Qual a capacidade militar da Coreia do Norte para além das armas nucleares, e que estragos causaria numa guerra?
Analista da BBC diz que, apesar de possuir mísseis - possivelmente nucleares -, forças especiais altamente treinadas, armas químicas e até capacidade para ataques cibernéticos, país está em grande desvantagem contra EUA.
A Coreia do Norte é um Estado isolado, empobrecido, mas altamente militarizado. Seus líderes têm um objetivo principal: a sobrevivência. É por isso que o país investiu pesado em seu programa nuclear e de mísseis, como uma apólice de seguro definitiva para o regime.
Qualquer uso de sua capacidade nuclear seria catastrófica - especialmente para a própria Coreia do Norte. O regime não sobreviveria a um conflito.
Mas essa perspectiva tenebrosa não é necessariamente a preocupação imediata. E, sim, a ameaça de que a crescente guerra verbal entre Washington e Pyongyang passe de retórica para realidade.
A Coreia do Norte é um país que recorreu alguma vezes ao uso da força no passado e poderia fazê-lo novamente. Em março de 2010, acredita-se que o país tenha afundado um pequeno navio de guerra sul-coreano. No mesmo ano, sua artilharia bombardeou uma ilha sul-coreana e, se a crise atual se mantiver em ebulição, é provável que a Coreia do Sul seja um dos alvos da ira do norte.
O Exército da Coreia do Norte tem vantagem numérica sobre as tropas do sul e está baseado perto da Zona Desmilitarizada (DMZ, na sigla em inglês), que marca a fronteira entre as duas Coreias. É sugerido com frequencia que as forças de artilharia e os mísseis (maior trunfo) da Coreia do Norte poderiam arrasar Seul, capital sul-coreana, em apenas algumas horas após o início de um conflito.
Mas, na verdade, não é bem assim. Seul fica a cerca de 40 quilômetros da DMZ e só pode ser atingida pelas peças de artilharia de maior alcance da Coreia do Norte. Um disparo revelaria a posição dos norte-coreanos - muitos não têm grande mobilidade -, deixando-os vulneráveis a ataques do sul.
Já a Coreia do Sul tem, de longe, vantagem qualitativa e é respaldada pelo vasto poder de ataque do Exército dos Estados Unidos. Qualquer reprise da Guerra da Coreia - conflito armado que começou quando a Coreia do Norte invade o Sul em 1950 - resultaria em um grande número de vítimas civis (certamente muitos estudantes e empresários chineses que moram em Seul), mas acabaria inevitavelmente em tragédia para o regime norte-coreano.
Por sorte, uma segunda edição desta guerra é pouco provável. Mas o perigo é que o Norte pretenda usar suas forças militares para provocações ou outras estratégias que possam precipitar um conflito mais generalizado.
Independentemente do alcance de suas forças de artilharia e mísseis, o Norte possui um vasto arsenal químico. Também pode ter armas biológicas. E tem um grande número de forças especiais altamente treinadas e unidades destinadas a se infiltrar no sul. Está desenvolvendo ainda capacidade para ataque cibernético.
Sendo assim, há muitos meios pelos quais o país pode lançar uma ofensiva militar. Mas qualquer ataque contra os EUA ou seus aliados no contexto atual põe em risco uma guerra mais generalizada. E assumindo que o regime de Pyongyang não é suicida - apesar de muitos argumentarem o contrário, este não é um regime irracional -, os líderes norte-coreanos devem estar cientes dos riscos que correm.
Do ponto de vista da Coreia do Norte, ter uma arma nuclear e capacidade para lançar mísseis balísticos intercontinentais que mantenha sob ameaça o território continental dos Estados Unidos, é inteiramente racional. A queda das ditaduras no Iraque e na Líbia, argumentariam os norte-coreanos, foi em grande parte porque os dois países não recorreram à arma derradeira.
Arriscar uma guerra total com os Estados Unidos, que só poderia terminar com o fim do regime, não faz sentido. Qualquer guerra na península coreana colocaria Washington em vantagem. As forças norte-coreanas seriam canalizadas para o sul com avanço limitado, devido à topografia da região, e o Pentágono poderia empregar estratégias clássicas de batalha por ar e terra para derrotá-los.
Essa guerra é, no entanto, impensável. Não é do interesse de nenhum dos lados. O risco agora é inteiramente de mal-entendidos, erros de cálculo e ações tomadas com base em sinais retóricos atrapalhados e confusos. Os norte-coreanos costumam se comunicar em alto e bom som. Os EUA precisam agora ser cautelosos em relação ao tom de sua própria mensagem.