 34 bilhões
No total, a França disparou doze mísseis no sábado passado. Além dos três de cruzeiros navais, os outros nove projéteis saíram de caças franceses, em uma ofensiva em que foram mobilizados cinco Rafale, quatro Mirages 2000-5, dois aviões de reconhecimento Awacs e cinco aviões de abastecimento que decolaram de bases na França.
O país colocou os caças-bombardeiros Mirage e Rafale em bases aéreas na Jordânia e nos Emirados Árabes Unidos.
Essas aeronaves, que podem portar bombas guiadas por laser de 250 quilos, foram usadas para atacar o Estado Islâmico na Síria e no Iraque.
Paris não poderá dispor de seu porta-aviões nuclear Charles de Gaulle, que havia sido enviado anteriormente à região, porque ele está em manutenção.
No entanto, a França tem marinheiros e aviadores a bordo do navio de Guerra Americano USS George H.W. Bush, que participa de missões de treinamento e operações conjuntas.
Síria: orçamento de defesa de US$ 2 bilhões
O sistema de defesa aérea da Síria foi duramente atingido pelos recentes ataques de Israel, mas continua sendo uma ameaça para qualquer avião de guerra, já que seus mísseis ainda são suficientemente rápidos para derrubá-los.
O sistema já costumava ser altamente capaz, composto principalmente de mísseis do tipo S-200, e foi recentemente atualizado para incluir armas russas como os foguetes SA-22 e SA-17.
O S-200 usam combustível líquido e estão projetados para voar a velocidades de até Mach 8, ou seja, até oito vezes mais rápido que a velocidade do som. Eles são guiados até o alvo por radar e, uma vez que o alcançam, detonam seus 217 kg de carga explosiva.
A Síria também dispõe de uma variedade de sofisticados sistemas de radares chineses.
Da Base Aérea de Shayrat - que tem duas pistas de pouso de 3 km de extensão, além de dezenas de hangares, edifícios e armazéns -, a Força Aérea da Síria opera seus caças-bombardeiros Su-22 e MiG-23.
No entanto, grande parte da frota é obsoleta e requer manutenção significativa para conservar sua capacidade ofensiva.
Segundo as autoridades russas, para enfrentar o bombardeio do fim de semana, as forças sírias usaram sistemas de mísseis antiaéreos S-125, S-200, Buk e Kvadrat.
Elas asseguraram que esses sistemas, por exemplo, teriam permitido a interceptação de 12 mísseis de cruzeiro disparados pelas potências ocidentais contra o aeroporto militar sírio de Al Dumayr, segundo o site de notícias estatal russo Sputnik.