Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Qual é a estratégia de Trump ao matar Soleimani? Especialistas americanos respondem

Pessoas próximas à política externa dos EUA explicam o que acham que está por trás do ataque da semana passada e suas possíveis repercussões na política externa.

6 jan 2020 - 16h42
(atualizado em 7/1/2020 às 16h48)
Compartilhar
Exibir comentários
Trump ao lado do líder republicano no Senado, Mitch McConnell, nesta segunda-feira; ele prometeu reagir caso o Irã ataque alvos americanos
Trump ao lado do líder republicano no Senado, Mitch McConnell, nesta segunda-feira; ele prometeu reagir caso o Irã ataque alvos americanos
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A decisão do presidente americano, Donald Trump, de autorizar o ataque de drone que resultou na morte do general iraniano Qasem Soleimani, na quinta-feira (02), elevou as tensões entre EUA e Irã ao longo da última semana, com trocas de ameaças e outras declarações hostis de parte a parte.

Qual é a estratégia de Trump no longo prazo, e o que pode acontecer agora?

Uma das principais promessas de Trump na Presidência foi a de retirar as tropas americanas das "guerras intermináveis" no Oriente Médio.

Agora, essa promessa é colocada em xeque, enquanto o Irã promete "vingança severa" pela morte do segundo homem mais poderoso do país e o próprio Trump promete retaliar contra 52 possíveis alvos "importantes para o Irã e a cultura iraniana".

"Os EUA acabaram de gastar dois trilhões de dólares em equipamento militar. Somos os maiores e de longe os melhores do mundo", tuitou o presidente americano no domingo (05). "Se o Irã atacar uma base americana, ou qualquer americano, vamos mandar alguns desses belos novos equipamentos na direção deles... sem hesitar."

A seguir, três pessoas próximas à política externa americana explicam à BBC o que acham que motivou a decisão de Trump de matar Soleimani e quais as implicações disso para as relações iraniano-americanas no futuro próximo.

Short presentational grey line
Short presentational grey line
Foto: BBC News Brasil

'Trump não é um grande estrategista'

PJ Crowley, ex-secretário assistente de Estado sob o governo Barack Obama e autor do livro "Red Line: American Foreign Policy in a Time of Fractured Politics and Failing States" (em tradução livre, Linha Vermelha: Política Externa Americana em Tempos de Política Fraturada e Estados Falidos")

Por que agora?

Integrantes de milícia iraquiana caminham sobre foto de Trump em Bagdá nesta segunda-feira; decisão de matar Soleimani coloca em xeque promessa de sair do Oriente Médio
Integrantes de milícia iraquiana caminham sobre foto de Trump em Bagdá nesta segunda-feira; decisão de matar Soleimani coloca em xeque promessa de sair do Oriente Médio
Foto: AFP / BBC News Brasil

Houve ataques pela milícia apoiada pelo Irã (ele se refere a ações, ao longo dos dois últimos meses, contra bases iraquianas que abrigavam tropas americanas no Iraque, além do ataque à embaixada americana no Iraque, no final de 2019) e as respostas contra instalações dessa milícia no Iraque e na Síria.

O governo Trump ficou surpreso com a magnitude do ataque contra a Embaixada em Bagdá, visto como uma escalada, e acreditou que Soleimani estava por trás disso. Apresentado com uma oportunidade de alvo, o presidente autorizou o ataque (contra o general).

Qual é a estratégia de Trump?

Donald Trump não é um grande estrategista. Ele vive no momento e age por instinto. Eu ficaria surpreso se ele tivesse pensado (no momento do ataque) sobre os desdobramentos.

Ele foi apresentado à oportunidade de eliminar um "homem mau", que Obama não teve. Provavelmente foi tudo o que ele precisou escutar.

O que acontece agora?

O Irã prometeu responder, e há muitos grupos próximos ao país que vão procurar oportunidades de atingir alvos pela região. Eles entendem o suficiente sobre política americana para saber que a chave para a reeleição de Trump é a economia. Se eles conseguirem abalá-la, o farão.

gráfico sobre a presença americana no Oriente Médio
gráfico sobre a presença americana no Oriente Médio
Foto: BBC News Brasil
Gráfico sobre bases americanas no Iraque
Gráfico sobre bases americanas no Iraque
Foto: BBC News Brasil

Na teoria, o objetivo final de Trump é forçar o Irã a voltar à mesa de negociações para obter um "acordo melhor", que leve em conta não apenas as ambições nuclerares iranianas, mas seu programa de mísseis e seu comportamento regional também (o Irã é conhecido por patrocinar milícias e grupos xiitas no Oriente Médio e por ter ajudado a defender o regime de Bashar al-Assad na Síria).

É implausível ver como isto (o assassinato de Soleimani) nos aproxima dessas negociações. O secretário de Estado (Mike) Pompeo está sonhando quando diz que nós (EUA) seremos amplamente aplaudidos na região. Seremos em Jerusalém e Riad (pelos governos israelense e saudita, adversários do Irã), mas o restante da região está apreensivo.

E a promessa de Trump de sair do Oriente Médio?

O presidente nunca resolveu a contradição inerente de sua política para o Irã. Ele quer exercer o máximo de pressão, enquanto tenta retirar os EUA da região.

Embora o presidente tenha consistentemente criticado as guerras do Oriente Médio, ele agiu (com a morte de Soleimani) de modo que, ao menos no curto prazo, aumenta o risco de que o atual conflito político-econômico entre Irã e EUA escale para uma guerra.

'Se o Irã atacar uma base americana, ou qualquer americano, vamos mandar alguns desses belos novos equipamentos na direção deles... sem hesitar', afirmou Trump via Twitter
'Se o Irã atacar uma base americana, ou qualquer americano, vamos mandar alguns desses belos novos equipamentos na direção deles... sem hesitar', afirmou Trump via Twitter
Foto: AFP / BBC News Brasil

'Política de castigo e recompensa'

William Tobey é senior fellow no Centro Belfer para Ciências e Assuntos Internacionais da Harvard Kennedy School, além de ex-vice-administrador de não proliferação nuclear da Agência de Segurança Nuclear dos EUA

Por que agora?

O "timing" provavelmente reflete o fato de que a campanha de pressão máxima tem sido surpreendentemente eficiente.

Teerã escolheu escalar (a rivalidade com os EUA) da dimensão econômica para a militar, primeiro com ataques contra navios petroleiros e instalações e, mais tarde, contra terceirizados (em referência à morte de um civil americano no Iraque, em ataque atribuído a milícias apoiadas pelo Irã, em dezembro).

É possível ver isso (a morte de Soleimani) como uma tentativa de interromoper essa escalada, de dizer a Teerã que isso não vai funcionar.

Qual é a estratégia de Trump?

Ele está tentando uma política complexa: tentar aplicar pressão o suficiente para que o Irã sinta que literalmente não tem escolha senão voltar à mesa de negociação e obter um acordo melhor. Ao mesmo tempo, a pressão não pode ser grande demais ao ponto de levar o Irã a desistir totalmente de negociar.

De certo modo, há (uma estratégia de) castigo — o ataque ao comboio de Soleimani — mas uma recompensa, com o presidente (Trump) dizendo: "Não quero ir para a guerra com o Irã".

Ele está tentando manter no ar a ideia de que não vê o conflito aberto como um caminho construtivo.

Houve protestos por Soleimani também fora no Irã, por exemplo no Iraque e no Paquistão (acima)
Houve protestos por Soleimani também fora no Irã, por exemplo no Iraque e no Paquistão (acima)
Foto: AFP / BBC News Brasil

O que acontece agora?

O Irã tem sofrido com a alta inflação e a desvalorização da sua moeda. Tendo lutado uma batalha perdida no front de sanções econômicas, o país decidiu abrir uma nova frente: de ataques militares. Acredito que países que sintam que estão sendo lesados ou atacados se vejam mais propensos a assumir riscos.

Com certeza estamos vendo uma alta tolerância a riscos pelo governo de Teerã. E suspeito que sua vontade de assumir mais riscos vai aumentar.

Então, a questão é: o que vai acabar primeiro, a campanha de pressão máxima ou a capacidade de Teerã para resistir?

'Trump foi encurralado'

Luke Coffey é diretor do Centro Allison de Política Internacional da Fundação Heritage, centro de estudos de orientação conservadora em Washington, e também um veterano do Exército americano e ex-conselheiro especial do Ministério da Defesa britânico.

Por que agora?

Acho que cada pessoa tem um limite. Quando olhamos tudo o que o Irã fez ao longo do último ano (...), me parece claro que o país estava tentando provocar algum tipo de resposta dos EUA.

Trump, por não ser muito intervencionista militarmente, estava tentando evitar essa situação. Suspeito que ele tenha sido apresentado a essa opção (de matar Soleimani) antes e tenha rejeitado, mas na última semana pode ter decidido que chegou ao seu limite.

Ele continua a dizer que quer um acordo negociado com o Irã, sem precondições para as conversas. Trump chegou a um ponto em que tinha de revidar.

Qual é a estratégia de Trump?

A campanha de pressão máxima é a estratégia — o governo tem sido muito consistente nisso.

Trump mostrou que está tentando levar os iranianos de volta à mesa de negociações, e acho que está tentando fazê-lo com o mínimo possível de ação militar.

Acho que Trump de fato vê a si mesmo como um grande negociador e queria ser a pessoa a fazer esse acordo, mas foi encurralado porque o Irã continuava a aumentar sua pressão.

Iraniana com foto de Soleimani; general era o segundo homem mais poderoso do Irã
Iraniana com foto de Soleimani; general era o segundo homem mais poderoso do Irã
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Você não acorda um dia e simplesmente decide matar Qasem Soleimani. Foi preciso planejamento entre diferentes setores de governo e militares para monitorar seu paradeiro e identificar janelas de oportunidade.

Não podemos esquecer que Soleimani era um combatente dentro de uma zona de combate. Sem dúvida que, se os iranianos tivessem a oportunidade de eliminar alguém similar dos EUA, o fariam.

Isso é parte do ritmo do conflito em que estamos presos no Oriente Médio. Não acho que isso vai escalar até se tornar a Terceira Guerra Mundial.

O que acontece agora?

O Irã certamente não vai voltar à mesa de negociações agora.

Isso não era um motivo para não fazer o ataque — falando francamente, Soleimani teve o que mereceu. Ele tem o sangue de soldados americanos nas mãos e aterrorizou grande parte do Oriente Médio por mais de uma década. Só porque Trump quer negociar com o Irã não significa que ele não deveria eliminar Soleimani.

Não acho que ele agiu pensando em política; acho que ele queria evitar essa situação, ou teria feito isso (o ataque) antes. Mas, politicamente falando, isso faz ele parecer como um líder mais forte entre seus apoiadores.

E a promessa de Trump de sair do Oriente Médio?

Trump mal gosta de ter tropas americanas na Alemanha, então a ideia de que Trump enviará tropas para o Irã em um ano eleitoral é, para mim, inconcebível.

Mas ele também tem de mostrar que os EUA só aceitarão ser pressionados até determinado ponto.

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade